Gosto de histórias perversas. Ou se quiserem de histórias
sublimes, arrancadas ao luto da História, ou decifradas nas regiões ocultas do
coração humano, malditas tantas vezes, sofridas como gestos luminosos, a sublimar
o tempo futuro... E, nelas, a Mulher, exorcista do amor e transgressora da “norma” e dos “poderes” masculinos...
Mais não seja, que pela morte redentora. E pelo amor
como Utopia!
Ora, escutem então “ la Lai d´ Ignaure”,
a história da vida e da morte de um cavaleiro medieval e de seus amores...
"Ignaure, cavaleiro e poeta medieval, vive no castelo de Riol e apaixona-se, uma a uma, por doze senhoras casadas que também aí moram, com seus maridos. Amor era correspondido por todas elas, naturalmente, em segredo, desconhecendo, cada uma o nome do amante das restantes. Certo dia, as damas, desconfiadas da fidelidade do cavaleiro, resolvem jogar um jogo e escolhem uma, entre as doze, para fazer de padre a quem as restantes confessarão o nome do amante secreto. Uma após outra, pronunciam o nome do seu amado e todas nomeiam Ignaure. Descoberta a identidade do único amante secreto, as damas da corte decidem vingar-se e preparam uma armadilha para Ignaure.
Todas concordam em participar no que
se adivinha vir a ser uma vingança cruel e sangrenta. Por fim, chega o dia em
que Ignaure cai na armadilha e é cercado por doze mulheres em fúria, empunhando
facas afiadas.
Porém, graças ao seu belo porte e à
sua inteligência, Ignaure consegue escapar da morte. E conta a sua verdade. Confessa
amar, de igual modo, cada uma das doze damas e aceita escolher apenas uma
delas, única forma de salvar a vida. Ignaure escolhe a mulher que fez de padre,
a mesma aliás a propor o desfecho para o dilema.
Pouco tempo depois, um espião do
castelão descobre o segredo de Ignaure e conta a história aos maridos que, por
seu turno, decidem levar a cabo a sua própria vingança. Um dia, surpreendem
Ignaure com a dama que escolhera e prendem-no numa cela do castelo. Após
deliberação entre eles, os maridos decidem matar o amante, cozinhar e servir às
esposas o coração e o pénis de Ignaure.
Ao saberem do trágico destino do
amante, as mulheres, na sua dor, recusam-se a comer daí em diante e acabam
por morrer, balbuciando o doce nome do seu amado Ignaure.
Manuel
Veiga
.............................................................
.............................................................
Adaptação - In “História Perversa do
Coração Humano “ Milad Doueihi – Editora Terramar
Sem comentários:
Enviar um comentário