sábado, junho 20, 2015

CHE (Com a Grécia em Fundo...)


(...)
“É um poder que se tem.
Um terrível poder contagioso.
Por isso há tanta gente a policiar tanta gente
Para que não aconteça o inesperado
Para que ninguém resolva por exemplo
Chegar a uma janela e gritar
Eu sou o Che.

Porque a verdade é que pode ser.
Há uma possibilidade de Che em cada um.
Não claro está aquele olhar doce e triste
Nem o sorriso que exprimia uma inocência
Nem o modo inconfundível
De balançar os ombros quando andava
Quase como se
Dançasse.
Mas um outro lado da vida. Um outro sentido.
A partir de um centro
Situado em Ñancahuazú
Quer dizer: no coração.
(...)
A qualquer momento
Qualquer um
Pode dizer: eu sou Che
Ou mesmo sem o dizer pode partir.
Ou não partir. Mas de qualquer modo
Desaparecer.
Subir a uma montanha dentro de si
Criar um foco
Um centro de irradiação
Tanto pode ser uma guerrilha
Como um poema
Ou um silêncio. Ou até
Porque não
Um amor secreto.
Ou simplesmente uma recusa.

Algo diferente
Um gesto que provoque uma alteração de ritmo
Uma ruptura
(...)
Então é o Che
Uma estrela na testa
Uma insubmissão
Um foco.
Um grande coração a bater em Ñancahuazú
No centro do Mundo
Em parte nenhuma
Em toda a parte”. 

Manuel Alegre – poema CHE –Edição  Editorial Caminho




13 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Não sei bem, mas parece quase um autorretrato

"No centro do Mundo
Em parte nenhuma
Em toda a parte"

É assim que eu vejo o poeta
mas não o homem de que o poeta reza

Mar Arável disse...

Os poetas morrem nos poemas que escrevem

Manuel Veiga disse...

... mas nem todos o sabem, Poeta.

grato.

abraço

lis disse...

Que doce felicidade seria muitos a gritar:
_ Seremos como el Che
hasta la vitória, siempre'
_ e como ele 'fosse, se entregasse'....ternamente.
Ah essa 'alteração de ritmo' como precisamos!
Lindo o poema heretico
un fuerte abrazo

Suzete Brainer disse...

Que poema encantador, delicioso de ler...

"Subir a uma montanha dentro de si
Criar um foco
Um centro de irradiação
Tanto pode ser uma guerrilha
Como um poema
Ou um silêncio."
Simplesmente magistral, poeta!!

Grito da minha janela: "Eu sou o Che"...
Beijo.

Helena disse...

Tão lindo, tão doce, tão forte, tão abrangente, tão tanto...
Dá vontade de abrir a janela da alma e gritar bem alto: "eu sou Che"
na esperança de que o eco se faça para o lado de fora...
Poeta, mais um dos teus belos poemas a me encantar!
Sorrisos e estrelas, sempre, no teu caminhar,
Helena

Manuel Veiga disse...

Helena,

o poema CHE, como aliás refiro, pertence a um maiores poetas contemporâneos de língua portuguesa - Manuel Alegre

limitei-me a transcrever uns excertos, mas o poema ganha apenas toda a expressividade numa leitura integral.

beijo

Manuel Veiga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria do Sol disse...

Seja como for as palavras do poeta repetem-se ciclicamente, tal como a História
Ainda que o "mundo pule e avance" a vida repete-se em todas as memórias.
Abraço

Helena disse...

Grata pela tua observação.
O comentário deveria ter sido registrado dessa forma:
"Poeta, mais uma das tuas belas publicações a me encantar!"
Penitencio-me da "distração" cometida e acrescento mais sorrisos e mais estrelas no meu desejar de uma semana que te chegue iluminada de alegrias.
No carinho de sempre,
Helena

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

o poeta renasce todos os dias

nas palavras

vou tentar ler na íntegra

boa semana

beijo

:)

Graça Sampaio disse...

«uma insubmissão» - e isso mesmo do que precisamos!

Beijo

Agostinho disse...

É o "perigo" da insubmissão do eu onde mora a "franqueza" da verdade que é reprimido pelos oficiantes do medo. O esquema repressivo vive da simulação de tudo e todos.

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