a Terra. o Ar. o Fogo. a
Água.
Destaco a Água. Pelo gosto da
água. Pelo prazer da água. Pela presença da água: elemento essencial de Vida!
Dizem-me velhos tratados,
(decifrados nas rugas das páginas) que é grande o homem, tão só quando mergulha nos dons da
natureza. Que da água primordial, se solta o sopro divino. Mátria, que não
Pátria, deveria celebrar o culto. E nela soltar-se o lado luminoso da História.
Terra e Água. A fecundidade
perene. O encantamento e o milagre. Surpreendo-me, às vezes, especulando quão
diferentes seriam nossos dias, se o lado errado fosse o certo e a história nos
legasse, o que ficou calado. Se a água triunfasse e límpida corresse. Na sede e
nas lágrimas, claro. Mas também nas torrentes caudalosas, que abrem sulcos
definitivos.
“Água azul: ei-la.
Entrei nela,
E fiquei todo azul”...[1]
Mas quem se espanta com o
espanto do índio das Montanhas Rochosas? E quem, do seu canto, guarda a magia
do banho matinal? Perdeu-(se). Agora apenas os poetas e os bêbedos de utopia
lhe perseguem o rasto...
“Agora não há terra.
Há apenas água sem fim
Até aos quatro cantos do
nada
............................................
A água move-se em
silêncio
De sons ainda por
ouvir... “[2]
Poesia pura. Mas quem das
margens do Eufrates, escuta hoje os “sons ainda por ouvir”
no barro das letras balbuciantes? Babilónia está a arder. Os sons, os terríveis
sons do império, esfacelam o eco milenar de civilizações fecundas...
"Águas, sois vós quem nos traz a força vital. Ajudai-nos a encontrar alimento para que possamos encontrar grandes alegrias. Deixai-nos partilhar da seiva mais deliciosa que possuas, como fôsseis mães delicadas...”[3]
"Águas, sois vós quem nos traz a força vital. Ajudai-nos a encontrar alimento para que possamos encontrar grandes alegrias. Deixai-nos partilhar da seiva mais deliciosa que possuas, como fôsseis mães delicadas...”[3]
Mas quem escuta a
exortação? Quem das águas do Ganges faz alimento para o esfarrapado pária?
Quem? Milhões à tona de água que a história arrasta, descartáveis...
E aqui, ontem, onde tudo para nós começa? Iniciática a água e redentora na lenta ascese do Caos em direção à Luz. Água de vida. Sabedoria escondida no âmago
... “e dei-lhe de beber a Água da Vida que o despe do caos que existe no mais completo das trevas, dentro de todo o abismo[4]”
Assim falam, nos vãos esquecidos da história, os manuscritos gnósticos de primitivos cristãos. Mas quem hoje a espiritualidade dos tempos?
Mátria e Pátria da Terra Prometida, pela água (e pelo fogo) se faz a luz sobre as trevas. Pela água (...) “somos salvos pelo conhecimento do oculto, por meio da luz incomensurável e inefável. E aquele que se esconde entre nós (o reino das trevas ) paga tributo de seu fruto à Agua de Vida.[5]”
No fulgor do Verbo e da Palavra (inter) dita dos vencidos – o Culto da Água.
Manuel Veiga
Os textos em itálico pertencem à Coletânea “Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro” - Assírio e Alvim – 2001 Lisboa
E aqui, ontem, onde tudo para nós começa? Iniciática a água e redentora na lenta ascese do Caos em direção à Luz. Água de vida. Sabedoria escondida no âmago
... “e dei-lhe de beber a Água da Vida que o despe do caos que existe no mais completo das trevas, dentro de todo o abismo[4]”
Assim falam, nos vãos esquecidos da história, os manuscritos gnósticos de primitivos cristãos. Mas quem hoje a espiritualidade dos tempos?
Mátria e Pátria da Terra Prometida, pela água (e pelo fogo) se faz a luz sobre as trevas. Pela água (...) “somos salvos pelo conhecimento do oculto, por meio da luz incomensurável e inefável. E aquele que se esconde entre nós (o reino das trevas ) paga tributo de seu fruto à Agua de Vida.[5]”
No fulgor do Verbo e da Palavra (inter) dita dos vencidos – o Culto da Água.
