Veste-se o Outono de mostos e fermentam
Sabores na
glória dos frutos que as bocas
Salivam
Tão maduras
Que se
desprendem
Como promessas
em zénite
Atordoadas em
mel
Quais corolas
Soltas em voo de
línguas suculentas...
Impúberes os
sonhos. Ainda.
Que humedecem os
olhos
De tão claros.
Azul
Na vertigem
E no alvoroço
Cinzento na hora
da chegada
Como restolho
depois do dia
Ou despojos
Diurnos
Antes da noite
E do frio...
De nada vale o doirado
das vinhas
Nem a plangência
do sol
Nem o vigor
íngreme
Dos passos
Na cadência das
montanhas.
Nem a vindima.
Nem os cestos...
Outono é esta
memória cálida
Fogueira onde
soletro meu corpo aceso
E cato meu
piolho
E minha sarna...
Dulcíssima flama
em que me embalo...
Manuel Veiga
17 comentários:
gosto de todos os versos
em que me revejo
e o outono, para mim
é exactamente assim
ainda que sem piolho ou sarna
mas com a tal dulcíssima flama
que me embala
eu sei, meu caro Rogério, que tu nunca sentiste o ardor da sarna, nem o "o piolho da existência" e, sobretudo, "nunca apanhaste porrada"!...
ainda bem que gostas do Outono.
forte abraço
Há, pelo ar que transpira, um vago ardor de melâncolia. Sarro, se se quiser avinagar o sentido.
Mas, amigo, acabas por (te) reconhecer sábio no 'soletro meu corpo aceso'.
Que seja, assim, dulcíssima a flama que te embale.
Abraço!
Bela memória viva e vergastada
sempre presente
na dulcíssima bandeira
Abraço fraterno
Muito bonito, heretico (uma vez mais)! Muito bem descrito, muito bem delineado palavra a palavra, todas elas muito bem escolhidas num solfejo sintático muito bem esgrimido. (Como sempre, aliás)
(Vou copiar para guardar...)
Beijinhos outonais.
os que levaram pancadas no corpo ( e na alma) têm mais sensibilidade na pele...
abraço
~
~ ~ Poeta, a poesia está belíssima, muito bem construída, original e expressiva.
~ ~ Mas Manuel, só entre nós, por que não exterminaste já os parasitas que deixas devorem-te o sangue?!
~ ~ O que passou, já não existe, são apenas memórias que deves arrumar numa gaveta. fechá-la bem fechada e procurar, com o maior empenho, a felicidade.
~ ~ ~ ~ Um Outono feliz, Manuel. ~ ~ ~ ~
~ Corrijo o lapso: "...que deixas devorarem-te o sangue?"
Rente ao corpo, até porque nem só de invernos vive o homem.
Belíssimo!
Bj.
Tão doce e serena parece a maturidade
em suas palavras!
Um abraço!
Gosto de arriscar uns versos, mas é por mero prazer. Quando leio poemas como os seus, sinto-me pequenina. Já estive aqui antes, deliciando-me com a forma como descreveu o outono. Ele nos dá a sensação de que todos os frutos saborosos que podíamos degustar já se foram, restando a preparação para o frio do inverno. As memórias se acumulam e provocam nostalgia. Aplaudo-o. Abraços.
Telúrico é o poema e os dias -agora- curtos que refazem as memórias que trazemos na pele.
Um abraço meu irmão poeta
uma memória de um outono bem vivo ainda...
mas deixa um sabor a calor e serenidade...
:)
Os outonos...
quem ainda não versou sobre eles?
_ cheios de adeus.
Rilke escreveu que precisamos 'conter a morte ,docemente, sem se tornar amargo'
_ que nos seja doce muito doce 'dulcíssimo' heretico
Seu poema doura o outono com muita beleza.
parabéns!
É sempre um prazer ler-te.
Um beijo
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