sexta-feira, novembro 18, 2011

“Para além do capital e de sua lógica destrutiva”


 Ao que julgo conhecer, o filósofo marxista George Lukács alimentava a ideia de escrever “O Capital” dos nossos dias. Esse projecto significaria investigar o mundo contemporâneo e a sua lógica, os novos elementos do seu metabolismo social e com isso fazer, no último quartel do século XX, uma actualização das categoriais e lineamentos presentes na obra de Marx. No entanto, foi outro filósofo marxista, o húngaro István Mészáros, grande colaborador de Lukács, quem lançou mãos à obra.

Radicado na Universidade de Sussex, na Inglaterra, Mészáros já havia publicado diversos livros de grande fulgor intelectual, mas conforme as referências que encontro, “Para além do capital e da sua lógica destrutiva” é a sua obra maior.

Em porfiada ronda pelas livrarias de Lisboa, fui obrigado a reconhecer que, em Portugal a obra em referência é pura e simplesmente desconhecida, ou então olimpicamente ignorada pelos nossos editores e livreiros, para não falar no mainstream cultural envolvente. Enfim, em verdade, nada surpreendente: mais um triste sinal dos tempos!...

Socorro-me por isso de alguns sites, sobretudo brasileiros, para me documentar sobre a obra, julgando estar em condições de vos dizer que “Para além do Capital e da sua Lógica Destrutiva”, constitui, no actual estádio de desenvolvimento da sociedade, uma penetrante reflexão crítica sobre o capital, as suas formas e as suas engrenagens e mecanismos de funcionamento.

Mészáros realiza assim uma demolidora crítica do capital e uma das mais densas reflexões sobre a sociabilidade contemporânea e a lógica que a enforma.

Como um dos eixos centrais de sua interpretação, Mészáros, ao arrepio do pensamento marxista clássico, considera capital e capitalismo como fenómenos distintos e admite que a identificação de ambos os conceitos tenha estado presente nas experiências revolucionárias até à data, tendo sido porventura a razão do seu fracasso.

Para István Mészáros, o capital antecede ao capitalismo e também lhe será posterior; o capitalismo, por sua vez, será uma das formas possíveis de realização do capital, uma de suas variantes históricas. Assim como existia capital antes da generalização do sistema capitalista, também se pode verificar a continuidade do capital após o capitalismo.

É o que o Mészáros denomina como “sistema de capital pós-capitalista”. Tal, como, na perspectiva do autor, aconteceu na URSS e demais países do Leste Europeu, durante o século XX, pois que estes países, embora tivessem uma configuração pós-capitalista, foram incapazes de romper com o “metabolismo” de funcionamento do capital.

Considera, portanto, que o capital é um sistema abrangente, com núcleo constitutivo formado por capital, trabalho e Estado; estas três dimensões estão são materialmente interligadas, sendo assim impossível poder supera-lo sem a eliminação do conjunto dos elementos incorporados no sistema.

E, como sistema que não tem limites para a sua expansão (ao contrário dos modos de produção anteriores, que buscavam a satisfação das necessidades sociais), o metabolismo de funcionamento do capital, no limite, torna-o incontrolável. Como se sabe, fracassaram no objectivo de o controlar ou superar tanto a social-democracia, quanto a alternativa soviética, uma vez que, uma e outra, acabaram seguindo o que Mészáros denomina “a linha de menor resistência do capital”.

Expansionista, destrutivo e, no limite, incontrolável, o capital assume cada vez mais a forma de uma crise endémica, crónica e permanente, cuja agudização faz emergir o espectro da destruição global da humanidade.

Esta emergência histórica, coloca, assim, como única forma de evitar a catástrofe, a evidente necessidade de pensar e construir uma alternativa social, que na perspectiva do autor será a sociedade socialista.

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Se tiverem tempo e paciência, recomendo que visionem entrevista completa que István Mészáros concedeu a célebre programa da TV brasileira “Roda Viva”, constante do vídeo.   









3 comentários:

lino disse...

Existe tradução em português do Brasil mas, pela minha experiência, é melhor ler em inglês, mesmo não dominando bem a língua.
Abraço

Rogério G.V. Pereira disse...

1 de 9...
Tenho de "inventar" tempo.

jrd disse...

Obrigado pela sugestão. Há aqui muita matéria para reflexão.

Abraços daqui

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