terça-feira, junho 11, 2019

Poema "Insurgente" ,,,


Quando um dia for poeta quero ser
Poeta – porém, poeta “insurgente”
E mergulhar em seus abismos.

Então meus dedos hão-de acirrar os ventos
E serei hóspede de infinitas tempestades
E criarei inimizades. (Que meus amigos
De mim sabem. E assim me querem
Desabrido.)

E serei aquele cego das esquinas.
A tocar concertina e exibir fístulas.
E arremedar jaculatórias piedosas. E sem rima.
E a piscar – brejeiro - o olho.
E a apalpar meninas - desprevenidas –
Está mais que visto!...

E a fazer grosso manguito à moeda
Que lhe atiram…

Meus versos então hão-de arder – vivos.
Ou rasgados. Ou serem papel nas latrinas.
Mas nunca terão barbas.
E metáforas serão poucas.

E hei-de rir com meus botões.
Até que os cães acirrados
Se cansem de rosnar à toa
Tão frustrados quanto o dono
A ladrarem à lua e a correrem
Atrás da sombra. Perdidos.

Manuel Veiga

(poema editado)



5 comentários:

Genny Xavier disse...

Voz insurgente que vibra nos ecos dos versos e espalham sons de trovões ...e correm, soltos, sem temer as tempestades...rebeldia de poeta para a ardência dos caminhos...

Beijo,
Genny

Olinda Melo disse...


Vejo aqui o Poeta a envolver o mundo num amplexo de gigante, num desejo imenso de expurgá-lo das suas misérias. A "insurgência" das suas palavras desabridas, quase apocalípticas, cumpre um papel que me recorda Ovídio Martins, o poeta-combatente, que considera que "O Único Impossível" é a pretensão de que um Poeta se cale:

"(...)

Mordaças...

A um poeta?

Não me façam rir!...

Experimentem primeiro

Deixar de respirar

Ou rimar...

mordaças

Com liberdade."

Abraço

Olinda

Larissa Santos disse...

Que poema bonito :))

DO NOSSO GIL AMIGO ANTÓNIO-Lágrimas de amor

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.

Tais Luso de Carvalho disse...

rssss, meu amigo Manuel, você sempre surpreende, esse poema está ótimo, com uma boa pitada de pimenta e outros temperos necessários que deixaram o poeta leve e revoltado, rss.
Gostei demais!
Uma ótima, mas tranquila semana!
beijo

Agostinho disse...

Mais do que dar uma volta
ao bilhar grande ou dos tristes
o Poeta a afirma-se insurgente
de faca afiada para a revolta
pela arte da provocação

Poema forte e descabelado como convém.
Abraço.

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