quarta-feira, junho 04, 2014

ABRASA O SOL....


Abrasa o sol nesta miragem. A distância é o voo
E a canícula. E a ave soletrando o círculo.
E o zénite...

E a violenta brancura do azul no fio de meus olhos
Agitando a brisa cálida...

E o esqueleto calcificado no restolho
Abandonado.
E o cardo seco
E a poeira ...

E a gotícula lambendo a pele nua
E os lábios gretados. E a sede das horas
E os passos sobre o eco...

E o arfar solitário.
E este latir de condenado...

Infinita esta paisagem em que me detenho
Como planície inventada
Ou voo quebrado...

Estridência de cigarra acesa
Ou secreta cotovia em alvoroço
Adejando por dentro.

E o milagre
Do canto
Inesperado...


Manuel Veiga

 

11 comentários:

Graça Sampaio disse...

Alentejo! Manuel da Fonseca não o descreveria melhor!

Beijos poéticos.

Sónia Micaelo disse...

Tenho sempre uma vontade imensa, de contemplar os seus poemas em silêncio. Com receio de dizer algo, que assuste a paisagem. Adorei.

Beijos

lino disse...

Sem palavras!
Abraço forte

MARILENE disse...

Uma paisagem descrita não só pelo que os olhos vêem, mas pelo sentimento despertado. Um canto inesperado é sempre milagroso. Muito belo!

Genny Xavier disse...

Caríssimo poeta,

Bom rever/reler teus versos que trazem a mágica "quase" palpável da paisagem viva...tão distante de mim, porém, tão próxima dos sentidos perceptíveis que o teu olhar de poeta me apresenta.

Grata pela tua presença neste momento em que reabro o meu "Baú" de escritos guardados.

Beijo.
Genny

jrd disse...

Grande Poeta.
Inventas a planície e nela espalhas a poesia em alvoroço.
Grande poema!

Forte abraço

Graça Pires disse...

É "o milagre de um canto inesperado" a mitigar a sede...
Belíssimo, meu amigo.
Um beijo.

Shirley Brunelli disse...

Belíssimo, belíssimo. Amei!
Beijos!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma imagem da planície que nem todos sabem ver...

:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anna disse...

E no entanto, nesta paisagem abrasadora, há um rio de palavras que corre, imparável, no peito de um poeta.

Um beijo

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