São de bruma os
tempos. E de barcos destroçados.
E gemidos que os
escravos embandeiram
Como hinos...
São de bruma os tempos:
apocalípticos...
Nas galés os cães
devoram-se nos restos
E os sacerdotes
queimam as vestes
E cobrem-se de
cinzas
No interior das
praças...
A cidade treme: são
de bruma os tempos!...
No céu
baralham-se as estrelas.
E as bússolas rasgam
o norte no ventre das pedras
E na sede dos
homens.
São de bruma os
tempos!...
E nas inesperadas
sarças
E no cume das
montanhas
E no sol
encoberto ainda desta aurora
E no vento de
todas as profecias
E na insubmissão
do grito
E ardor de todas
as batalhas
E no azul das
crianças famélicas e nuas
E na enxada de
esperança
E nas torrentes da
memória
E nesta
safara...
São de bruma os
tempos: ainda!
E planto a dor. E
a bruma. E minha árvore – fio de água -
E minha palavra avara.
E celebro.
E rasgo.
E ilumino.
E proclamo da
alvorada dos tempos
A fecunda
claridade
Dos dias
peregrinos.
Manuel Veiga
17 comentários:
Não será de bruma a alvorada
proclamada
Ilumina, pois
(Ainda) são de bruma os tempos, mas palavra-lâmina do poeta há-de rasgar a névoa e devolver-nos o horizonte.
Grande Poema Meu Irmão
Abraço-te com emoção
Infelizmente assim é...
Seu poema é como o poeta definiu _ é nevoeiro da manhã que retarda-nos em casa. Bonito Pulsante Desconcertante.
_'as brumas as sarças a insubmissão .
Faça-se silêncio_ para Manuel Veiga.
Parabéns.
E quando a tua palavra se tornar pródiga e puderes celebrar, rasgar e iluminar... o tempo dissipará a bruma e restará somente a poesia no coração dos homens!
Oi heretico
'roubei' uma poesia sua e publiquei junto as minhas fotos .
Espero que não brigue comigo, rs
E por favor, exclua esse comentário.
É só uma observação ok?
assim é, mas os tempos estão sempre em mudança....
acabei de ler-te também no blogue da Lis
bom final de semana.
beijo
:)
~ ~ Bruma densa, só para alguns... ~ ~
~ ~ ~
Falta atear um fósforo
no coração dos pássaros
Abraço fraterno
Ah, meu caro, vou lhe dizer: seus poemas, esses! nada têm de bruma. São palavras duma nitidez e força implacáveis. Soberbo.
Bradarei, mesmo que a voz me doa.
Bravo.
abç amg
Se fossem só brumas
o caminho estava aberto não
vejo nada mas tento
com a tua ajuda
A coisa não é fácil
nunca foi
Não vejo nada
mas com a tua ajuda
até as brumas são claras
Abraço
Neste cenário do nosso descontentamento
gostei do teu final: " E proclamo da alvorada dos tempos A fecunda claridade
Dos dias peregrinos." Assim seja, meu amigo.
Um beijo.
Já vou duvidando da circularidade do tempo. Tudo agora me parece linear, sem retorno.
"E proclamo da alvorada dos tempos
A fecunda claridade
Dos dias peregrinos"
É bom de ler!
Lídia
Reli um de seus poemas no blog da Lis. Uma escolha dela que aplaudi.
A bruma permanece até que as consciências despertem e os próprios homens criem a sonhada alvorada. Há sempre esperança. Abraço.
Quais brumas, quais quês!...
A tua poesia é cristalina. E pura!
Encharquei-me com ela, Manuel!
Abraço.
Reconheço que sim... 'são de bruma '! Mas no teu poetar, as palavras transparentes, e os conceitos peregrinos incessantes.
Beijo
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