quarta-feira, maio 11, 2016

NA DECIFRAÇÃO DOS DIAS ...


Na oculta linha onde todos os rostos se perfilam
Mar de sombras e inesperadas claridades
Nesse ínfimo átomo convexo onde a luz
Colapsa e de tão breve
Explode...

E a noite se ilumina em metamorfose de cinzas...

Nessa desértica alvura onde os ventos se soltam em fúria
E germina o latir dos sons. Bárbaros ainda.
Na gesta inaugural da Palavra a arder na boca
Em labareda. Como sarça.
Rítmica.

E na dança hermética das caligrafias. E na decifração dos dias.
Impressivos. Como voo da flecha em sua presa.

Aí na ara do tempo consumado. E no impoluto sangue
Das vítimas. Ergo o veneno e a taça. E bebo o fel.
E solto o grito. Como fecundo parto
De ervas tímidas. Ou o pulsar
Dos punhos.

Ou o eco das horas. E das pétalas...


Manuel Veiga

"Do Esplendor das Coisas Possíveis" - pág. 80 
POÉTICA EDIÇÕES - Lisboa Abril 2016


12 comentários:

bettips disse...

Insistes, ainda bem!
A toada poética amadurece.
(só andando pelo mundo se percebe a raiz do que nos agarra aqui)
Abç

Shirley Brunelli disse...

Na noite a fúria dos ventos, o latir dos sons, o eco das pétalas...
Muito lindo.
Parabéns pelo livro, Manuel!
Beijos!

Graça Sampaio disse...

Que corra tudo muito bem. E vai correr porque já é um hábito de escritor conhecido e conceituado.

Parabéns. Pelo evento e pela tua bela poesia.

Beijinho.

Rogério G.V. Pereira disse...

inesperadas claridades
no pulsar dos punhos

e eu, a decifrar
os dias por chegar

Majo disse...

~~~
«Na gesta inaugural da Palavra a arder na boca
Em labareda. Como sarça.
Rítmica.»

Volto a afirmar que aprecio sobremaneira o teu
pessoalíssimo estilo grandiloquente.

Na impossibilidade de poder estar presente,
desejo-te sucesso e momentos muito agradáveis.
Beijo, Poeta amigo.
~~~~~~~~~~~~~~

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

o pulsar dos punhos
e o grito do Poeta
muito bom

um beijo

:)

Jaime Portela disse...

"Aí na ara do tempo consumado. E no impoluto sangue
Das vítimas. Ergo o veneno e a taça. E bebo o fel.
E solto o grito. Como fecundo parto
De ervas tímidas. Ou o pulsar
Dos punhos
"
Excelente poema.
O destaque é apenas um exemplo da excelência poética deste brilhante poema.
Bom resto de semana, caro amigo Veiga.
Um abraço.

Suzete Brainer disse...

Um poema grandioso, com uma pulsão enigmática
a vestir as palavras com belas metáforas,
inscritas da tua originalidade e da inspiração
rara que nele se presentifica.

Apreciei muito a estrutura e estética do poema.
Existem poemas que exigem uma expressão estética
única, diante da inspiração, melodia e beleza.

Parabéns, Poeta!!

luisa disse...

Esse é também o papel do poeta, o de decifrar o enigma de cada dia que se vive.
:)

Maria Eu disse...

Ah, tão bonito!!!

Gisa disse...

Grito! Gosto!
Um bj querido amigo

Pedro Luso de Carvalho disse...

Manoel,
Sempre que leio um poema como este, mecanicamente vem-me à memória o que disse um dos nossos três melhores poetas, João Cabral de Melo Neto, numa entrevista a um dos nossos jornais, sobre como se escreve poema: “cinco por cento de inspiração e noventa e cinco de transpiração”. Sempre concordei com João Cabral. Tal lembrança deveu-se à ótima qualidade deste seu poema. (Imaginei o trabalho que deu escrevê-lo.) Parabéns, amigo.
Espero que amigos e leitores compareçam ao lançamento de seu livro, no dia 13 deste mês. Sucesso!
Grande abraço.

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