domingo, outubro 29, 2017

Apenas a Curva da Tarde....


Nada. Absolutamente nada
Na vibração da tarde. Apenas o caprichoso melro
A saltitar de galho em galho
E um rio cá dentro...

E o céu a abrir-se na miragem
E o assédio da ave…

E o queixume do cello a lamber o ar…

Nada. Absolutamente nada!
Apenas curva da tarde a arder em febre
De lume e mar…


Manuel Veiga

14 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Espetacular interpretação, triste, mas de uma beleza ímpar.
Gosto dos acordes desse instrumento, do violoncelo.
Beijo, uma feliz semana, amigo Manuel.

Tais Luso de Carvalho disse...

Essa descrição do poema tão única, apenas a natureza e suas cores lindas, transmitem uma paz por vezes muito desejada por todos. Nada mais, absolutamente nada. Talvez um violoncelo destilando seus acordes tristonhos.
Muito bonito, Manuel!

*Desculpa, pensei que o poema estivesse separado em outra janela de comentário!
Beijo.

LuísM Castanheira disse...

na tarde que se faz
harmoniosa
tudo é paz
tudo, menos a melra
escondida
à espera...

e o poeta
tem um jardim.

belo e simples, caro amigo

um abraço, MV

Graça Sampaio disse...

Pressente-se em cada palavra a lava desse rio interior.

Muito bom!

Beijinho.

manuela barroso disse...

Um imenso Nada no rio que afoga o belo na "única" perfeição da curva.
Tanto!
beijinho, Manuel

José Carlos Sant Anna disse...

Percebo pelo tom, meu caro amigo, que não é mais feliz quem descobre um melro no jardim e ainda dispõe de um cello na curva da tarde em direção à realidade poética. Mas não deixe que o chão se evapore...
Um forte abraço,

Armando Sena disse...

Um nada contendo tudo.
Um belo texto.
ab

Teresa Almeida disse...

O violoncelo interpreta a curva da tarde e a poesia seduz de galho em galho.
Um poema que incendeia.

Beijinho, Manuel.

Graça Pires disse...

Senti o assédio das aves e ouvi "o queixume do cello a lamber o ar".
Maravilhoso, meu Amigo!

Ana Freire disse...

Belíssimo e intenso poema, Manuel... onde uma grande paixão, se adivinha e se desenha no fervor das palavras... no limite... pela vida em si mesmo...
Um daqueles nadas... plenos de tudo!... Que nos surgem... do nada... como uma revelação...
Beijinho
Ana

Agostinho disse...

"E um rio cá dentro"
"E o assédio da ave" a roçar a corda num preguiçar langoroso.
Não me surpreende a ponta febril.
Pois.

No perfume habitual, um poema brilhante.

Grande abraço.

São disse...

Um poema em que se sente a tensão interior, um vulcão em pré-erupção.

Beijinho e bom final de semana :)

Odete Ferreira disse...

Este poema é o "Tudo" por oposição ao "Nada" que o sujeito poético só aparentemente ignora. E o sublime é precisamente a forma como os referentes são referidos para a exaltação interior.
Belíssimo!
Bj, Manuel
(Demoro-me e talvez me demore ainda mais, na visita aos (poucos) blogues que sigo; chamam-me afetos e projetos)

Suzete Brainer disse...

Quando existe "um rio cá dentro...", a poesia
transborda a transcender o Nada num Todo de
um grande sentir, a se estender em voo, na curva
do tempo, numa tarde, no respirar do cello na
melodia da vida neste nada, neste todo em
poesia que vibra!!...

Belíssimo, Poeta.
Beijo, Manuel.

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