sábado, outubro 26, 2024

Em Nome do Pai. E Louvor Da Terra-Mãe


1.Sou este chão e esta mágoa

Caliça do tempo em redemoinho

A embargar os olhos gastos…

E, no entanto, a terra desmedida

Como quem acerta contas.

 

E o fio de água e os gretados lábios

E o rumor dos sonhos.

E os ecos.

E as maçãs emolduradas

 

E o fio de prumo

Em que me despenho

E inscrevo na incisão

Do sangue

 

Rito de passagem

Em que me digo filho e pai

E me acrescento

E sou o mesmo.

 

Terra minha

E o Mundo inteiro!...

 

2. Evoco os nomes e os gestos. E o tempo circular.

E os mistérios. E os murmúrios.

 

E o cirandar das mulheres. Tecedeiras. Sábias.

Sibilas. Herdeiras de outroras. E auroras.

A raiar tarefas. Lestas.

E a distribuírem o pão.

Por cabeça

 

E a canícula.

E a sesta.

E o benigno freixo…

 

E a ceifa. E o vinho, em círculo, de mão em mão

Servido. E de boca em boca sorvido.

E as gargantas ávidas.

E a revoada de tordos espantados.

Em meus olhos.

Agora húmidos.

 

E as jaculatórias. E as preces. E os cânticos.

E os sinos. E as festas. E o donaire das raparigas

E púberes seios em meus dedos

 

E a poeira dos caminhos

E fio invisível das coisas

Que religam. E tecem. E se intrometem

E nos guardam.

Bênçãos. Sejam!...

 

E o trilho de meus passos.

E a cavalgada dos sonhos. E os enganos.

E os fracassos. E as partidas. E os retornos.

E aquele abraço. Erguido do chão

Como quem aguenta todo o peso do Mundo.

Em seus braços…

 

3.E o nome do Pai. E em louvor da Terra-Mãe.

Evoco o gesto largo. E nobre.

De quem semeia

E pouco colhe.

 

Sou esta raiz. E esta sede

E o fio de água

E esta poeira

Calcinada…

 

 “Ecce Homo!…”


Manuel Veiga

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Em Nome do Pai. E Louvor Da Terra-Mãe

1.Sou este chão e esta mágoa Caliça do tempo em redemoinho A embargar os olhos gastos… E, no entanto, a terra desmedida Como quem ...