Arredado há anos dos espaços públicos de discussão política, propus-me participar no Congresso Democrático das Alternativas, que no dia 5 Outubro p.p., se realizou na Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa.
A ideia de procurar alternativas a
situação dramática do País - cujas causas remotas não vêm ao caso, mas que, na
actualidade, têm expressão maior nas políticas da tróica e de seus apóstolos -
é de tal forma urgente que não se compadece com hesitações, nem muito menos,
com desistências ou conformismos.
Dou por bem empregue o dia. Não faltam
motivos. De facto, é assinalável que depois grandes manifestações, de 15 e 29
de Setembro, que juntaram centenas de milhares de portugueses verberando a
tróica e reclamando as suas vidas, mais de dois milhares de pessoas se tenham
reunido, depois de amplo debate com a sociedade, para aprovar um documento que
sintetiza uma verdadeira plataforma de esquerda - base política necessária para
encontrar o caminho patriótico, que salve o País do desastre iminente.
O acontecimento revela, desde logo, que
a intectualidade de esquerda, depois de longa e profunda anestesia, parece
estar a acordar do torpor. Veremos. Ainda é cedo para juízos definitivos. Mas a
circunstância do Congresso ter decorrido sem protagonismos pessoais e vaidades
bacocas é disso bom sinal.
Uma segunda nota a assinalar é a de que
a Declaração aprovada, por larguíssima maioria, preconiza, sem margem para
dúvidas, a denúncia do protocolo com a tróica, com todas consequências que tal
decisão acarreta, designadamente, a negociação da dívida do país em novas bases
de prazos de amortização e de juros. E, se a previsível chantagem dos credores
for insuportável, a declaração unilateral de uma moratória no respectivo
pagamento da dívida.
Na perspectiva do documento, o país deve
honrar seus compromissos. Mas a “honra” de um País, como foi dito no Congresso, não reside em claudicar,
perante as exigências externas, mas em recusar cláusulas e acordos leoninos,
que bloqueiam o desenvolvimento. Os acordos internacionais livremente firmados devem
ser cumpridos, sem dúvida; mas deverá ser tida em conta a alteração das
circunstâncias sociais e políticas, que determinam tais contractos.
Antes do direito está a moral e a
justiça. E se é verdade que o Estado português tem obrigações internacionais a
cumprir, o seu vínculo maior deve ser com a permanência da Pátria e o bem-estar
do seu povo.
Uma última nota para acentuar, que a
Declaração final, aprovada no Congresso Democrático das Alternativas deve ser
conhecida, lida e discutida pelos cidadãos, dentro e fora dos partidos
políticos.
O movimento cívico que lhe está na origem afastou, no congresso,
quaisquer veleidades eleitorais ou de se transformar em partido
político. Ficou claro que a única ambição
explícita do movimento é a de, nesta emergência social e política, contribuir
para construir alternativas sólidas ao desastre para que o fundamentalismo
neoliberal empurra o país.
Tarefa urgente e necessária que os cidadãos
devem tomar em suas mãos, exigindo que as forças políticas à esquerda do
espectro político convirjam na luta e na acção política e procurem, no meio de
todas as dificuldades presentes, construir de novo a esperança para a sociedade
portuguesa.
A partir de agora deixou de haver
alibis. É tempo de sarar feridas e desfazer mal-entendidos. E na pluralidade de
ideias e na autonomia de cada força política, sem hegemonismos deslocados, nem transigência
com as políticas de direita, é urgente saber encontrar alternativa política de
esquerda para o governo do País.
E assim salvar o Futuro...
Manuel Veiga
8 comentários:
Meu caro,
Sabia que que tin has participado e estive contigo assim como estou contigo neste texto muito importante.
Abraco
Espero a publicação da declaração para seguir o que sugeres...
Foi bom saber que lá estiveste!
Gostei de estar aqui, gostei de ler-te. Ainda bem que vai havendo quem tenha ideais e os procure concretizar com acções que ultrapassem os interesses partidários.
Um abraço
queria dizer «ultrapassam», desculpa
Espero bem que sim, que a ESquerda tenha finalmente a inteligência de construir uma plataforma de entendimento : a dramática situação do país assim o exige.
Gosto também de saber do despertar para a cidadania de pesspas com obrigação de intervirem .
Um abraço para ti.
Na verdade alguém tem de ter discernimento colectivo
a menos que continuemos a encontrar-nos unidos
no Alto de S.João
Que nunca falta a força dos trabalhadores
Saudações amigas
Depois de longa ausência retorno ao teu sítio. Sinto-me em casa, verdadeiramente.
Que a luta dos Irmãos d'além mar seja frutífera. Muito!
Um abraço fraerno e saudoso,
batista filho
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