Radicado na Universidade de Sussex, na
Inglaterra, Mészáros já havia publicado diversos livros de grande fulgor
intelectual, mas conforme as referências que encontro, “Para além do capital e da sua lógica destrutiva” é a sua obra
maior.
Em porfiada ronda pelas livrarias de
Lisboa, fui obrigado a reconhecer que, em Portugal a obra em referência é pura
e simplesmente desconhecida, ou então olimpicamente ignorada pelos nossos
editores e livreiros, para não falar no mainstream
cultural envolvente. Enfim, em verdade, nada surpreendente: mais um triste
sinal dos tempos!...
Socorro-me por isso de alguns sites, sobretudo brasileiros, para me
documentar sobre a obra, julgando estar em condições de vos dizer que “Para além do Capital e da sua Lógica
Destrutiva”, constitui, no actual estádio de desenvolvimento da sociedade,
uma penetrante reflexão crítica sobre o capital, as suas formas e as suas
engrenagens e mecanismos de funcionamento.
Mészáros realiza assim uma demolidora crítica
do capital e uma das mais densas reflexões sobre a sociabilidade contemporânea
e a lógica que a enforma.
Como um dos eixos centrais de sua interpretação,
Mészáros, ao arrepio do pensamento marxista clássico, considera capital e
capitalismo como fenómenos distintos e admite que a identificação de ambos os
conceitos tenha estado presente nas experiências revolucionárias até à data,
tendo sido porventura a razão do seu fracasso.
Para István Mészáros, o capital antecede
ao capitalismo e também lhe será posterior; o capitalismo, por sua vez, será
uma das formas possíveis de realização do capital, uma de suas variantes
históricas. Assim como existia capital antes da generalização do sistema
capitalista, também se pode verificar a continuidade do capital após o
capitalismo.
É o que o Mészáros denomina como “sistema de capital pós-capitalista”.
Tal, como, na perspectiva do autor, aconteceu na URSS e demais países do Leste
Europeu, durante o século XX, pois que estes países, embora tivessem uma
configuração pós-capitalista, foram incapazes de romper com o “metabolismo” de funcionamento
do capital.
Considera, portanto, que o capital é um
sistema abrangente, com núcleo constitutivo formado por capital, trabalho e Estado; estas três dimensões estão são
materialmente interligadas, sendo assim impossível poder supera-lo sem a
eliminação do conjunto dos elementos incorporados no sistema.
E, como sistema
que não tem limites para a sua expansão (ao contrário dos modos de produção
anteriores, que buscavam a satisfação das necessidades sociais), o metabolismo de
funcionamento do capital, no limite, torna-o incontrolável. Como se sabe, fracassaram
no objectivo de o controlar ou superar tanto a social-democracia, quanto a
alternativa soviética, uma vez que, uma e outra, acabaram seguindo o que
Mészáros denomina “a linha de menor
resistência do capital”.
Expansionista,
destrutivo e, no limite, incontrolável, o capital assume cada vez mais a forma
de uma crise endémica, crónica e permanente, cuja agudização faz emergir o espectro
da destruição global da humanidade.
Esta emergência
histórica, coloca, assim, como única forma de evitar a catástrofe, a evidente
necessidade de pensar e construir uma alternativa social, que na perspectiva do
autor será a sociedade socialista.
……………………………………………..
Se tiverem tempo
e paciência, recomendo que visionem entrevista completa que István Mészáros
concedeu a célebre programa da TV brasileira “Roda Viva”, constante do vídeo.
3 comentários:
Existe tradução em português do Brasil mas, pela minha experiência, é melhor ler em inglês, mesmo não dominando bem a língua.
Abraço
1 de 9...
Tenho de "inventar" tempo.
Obrigado pela sugestão. Há aqui muita matéria para reflexão.
Abraços daqui
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