domingo, outubro 07, 2018

Homenagem Póstuma ao Meu Amigo JOÃO VICENTE


 Granítica Esperança...

Colapsam as palavras na voragem
Das paisagens geladas. Lonjuras
Que apenas os ventos
Ousam.

Grito perdido das fragas
Em arremesso de dor. 

Tentativa de ir além do azul coalhado
E das farripas de bruma que incendeiam os vales
Penitências aladas no milagre
De todas as lembranças...

Fantasmagorias debruçadas sobre as casas
Perdidas. Solidão de cabras balindo a urze.
E as magras tetas.

Ventres que se abrem nas encostas
Em presépios de abandono.
E lá no alto a íngreme
Penitência das dores
E todas as promessas:
 - Pagãos que somos!

Guardamos o inesperado.
E colhemos no núcleo de afectos o gosto
Do vinho raro que bebemos. Confortados.
E a água que calamos.

E agitação febril dos olhos.
E dos sonhos.

Imensos na granítica esperança
Tatuada no rosto dos homens.
Verdadeiros...


Manuel Veiga
(Poema editado)



9 comentários:

manuela barroso disse...


Quando o coração fala, nada há que o impeça de explodir mesmos as rochas mais duras.
Uma ode surpreendentemente bela onde ate a solidão e as dores, são as flores com que vestes as recordações.
Belíssimo momento, Manuel.
Obrigada pelas tuas palavras . São também flores depois de uma pausa forçada...
Beijinho!

Larissa Santos disse...

Fascínio de poema. Bom dia:))


Hoje: O teu odor de Galanteador

Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.

Graça Pires disse...

"Imensos na granítica esperança
Tatuada no rosto dos homens.
Verdadeiros... "
Magnífico homenagem a um Amigo, Manuel!
É um "grito perdido das fragas em arremesso de dor".
Uma boa semana.
Um beijo.

Agostinho disse...

"Imenso(s) na granítica esperança"!
A homenagem e a fé, MV.
"Pagãos que somos"...

Abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

Há mortos que não morrem
e valem a persistência dos versos
nunca morrem
os homens verdadeiros

pena, só
deixarmos de vê-los

lis disse...

Cecília Meireles escreveu que há uma' despedida que se cumpre e uma ausência que se demora' e curioso como nada temos a dizer senão essa'granítica esperança /Tatuada no rosto'.
E,enquanto leio penso que sua poesia nesse'arremesso de dor',é a mais linda homenagem que torna o caminho sem volta,luminoso.
Bonito MVeiga- muito!

José Carlos Sant Anna disse...

O que posso dizer-lhe, Caro Manuel, depois de ter lido esta "ode" neste caminho ascensional de cada verso cristalizando a amizade?
Só um abraço para consolar o poeta, o amigo.

Emília Pinto disse...

Não há palavras capazes de descrever a dor sentida com a perda de um grande amigo, mas tu, Manuel, soubeste escolher belissima palavras e com elas transformar um sentimento triste em poesia; haverá maneira melhor de homenagear alguém que a vida levou para longe, dando-nos a certeza que não mais voltaria? Com certeza que não! Quisera eu ter essa capacidade e um grande número de amigos assim homenagearia! Parabéns , amigo e que a tristeza desta perda se vá atenuando. Um beijinho
Emilia

Teresa Almeida disse...

Um poema com a firmeza do granito e um coração imenso. Um poema que homenageia o homem, o amigo e os valores da terra e das gentes. "Que força é essa amigo?"

Comovida, abraço-te.

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