Foi aprovado, na Assembleia da República, o programa do Governo, saído das últimas eleições legislativas, presidido, pela segunda vez, como bem se sabe, pelo Eng.º José Sócrates. Tudo conforme com as regras e os ditames constitucionais.
De facto, o Partido Socialista foi o partido mais votado no contexto do espectro político concorrente às eleições, o que, naturalmente, lhe confere legitimidade constitucional para formar governo.
Indiscutível e consensual, portanto, como aliás consta dos anais da Pátria, quer dizer, das páginas do Diário da República e das crónicas dos “fazedores de opinião”.
Porém, nestas coisas da política, (como nas banais coisas da vida) há sempre um “mas” que, perversamente, vem perturbar os desejos mais cálidos e a lançar a perfídia da dúvida nas mais quentes perspectivas. Mal comparado, já se vê, os “mas” funcionam como uma espécie de “Caim” (saravah, José Saramago!) que desafia a ordem universal das coisas previstas, para não falar nos altos desígnios de Deus...
Enfim, os mas são uns desmancha-prazeres...
No caso que é aqui nos traz, há um mas que corre o risco de provocar sérios engulhos na sempre expedita palavra do Eng.º Sócrates e perturbar a jactância da sua acção política.
É que, tendo embora a apoiá-lo o partido mais votado, o que lhe permite formar Governo, a verdade é que, nas últimas eleições, deu um enorme trambolhão e, de uma fagueira maioria absoluta, tombou para uma arreliadora maioria relativa, perdendo umas largas centenas de milhar de votos e um vasto leque de deputados.
Ora, “perder é o contrário de ganhar” como diria a conhecida colunável...
De forma que, o Eng.º Sócrates tem a legitimidade necessária para formar Governo. Porém, quanto à substância da coisa, quer dizer, quanto ao exercício do poder, magna questão de que toda a legitimidade política se reclama, é que a porca torce o rabo.
“Hoc opus, hic labor est”, já diziam os romanos, quando confrontados com as duras realidades da escolha nas encruzilhadas da vida. Sem maioria, Eng.º Sócrates está metido, portanto, numa camisa de onze varas (salvo seja...), pois que, à esquerda e à direita, parece que ninguém quer, para já, assumir as suas dores políticas ...
Mas o homem, como bem sabemos, é pertinaz. E não vai esmorecer por múltiplos que sejam os obstáculos, reais ou talhados à medida, que a Assembleia da República, ou a comunicação social, lhes semeiem pelo caminho.
Presumo até que, qual Colombo de velas emproadas, descobriu uma nova fórmula do ovo para manter o equilíbrio: piscar à esquerda para guinar à direita, na “melhor” tradição, aliás, do Partido Socialista no post 25 de Abril...
Ao que consta, neste seu desígnio, reservará, magnânimo, às esquerdas os chamados “temas fracturantes” mais uns pozinhos de perlim pim pim na área social e concederá à direita as alavancas da economia, com a agenda, mais ou menos conhecida, das privatizações do que resta do sector público e manutenção do Código do Trabalho.
E a enfeitar o cenário, uma luzidia Secretaria de Estado para a Igualdade, ou não fora o Eng.º Sócrates um paladino da igualdade, como demonstram sobejamente os quatro anos de governo anterior e as estatísticas europeias que, como se sabe, nos dão como país vanguarda em matéria de desigualdades...
Seremos, então, decididamente “pra frentex” na proclamada “igualdade de género”, introduzindo na ordem institucional o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto que vergonhosamente se rasgam valores históricos de igualdade nas relações de trabalho, que afectam milhares de pessoas, desprotegendo cada vez mais a parte mais vulnerável da sociedade portuguesa...
Com respeito devido pelas opiniões (e opções) que não são as minhas, poderá o Eng.º Sócrates alargar assim a sua base de apoio a gays, lésbicas e afins e, expedito, ocupar o espaço mediático com os temas fracturantes, mas decididamente “não passará” na rua sem vivos protestos e luta decidida, pela sua acção política deletéria, em termos económicos e sociais...
É que “modernidade” é mais que lantejoulas vistosas, que se podem usar e descartar em desfiles de vedetismo; traduz, sobretudo, o compromisso fecundo com a emancipação do Povo a que pertencemos e que as desigualdades económicas, sociais e culturais (que prevalecem), desenham sem horizonte, nem glória, como inelutável destino...
sábado, novembro 07, 2009
Uma agenda invertida...
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19 comentários:
Tens toda a razão
na forma e no conteúdo
do teu comentário
Sócrates apresentou na sua primeira aparição na assembleia da república o seu programa eleitoral
na ideia que falhe o namoro ao cds
e se construa a vítima na ideia preversa de uma nova maioria absoluta.
