“Um povo
imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)
Uma burguesia
cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira e da falsificação, da violência e do roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)
Um poder legislativo
esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda de uma lotaria (...)
Dois partidos
sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”
Guerra Junqueiro - in “Pátria”
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Finis Patriae?!...
Nem tanto. Quero acreditar que País tem reservas de patriotismo para resistir. E mudar de vida...
"o que faz falta é avisar a malta/
o que faz falta é dar poder à malta"!...
domingo, março 02, 2008
Finis Patriae?!...
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26 comentários:
pois...
eu tambem quero acreditar na medida em que sempre uma reamer e uma believer.
acredito, acredito. apesar de tudo.
beijinhos
Lá querer acreditar, eu quero. Mas a realidade do país não dá para ter grandes sonhos. Também não será propriamente o fim, mais o aviltamento daquilo que julgámos que o país poderia ser.
Mais uma vez trazes à liça um autor que se mantém actual. O diagnóstico da situação podia hoje ser esse. Tal e qual.
As teorias da História do ocidente, connosco, não se aplicam, mesmo!
Sem qualquer menosprezo pelos africanos [os da África Negra, precisamente], pelo contrário... nós somos eles para a Europa!...
Bahhh....
[BEIJO]
Bom... não há dúvida que se buscarmos nossos pensadores lusitanos Ramalho, Eça, Guerra Junqueiro e até mais recentemente o saudoso Agostinho da Silva, vamos vendo, infelizmente, que a história se repete num país sem 'progresso' nas atitudes e nos valores...
Não sei se fará 'falta avisar a malta'... estamos perante outras gerações, outros valores, melhor dizendo contra valores e não vejo uma nova plêiade semelhante à de 1968!
Dou-te o benefício da dúvida na esperança que sim :)
A tua crença é 'sem retorno'... mudar a vida do nosso país com um povo que só sabe progredir além fronteiras, mas que cá dentro não avança, é no mínimo estranho como característica!
Sensibilizada pelo teu olhar atento em 'fragmentos'! Vim tarde... ando um pouco distanciada, por muita coisa, mas perdoa! Não esqueço os fiéis amigos!
beijo
Incrível, a actualidade de Guerra Junqueiro. Fascinante similaritude... e pensar que seria excomungado outra vez se cá viesse!
Pois que dizem que são sempre os mesmos: como se se pudesse etiquetar a raiva e o desalento, a pobreza e a violência, a injustiça e as desigualdades...
Quero acreditar enquanto a memória deixar!
Abçs
Olá!
Passei por aqui...
Gostei do blog!!!
Abraços pernambucanbaianos...
Germano
www.clubedecarteado.blogspot.com
Francamente, acredito que a malta está avisada. Simplesmente, não está para se ralar. Querem acreditar que podem conseguir um lugar à mesa e esperam que os ùltimos fechem a porta.
Comovente o trecho em que se refere um povo que "guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional".
Que esse lampejo não se apague nunca e que, pelo contrário, ateie a fogueira da vida e o incêndio do sentir, alicerçado nos saberes que em nós se entrannham.
Essa será a fé que nos redime. Mas que seja feita de actos diários, possíveis ou impossíveis, mas concretos, para além do isolamento dos "estados de alma".
"Penso nos outros, logo existo", dizia-nos José Gomes Ferreira. Uma boa oportunidade parece-me ser já a do próximo dia 08 de Março... ainda que daqui até lá também destas palavras se faça a nossa bandeira.
Um abraço.
O texto do Guerra Junqueiro, infelizmente, parece ter sido escrito ontem.
Mas isto vai, amigo, isto há-de ir, com a "malta" acordada a empurrar a outra malta que ainda não acordou.
É um circulo vicioso.
eles já escreveram tudo o que há para escrever?...
ou
nada de substancial mudou?
não teremos aprendido nada?
hoje estou mto perguntadeira
:)
Sempre certeiro o nosso Guerra Junqueiro. O que é que mudou?
Um abraço.
eram corrosivos estes tipos, comparando com os comentadores dehoje, sobra-lhes fibra!
Terá reservas,sim, mas as feridas são tão fundas que muitas vezes duvido. Há algo de tenebroso por aí que nos pode fazer implodir. Que é isso que eu temo e não as explosões.
Abraço.
também gostava de acreditar, mas falha-me a fé e quase consigo partilhar do pessimismo de Guerra Junqueiro
não o imaginava assim tão crédulo....:) que surpresa.
mas acho bem.
assim morre.se mais tarde.
____________________.
bjjs.
Infelizmente, no essencial estamos mais ou menos na mesma...
E todos temos culpa... somos um povo que não se governa nem se deixa governar, acharam os romanos quando foram embora, dizem...
Abraço.
Por acaso já conhecia este excelente texto.
É tão actual que até dói.
Dói de ver que afinal, não é novo, nem nos questão por cima, nem nos que estão por baixo.
Um abraço
Também é preciso
abrir os olhos
varrer a canalha
eleita
À época, dos poucos republicanos que disse alguma coisa com sentido...
Conheces a da excomunhão?
Telegrama do Papa:
Segue aqui a minha excomunhão, considere-se excomungado.
Telegrama de Guerra Junqueiro:
Segue aqui um tiro, considere-se morto.
Abraço.
avisar a malta?!
o que a malta quer é cada um orientar-se e os outros que se lixem!
shjkPois é, Guerra Junqueiro, sempre actual, quem diria?
A realidade é nua e crua. Vamos mesmo é acreditar.
o que é malta, herético?
Chuac!_
Esta pergunta faz sentido...
Afinal, quem é a malta?
Palpita-me que já não é o que era...
[BEiiiJO]
Os caras de antigamente estudavam mais, refletiam mais, e vislumbravam o futuro com mais acuracidade. É a única maneira de compreender como um poeta antigo - ainda que tivesse a sua fase panfletária, exibisse um conteúdo tão grandioso e atual.
Texto escrito com tinta à base de nitroglicerina pura, e que, em certas épocas, acredito, capaz de levar até defunto à luta.
Abraços!
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