quarta-feira, outubro 31, 2018

Caminheiro Sem Pressa ...


Deixo que rios secos e tempestades de sons ausentes
Na memória de outros maios se inscrevam na saliva
Das palavras balbuciadas em que digo amor em fim de tarde.
E assim administrando amoras tardias em círculo de sol dos 
Lábios ciosos destes gestos que se derramam inesperados
Frutos desprendendo-se de maduros ou chuvas
Em deserto absorvidas.

Viajo caminheiro sem pressa recostado nas bermas
Celebrando as sombras e as festivas giestas outonais
Sorvendo o mel das silvas soltando revoadas
Tordos espantados que riscam o abismo dos olhos.

E ai me perco nessa voragem matizada de cores quentes
Nos odores persistentes na humidade translúcida dos beijos
Na generosidade dos seios no declive dos lábios e no cio
Das colheitas e na sofreguidão de cestos antes das uvas.

E nas ondas que arrebatam e na ferida aberta
E nesta lava e neste de lume que me consome
E nesta festa a explodir em pulsão de madrugada...


Manuel Veiga

(Poema editado)



9 comentários:

Larissa Santos disse...

Muito bem. Adorei o seu poema. Lindo mesmo :))

Festejem connosco, os: - "Doze meses de cumplicidade Poética.

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Agostinho disse...

Poema traçado com mão certeira
com afeição "sem pressa"
De vida inteira
depois da luta a recompensa
da cor da surpresa
a quem não tem pressa
Como o amor desperta no carreiro!

Abraço, MV.

Rogério G.V. Pereira disse...

Mudar o Mundo não custa muito
leva é tempo
Mas que não se apresse o caminheiro...
tarda, não tarda

"festa a explodir em pulsão de madrugada..."

Jaime Portela disse...

Devagar se vai ao longe...
Excelente poema, parabéns pelo talento (sempre presente, de resto, nos teus poemas).
Caro Veiga, bom feriado e continuação de boa semana.
Abraço.

Teresa Almeida disse...

Em recortes outonais o poeta convoca a natureza e risca os traços fascinantes do olhar.

Meu apreço e um abraço amigo, Manuel Veiga.

São disse...

Que nunca haja pressa e que saboreies sempre as cores , os sabores e as explosões da madrugada...

Bom feriado e feliz Novembro


Beijo

Quase Cinderela disse...

Lindo poema!
Muito lindo mesmo.
Obrigada por partilhar esse dom
Beijinho

Marta Vinhais disse...

Caminha-se pelas memórias, pelos cheiros, pelo amor...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

Tais Luso de Carvalho disse...

...E a pergunta: para quê a pressa, para chegar onde? E depois, fazer o quê?
Depois de algumas pressas, ou tantas pressas, aprendi o passo certo, hoje sou um abre-alas, dou a avenida para os outros passarem...
Belo poema, meu amigo!
Aqui é feriadão, imagine a pressa de chegar! Ou não conseguir chegar...
Um beijo, bom fim de semana.

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...