quinta-feira, setembro 13, 2018

SEM GRAMÁTICA....


Tomba a palavra como gota
Na inocência da escrita.
E alastra liquefeita
Água ainda…

Agora feita narrativa
A dizer-se plana e alagar-se
Sílaba a sílaba

E a desdobrar-se
Métrica. E sem gramática
A desenhar-se
Gráfica.

E a erguer-se
Fecunda. E a diluir-se
Golpe de asa.

No azul desmedido
Do poema…

Manuel Veiga


9 comentários:

Agostinho disse...

Gostei de ver o poema crescer
gota a gota a invadir níveos
os campos semeados
o emergir do fruto,
a palavra essa telúrica força intacta donde nascem as coisas.
Tão natural, este suor
agramatical.

Abraço, MV.

Larissa Santos disse...

Gostei;))

Hoje » A vida é um trem.

Bjos
Votos de uma óptima Noite.

Graça Sampaio disse...

Lindo de mais!!!
Quase se sentem as palavras a pingar sílaba a sílaba...

Poema líquido!

Teresa Almeida disse...

Manuel, meu amigo, parece que cavas, plantas e colhes. A palavra ergue-se, assim, na plenitude do poema. Este deslumbra-me.

Beijo

Emília Pinto disse...

Quando vi este titulo lembrei-me de Cora Coralina ( começar de novo) que disse numa entrevista dada que só viu uma gramática quando os filhos começaram o ginásio ( depois da primária ) Ela começou a escrever cedo, mas só tinha a 4a classe e portanto, como pessoa simples que era, nāo tinha este livro tão importante para todas as linguas. Mas depressa a abandou , disse esta grande senhora; não precisava dela ...as palavras saiam-lhe do coração ", tombavam gota a gota na inocência da sua escrita " e " alastravam fecundas " pelo papel , " silaba a silaba ", decrevendo o que lhe ia na alma e que precisava de transmitir aos outros. Gosto de palavras, Manuel, muito, mas usei gramática e precisei muito dela; talvez ainda precise...não sou Cora Coralina, não sou também Manuel Veiga que tão bem trabalha a palavra, desdobrando-a, moldando-a, desenhando-a, livremente, a seu bel-prazer, deixando na estante a gramática com as suas regras e excepções E, sem gramatica, aqui as palavras saem livres construindo maravilhas, sejam elas narrativas ou belos poemas. Que assim continues, caro amigo, para delicia de todos nós; se pegares a gramática com certeza não nos incomodaremos; pormenor que não interessa.
Obrigada e bom fim de semana. Um beijinho
Emilia
Emilia

LuísM Castanheira disse...

as tintas com que constroem brancos espaços. e do Poeta a criação.
belo e simples, saído dum sublime tinteiro.
um abraço, caro Amigo MV.

Manuel Veiga disse...

"sublime tinteiro", caro Amigo LuísM?
mas o que que sai de meu "sublime tinteiro" é impublicável ...

andas a tresler? só pode...
cuida-te. por menos há quem tivesse ficado internado toda a vida...

Jaime Portela disse...

Um desmedido poema... de qualidade.
Excelente.
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Beijo.

Marta Vinhais disse...

Primeiro escreve-se na alma e só depois se traça as palavras... Lê-se, ama-se, detesta-se, mas temos que o sentir....
Lindo....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...