Na oculta linha
onde todos os rostos se perfilam
Mar de sombras e
inesperadas claridades
Nesse ínfimo
átomo convexo onde a luz
Colapsa e de tão
breve
Explode...
E a noite se
ilumina em metamorfose de cinzas...
Nessa desértica
alvura onde os ventos se soltam em fúria
E germina o
latir dos sons. Bárbaros ainda.
Na gesta
inaugural da Palavra a arder na boca
Em labareda.
Como sarça.
Rítmica.
E na dança
hermética das caligrafias. E na decifração dos dias.
Impressivos. Como
voo da flecha em sua presa.
Aí na ara do
tempo consumado. E no impoluto sangue
Das vítimas.
Ergo o veneno e a taça. E bebo o fel.
E solto o grito.
Como fecundo parto
De ervas
tímidas. Ou o pulsar
Dos punhos.
Ou o eco das
horas. E das pétalas...
Manuel Veiga
"Do Esplendor das Coisas Possíveis" - pág. 80
POÉTICA EDIÇÕES - Lisboa Abril 2016
12 comentários:
Insistes, ainda bem!
A toada poética amadurece.
(só andando pelo mundo se percebe a raiz do que nos agarra aqui)
Abç
Na noite a fúria dos ventos, o latir dos sons, o eco das pétalas...
Muito lindo.
Parabéns pelo livro, Manuel!
Beijos!
Que corra tudo muito bem. E vai correr porque já é um hábito de escritor conhecido e conceituado.
Parabéns. Pelo evento e pela tua bela poesia.
Beijinho.
inesperadas claridades
no pulsar dos punhos
e eu, a decifrar
os dias por chegar
~~~
«Na gesta inaugural da Palavra a arder na boca
Em labareda. Como sarça.
Rítmica.»
Volto a afirmar que aprecio sobremaneira o teu
pessoalíssimo estilo grandiloquente.
Na impossibilidade de poder estar presente,
desejo-te sucesso e momentos muito agradáveis.
Beijo, Poeta amigo.
~~~~~~~~~~~~~~
o pulsar dos punhos
e o grito do Poeta
muito bom
um beijo
:)
"Aí na ara do tempo consumado. E no impoluto sangue
Das vítimas. Ergo o veneno e a taça. E bebo o fel.
E solto o grito. Como fecundo parto
De ervas tímidas. Ou o pulsar
Dos punhos"
Excelente poema.
O destaque é apenas um exemplo da excelência poética deste brilhante poema.
Bom resto de semana, caro amigo Veiga.
Um abraço.
Um poema grandioso, com uma pulsão enigmática
a vestir as palavras com belas metáforas,
inscritas da tua originalidade e da inspiração
rara que nele se presentifica.
Apreciei muito a estrutura e estética do poema.
Existem poemas que exigem uma expressão estética
única, diante da inspiração, melodia e beleza.
Parabéns, Poeta!!
Esse é também o papel do poeta, o de decifrar o enigma de cada dia que se vive.
:)
Ah, tão bonito!!!
Grito! Gosto!
Um bj querido amigo
Manoel,
Sempre que leio um poema como este, mecanicamente vem-me à memória o que disse um dos nossos três melhores poetas, João Cabral de Melo Neto, numa entrevista a um dos nossos jornais, sobre como se escreve poema: “cinco por cento de inspiração e noventa e cinco de transpiração”. Sempre concordei com João Cabral. Tal lembrança deveu-se à ótima qualidade deste seu poema. (Imaginei o trabalho que deu escrevê-lo.) Parabéns, amigo.
Espero que amigos e leitores compareçam ao lançamento de seu livro, no dia 13 deste mês. Sucesso!
Grande abraço.
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