segunda-feira, março 06, 2017

Olhar Em Que Me Perco


Nos esteios do sangue e nas telúricas vozes
Que em nós habitam.
Nas profundas águas
E no altar das rochas
Tresmalhadas
No zénite do sol
E nos pomares e
Nos veios
Líquidos.

E nos cheiros da terra lavrada
E nas marcas da vara tempo
E nos nossos rios.

E nos lábios ressequidos
E na sede de mil anos
A acicatar os passos.

E nos lutos. E no silêncio dos sinos.
E no estrondo das festas
E nos arraiais festivos
E nas antigas
Danças.

E no corpete das raparigas
E nos lenços bordados
E nas gargalhadas
E nas brigas.
E nos dias ardidos
E naqueles outros pregoeiros

Te nomeio, Terra, Língua, Mátria
E te venero
E te guardo
E te digo

Gesto em que me rendo
E me entrego
deslasso
Meu olhar
Altivo.

Manuel Veiga




11 comentários:

deep disse...

Vivemos nas e para as pequenas coisas que, afinal, se revelam grandes. :)

Belíssimo retrato de vida este.

Boa semana. Beijo

Graça Pires disse...

Fantástico, meu amigo, este teu poema em que convocas todas as "paisagens" invadidas, submersas e iluminadas por tantas as emoções.
Uma boa semana.
Um beijo.

LuísM Castanheira disse...

Sei todos os teus nomes
Esses, desde as origens
Que a Terra e os Homens
Te deram. E és onde hábito
A minha Festa e o meu Vinho:
Pátria, Mátria, Povo, Chão!

Belo poema de evocação ao olhar e a ele e com ele, bebo um copo, na companhia da Brigada...

Um abraço, Amigo Manuel

Rogério G.V. Pereira disse...

E perdendo-nos
nos reencontramos

por amor a este chão
meu irmão

Teresa Almeida disse...

Que ritmo! Ergue-se o poeta desde a profundidade das águas aos altares das rochas tresmalhadas. E a voz é eco da terra, da gente, da festa e do dobrar dos sinos.
Rendo-me à força do poema.
Beijinho.

manuela barroso disse...

Um hino à harmonia deste planeta maltratado cuja beleza é ofuscada pela pressa dos dias . Não se vê. Olha- se. Mas aqui tudo se rende à força do poema . Belo !
Beijo !

Agostinho disse...

Numa bebedeira de imagens
alinhas na volúpia.
Voas na vertigem da dança.
E quando a língua se solta
em promessas soltam-se e ardem
versos na ara da poesia,
perante os devotos da crença.

Abraço.

Odete Ferreira disse...

A emoção. meu amigo, a emoção mais pura é esta que, "tresmalhada" busca a terra, o seu húmus, a sua identidade.
Sei bem deste (teu) olhar!
E sei muito bem desta mestria que te corre líquida.
Como rio, em todo o poema!
Saio, emudecida.
Bjo, Manuel

Suzete Brainer disse...

Poema muito belo, Manuel,
uma louvação de sentires à Pátria-Mátria.
A partilha do caminho do olhar do poeta
na emoção no toque a cada imagem colhida...

beijo.

maceta disse...

tão etéreo e misterioso o pensamento...

Graça Alves disse...

Que maravilha, que bela homenagem à Terra-Pátria-Mãe e a tudo o que convoca...
Bj

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