O cardeal patriarca de Lisboa, de quando
em quando, despe-se de suas cardinalícias púrpuras e faz gala em descer ao
espaço público para molhar o dedo no caldeirão da política, desdenhando da
evengélica sentença de “de dar a Cesar o que
é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.
Compreende-se a beatífica pulsão de Sua
Eminência. A igreja de Roma, ao longo dos tempos, sempre foi muito zelosa de
seus privilégios e o território da política sempre lhe foi ardente apelo e
frutuosa colheita. Pode dizer-se, sem receio de errar, que as vantagens da
política para a igreja romana, católica e apostólica, tanto lhe têm servido de
petisco, como de fausto.
Claro que os tempos são de austeridade,
hoje em dia. Entre nós, a igreja de Roma vai recolhendo, nas águas do
assistencialismo, erguido como política de Estado, as benesses que o poder
dominante lhe vai distribuindo.
As Misericórdias e as IPSS, alimentadas pelos
dinheiros públicos, bem merecem, não direi uma missa em louvor de Passos
Coelho, mas uma piedosa cerimónia de exorcismo sobre as enormes manifestações
da população portuguesa que, em diversos registos e expressões sociológicas, se
ergue contra a tróica e as políticas de desastre nacional.
Em seu zelo apostólico, o patriarca de Lisboa
puxou do hissope e, aspergindo água benta, considera que os problemas do País
não se resolvem “contestando e indo a
grandes manifestações” ou sequer, fazendo uma “revolução” – credo,
abrenuncio!
Não nos diz Sua Eminência como se resolvem os problemas do
País, que para tal se considera incompetente, mas sempre vai deixando cair,
melífico, que “há sinais” de que os
sacrifícios dos portugueses “levarão a
resultados positivos”...
“Fustiguem-se
em austeridade, que o reino dos Céus está próximo!...” - assim parece
clamar o patriarca de Lisboa, qual beatífico ventríloquo do senhor
Victor Gaspar e do senhor Passos Coelho.
É “comer e calar”, portanto. E quem sabe
se para Sua Eminência os males do País não se curarão com uns “safanões a tempo” que acabem de vez com
esse despropósito do povo a manifestar-se nas ruas e praças do País...
E assim que
tais safanões não permitam, está bem de ver, quaisquer veleidades de “revolução”.
A igreja contra manifestações populares,
na douta palavra de Sua Eminência? Que ideia! Isso são invenções de espíritos
heréticos e malévolos, quiçá de verdadeiros pedreiros-livres,
(ou retintos comunistas) que infestam a sociedade.
Pelo contrário. Como os portugueses bem
sabem, a igreja de Roma, católica e apostólica, não apenas apoia, como promove
e estimula grandes concentrações de massas humanas – desde que se verguem ao
seu poder e alienadamente se arrastem de joelhos nos lajedos de Fátima...
E obedientes, como Deus manda, ajudem em
silêncio os pobrezinhos, tão necessários eles são para a salvação de devotas almas
e para engordar cada vez mais os ricos...
Assim vamos, por cá, na nossa santa
terrinha. Confesso-vos a minha amargura, que a
impenitente ironia não disfarça.
Só mesmo o eloquente gesto de Bordalo me
apazigua...
5 comentários:
Não vou comentar pelos motivos que desde sempre conheces em mim... mas, no entanto, posso dizer que o desânimo é imsenso :(
Um beijo, 'Herético'
(é muito bom sentir a tua amizade em 'fragmentos')
O homem tem dois colegas que nao afinam pelo mesmo diapasao e resolveu fazer um contra-ataque antes que o "diabo" se apodere de mais alguns e o rebanho se tresmalhe.
Abraco
Será que o cardeal
é filho de deus?
O que ele acha é que devemos ir a Fátima a pé, rezar para que caiam uns euritos das alturas!
Abraço
Não são só as IPSSs e MIsericórdias(com essas trabalhei décadas e sei a vergonha que se passa na maior parte delas) é também o IMI que fez José Policarpo vir a terreiro informar o"melhor povo do mundo" de que as manifestações nada resolvem"
Mas esqueceu-se, deve ser da idade , de avisar também que andar de rastos e de joelhos à roda de imagens e santuários também nada solucionam!
Um abraço enorme
Enviar um comentário