quarta-feira, junho 08, 2016

Grão de Fogo. Rumor Íntimo...


Arrasta o canto itinerários de água
Caligrafia oculta que os gestos percorrem
Em fervor. E se desenham no rosto inconformado
Dos dias. Solstícios embora é o calcário
E a sombra a articularem a matriz e a semântica.
Estalactites de sangue a irromperem
Como raízes abandonadas. Fio apenas
A crescer nos dedos e a dar forma
À subtil condensação que se ergue
Na rota do peito onde desagua – canto ainda.

E em rebeldia se desnuda.
Litania agora. E sobressalto e mágoa
A tatuar sinais e a exorcizar o tempo
Escasso. Ponto de redenção e fuga –
Sopro e voo. E o cântico. E a marca de água.
Em que o poeta se inaugura.

Grão de fogo. E rumor íntimo.
Concertados.

Manuel Veiga






10 comentários:

Suzete Brainer disse...

Pelo belo e enigmático título, o poema nos revela
a beleza cristalina de toda imagética original (sempre
assim na tua poética), uma força matriz a construir
um caminho único de canto e rota dos dias numa
inconformidade rotineira, a desenhar a rebeldia que
desnuda o "agora", numa transfiguração da mágoa,
do tempo, a trazer no sopro o voo poético que o
"poeta se inaugura", se renova neste "grão de fogo"-vida
e "rumor íntimo" espelhados em sua própria expansão!...

A música sublime (adorei...) em perfeita
harmonia com o teu poema.

Bravo, Poeta Amigo!!
Bjs.

Majo Dutra disse...

~~~
Magnífico poema, Manuel!

Este é o estilo intensamente expressivo
e vibrante que melhor te define.

Gostei sobremaneira deste concerto entre
o grão de fogo e o rumor intimo...

Especialmente, dos versos dedicados ao
tempo, que considero sublimes.

~~~~ Beijo, Poeta. ~~~~

Mar Arável disse...

"Sopro-te e voo"

Abraço amigo

Rogério G.V. Pereira disse...

"Estalactites de sangue a irromperem
Como raízes abandonadas"

Cantemos!

Manuel Veiga disse...

MarArável, meu caro amigo

retribuo!

ora aí tens um SOPRO a fazer ricochete
e um VOO a jacto...

abraço, sempre!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e em todos os caminhos o canto resiste

que assim seja Poeta!

e que o canto não morra na nossa boca.

bom feriado

:)

José Carlos Sant Anna disse...

Ainda sinto o cheiro fresco da argila em que o poeta se inaugura.

Bravo, Manuel! Um belo poema!

rosa-branca disse...

A fuga do poeta num voo tão belo. Amei demais. Beijos com carinho

lis disse...

'E o cântico' heretico maravilhoso!
a gente sempre volta pra ouvir !
Muito bom passear por aqui. Deixo abraços.

Agostinho disse...

"Sopro e voo" que plano perfeito para manter o "ponto de fogo" eterno. Mais que brasa cujo destino é cinza!

Grande poema, pró-Herético.

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