Quando um dia for poeta quero ser
Poeta – porém, poeta “insurgente”
E mergulhar em seus abismos.
Então meus dedos hão-de acirrar os ventos
E serei hóspede de infinitas tempestades
E criarei inimizades. (Que meus amigos
De mim sabem. E assim me querem
Desabrido.)
E serei aquele cego das esquinas.
A tocar concertina e exibir fístulas.
E arremedar jaculatórias piedosas. E sem rima.
E a piscar – brejeiro - o olho.
E a apalpar meninas - desprevenidas –
Está mais que visto!...
E a fazer grosso manguito à moeda
Que lhe atiram…
Meus versos então hão-de arder – vivos.
Ou rasgados. Ou serem papel nas latrinas.
Mas nunca terão barbas.
E metáforas serão poucas.
E hei-de rir com meus botões.
Até que os cães acirrados
Se cansem de rosnar à toa
Tão frustrados quanto o dono
A ladrarem à lua e a correrem
Atrás da sombra. Perdidos.
Manuel Veiga
(poema editado)
5 comentários:
Voz insurgente que vibra nos ecos dos versos e espalham sons de trovões ...e correm, soltos, sem temer as tempestades...rebeldia de poeta para a ardência dos caminhos...
Beijo,
Genny
Vejo aqui o Poeta a envolver o mundo num amplexo de gigante, num desejo imenso de expurgá-lo das suas misérias. A "insurgência" das suas palavras desabridas, quase apocalípticas, cumpre um papel que me recorda Ovídio Martins, o poeta-combatente, que considera que "O Único Impossível" é a pretensão de que um Poeta se cale:
"(...)
Mordaças...
A um poeta?
Não me façam rir!...
Experimentem primeiro
Deixar de respirar
Ou rimar...
mordaças
Com liberdade."
Abraço
Olinda
Que poema bonito :))
DO NOSSO GIL AMIGO ANTÓNIO-Lágrimas de amor
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.
rssss, meu amigo Manuel, você sempre surpreende, esse poema está ótimo, com uma boa pitada de pimenta e outros temperos necessários que deixaram o poeta leve e revoltado, rss.
Gostei demais!
Uma ótima, mas tranquila semana!
beijo
Mais do que dar uma volta
ao bilhar grande ou dos tristes
o Poeta a afirma-se insurgente
de faca afiada para a revolta
pela arte da provocação
Poema forte e descabelado como convém.
Abraço.
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