Manuel Veiga
Os textos em itálico pertencem à Coletânea “Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro” - Assírio e Alvim – 2001 Lisboa
[1] - Canção dos Índios Pimas
– América do Norte
[2] - Excerto de Poema da
Suméria
[3] - Exortação - Índia
[4] Manuscritos gnósticos
9 comentários:
Não dá tréguas
às coisas belas
Os 4 elementos... um delicado equilíbrio que nos rodeia e faz de nós o que somos.
Gostei muito
E o Grande homem está a tornar-se pequeno na pequenez da suas atitudes perante a água, terra e o fogo. Haverá ainda alguém que se espante com a fogo que, independente da sua vontade consome em grandes labaredas a terra fértil, transformando -a em cinzas; também essa terra, ivolutariamente é arrastada pela bendita água das chuvas escurecendo as águas antes limpidas de rios, ribeiros e riachos, água " da vda" que dá de beber à sede, que banhava o indio, que faz respirar os peixes que dá às plantas o seu lindo verde. E anda este dito Grange Homem preocupado em descobrir água noutros planetas; "o culto á água" neste nosso " planeta água " ( música de Guilherme Arantes..antiga mas profunda ) foi esquecido, fez-se " xixi nela" como se anda há muito a " fazer xixi nas estrelas " ( de novo Guilherme Arante...aconselho a ouvir..) e não lhe bastando isso querem agora descobrir outras águas como se fossem capazes de cuidar delas; precisa o dito homo sapiens, o Grande Homem tratar da nossa água para que ela volte a ser alimento " do esfarrapado pária, " para que volte a dar de beber à sede, para que banhe as terras tornando-as férteis, para que limpe esta terra tão preta de cinzas negras. Mas quem se " atreve " a acreditar nisso? Jå alguém dizia: " o homem é o único bicho que suja a água que bebe" e é nessa água que terá de se banhar se , sem mais demora, não voltar a tratá-la como a " nossa força vital " , a energia onde " para nós tudo começa, a fonte de toda a nossa " alegria " E foi alegria que me deu este belo "culto " á mãe natureza, aos seus elementos fundamentais, água, terra e fogo . Parabéns, amigo e obrigada. Um beijinho
Emilia
Meu amigo Manuel,
Lendo sua bela prosa poética o que direi? Nesse trecho, você sintetiza tudo o que eu também teria vontade de dizer, um dos pontos fortes do texto:
"Terra e Água. A fecundidade perene. O encantamento e o milagre. Surpreendo-me, às vezes, especulando quão diferentes seriam nossos dias, se o lado errado fosse o certo e a história nos legasse, o que ficou calado. Se a água triunfasse e límpida corresse. Na sede e nas lágrimas, claro. Mas também nas torrentes caudalosas, que abrem sulcos definitivos."
Beijos, amigo!
Com água apenas já há vida, que foi donde provavelmente viemos.
Excelente post, meu amigo, gostei imenso.
Manuel, tem um bom fim de semana.
Abraço.
Este teu texto ensaísta é de uma excelência e inspiração
poética admirável.
A matéria do mundo e a nossa são revestidas pelos os
4 elementos (terra, ar, fogo e água).
Todas as simbologias se baseiam nos 4 elementos e existem
culturas espiritualistas que utilizam destas fontes. A
medicina chinesa (com acupuntura) se orienta destes
elementos no seu ponto de equilíbrio, a saúde como
esta estrutura de equilíbrio.
Voltando para o teu excelente e belo ensaio literário,
digo também que o culto da água nos possibilita aqui,
no universo da poética como transporte da beleza
descritiva no teu texto, sobre as belas citações
de textos, que se harmonizaram na ideia do elemento
água como força da vida e da força transmutadora (limpeza)
em vibração evolutiva.
Parabéns, meu amigo!
Grata pela leitura singular.
Beijo.
Simplesmente um encanto!
Beijinhos
e o mundo so se acabará se ela ( a água) um dia faltar.
belíssima postagem
um bom final de semana.
beijinho
:)
A Terra. O Ar. O Fogo. A Água.
O Homem. A Natureza. A Ambição. O Desrespeito. O Desastre.
O Fim.
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