Entretanto os amigos os negócios
e os polvos com ferrado de choco
não podem eternamente saltar
à VARA sem uma queda - muito menos
a passar incólume por entre a chuva
sem se molhar.
Em princípio este pobre país
tem todas as razões para não aplaudir ventríluquos
Já deu um sinal.
" (...)sem horizonte, nem glória, como inelutável destino..."
É !!!. Tudo isto é fado..
Grande abraço.
Paulo
E até quando , Companheiro, até quando permitiremos este carnaval de corrupção, de lantejoulas, de compadrios?!
Um bom domingo.
É capaz de assim ser de facto. Tudo aponta, mas...
"É que “modernidade” é mais que lantejoulas vistosas, que se podem usar e descartar em desfiles de vedetismo; traduz, sobretudo, o compromisso fecundo com a emancipação do Povo a que pertencemos e que as desigualdades económicas, sociais e culturais (que prevalecem), desenham sem horizonte, nem glória, como inelutável destino..."
Gostei e concordo.
Beijos.
Para dar opinião, tenho que falar verdade. Neste teu post, diria que concordo com a ideia expressa de que as prioridades deste programa de governo estão distorcidas, se considerarmos a situação económica e social que vivemos. Muito há a fazer para que uma outra igualdade se consolide. Certo.
Não posso, no entanto, concordar, nem com o título, nem com a forma com a ideia é expressa. A igualdade de género é algo que só trata displicentemente quem não sente essa desigualdade. E, a falar verdade, tem pouco a ver com o casamento entre pessoas do mesmo sexo que é uma questão de igualdade de direitos "tout court", como tantas outras. E, enfim, não sendo certamente uma das grandes prioridades do país, também me parece que "gays, lésbicas e afins" são pessoas tão válidas e com tantos direitos de cidadania como os heterossexuais. Ou não será assim? Mas, enfim, fizeste questão de deixar bem claro que essas opiniões e opções não são as tuas... :))
Beijo. Bom fim de semana.
Como sempre, um excelente post!
:)
Beijos*
Vida de Vidro,
agradeço o comentário. discordante... (enfim, em parte rss).
mas se bem reparares, mesmo quando discordas me dás razão, pois a questão, (objecto de uma pretensa discordância em tua perspectiva), não "é certamente uma das grandes prioridades do país".
isso me basta. por agora...
beijo
Herético,
um 'valente' post! de fazer pensar...
um sorriso :)
mariam
... e uma salva de palmas para ti... e de pé!
Beijo grande e uma boa semana
Subscrevo. E sublinho: A igualdade de género está muito para além do casamento e os que, legitimamente, irão beneficiar dessa alteração na ordem institucional, vão continuar a sentir as outras desigualdades.
Abraço
como sempre uma escrita sem titubeanços (porque volta e meia me apetece inventar palavras)...
É uma estratégia mais antiga que sopé de montanha: converger a opinião para um assunto polêmico, enquanto os temas essenciais são tocados na penumbra, longe da mídia.
Um abraço!
P.S.: Esqueci de registrar:
"Saravá; porca que torce o rabo; e camisa de onze varas. O oceano que nos separa até que não é tão largo assim. :)
concordo inteiramente com a tua análise...entre guinadas à esquerda e à direita, Sócrates vai tentar manobras de diversão que lhe permitam manter-se no poder, independentemente do mal que acabar por provocar a este país
beijos
só fez diarreia, MAS ganhou
:(
bjs
a.
Já nem leio nem escuto política !
Só sei que é tudo tão podre
que é tudo tão triste
e
que
não sei...........
onde irá este nosso triste Portugal parar.
a áurea mediocritas na política é um "déja vu"esgotado...que nos vale ainda é o clima jeitoso que temos...aproveita a pausa.
abraço,
Véu de Maya
Um belo texto, sem dúvida, com ironia à mistura. Claro que eu tenho a certeza de que os portugueses são mesclados nas suas opções políticas e quem está no governo quer agradar a gregos e troianos. Nem o PCP, nem o Bloco ou o BE fariam outra coisa, não tenhas ilusões!
O grande drama do nosso país consiste na maioria APOLÍTCA, que só sabe dizer mal e não vota, e na excessiva fulanização dos partidos.
Depois, aqui para nós, trabalhar muito faz doer as costas, os zés espertos proliferam, a justiça... o que é? Onde?
Em questões de vedetismo, é o que está a dar e de que todos gostam. Uma festa na queda do muro de Berlim. E os outros muros que se erguem em Gaza, no México...?
É uma m... a democracia, mas o melhor que há, concordemos!
Pelo menos nós, que vivemos já uma ditadura!
Um abraço
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