Colapsam as palavras na voragem
Das paisagens geladas. Lonjuras
Que apenas os ventos
Ousam.
Grito perdido das fragas
Em arremesso de dor.
Tentativa de ir além do azul coalhado
E das farripas de bruma que incendeiam os vales
Penitências aladas no milagre
De todas as lembranças...
Fantasmagorias debruçadas sobre as casas
Perdidas. Solidão de cabras balindo a urze.
E as magras tetas.
Ventres que se abrem nas encostas
Em presépios de abandono.
E lá no alto a íngreme
Penitência das dores
E todas as promessas:
- Pagãos que somos!
Guardamos o inesperado.
E colhemos no núcleo de afectos o gosto
Do vinho raro que bebemos. Confortados.
E a água que calamos.
E agitação febril dos olhos.
E dos sonhos.
Imensos na granítica esperança
Tatuada no rosto dos homens.
Verdadeiros...
Manuel Veiga
(Poema editado)
9 comentários:
Quando o coração fala, nada há que o impeça de explodir mesmos as rochas mais duras.
Uma ode surpreendentemente bela onde ate a solidão e as dores, são as flores com que vestes as recordações.
Belíssimo momento, Manuel.
Obrigada pelas tuas palavras . São também flores depois de uma pausa forçada...
Beijinho!
Fascínio de poema. Bom dia:))
Hoje: O teu odor de Galanteador
Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.
"Imensos na granítica esperança
Tatuada no rosto dos homens.
Verdadeiros... "
Magnífico homenagem a um Amigo, Manuel!
É um "grito perdido das fragas em arremesso de dor".
Uma boa semana.
Um beijo.
"Imenso(s) na granítica esperança"!
A homenagem e a fé, MV.
"Pagãos que somos"...
Abraço
Há mortos que não morrem
e valem a persistência dos versos
nunca morrem
os homens verdadeiros
pena, só
deixarmos de vê-los
Cecília Meireles escreveu que há uma' despedida que se cumpre e uma ausência que se demora' e curioso como nada temos a dizer senão essa'granítica esperança /Tatuada no rosto'.
E,enquanto leio penso que sua poesia nesse'arremesso de dor',é a mais linda homenagem que torna o caminho sem volta,luminoso.
Bonito MVeiga- muito!
O que posso dizer-lhe, Caro Manuel, depois de ter lido esta "ode" neste caminho ascensional de cada verso cristalizando a amizade?
Só um abraço para consolar o poeta, o amigo.
Não há palavras capazes de descrever a dor sentida com a perda de um grande amigo, mas tu, Manuel, soubeste escolher belissima palavras e com elas transformar um sentimento triste em poesia; haverá maneira melhor de homenagear alguém que a vida levou para longe, dando-nos a certeza que não mais voltaria? Com certeza que não! Quisera eu ter essa capacidade e um grande número de amigos assim homenagearia! Parabéns , amigo e que a tristeza desta perda se vá atenuando. Um beijinho
Emilia
Um poema com a firmeza do granito e um coração imenso. Um poema que homenageia o homem, o amigo e os valores da terra e das gentes. "Que força é essa amigo?"
Comovida, abraço-te.
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