Abre-se a
paisagem ao horizonte
Em delírio de
olhos desmedidos. Atmosferas recidivas
Como se foram
ainda açucenas colhidas
E o regaço. E o
joelho incauto desguarnecido.
E tu viesses com
a leveza de águas
Em mandil de coado
tempo.
Chuva miudinha
A regar emoções
e desalinhar
A orla dos
sentidos.
Ergo-me
declinando o nome. Caminheiro que sou
Das devoções
pagãs que me visitam,
Tão faceiras,
que nelas me reinvento
Em néscio alvoroço.
E em ti caminho
Música que
invento no declive de teu corpo
E ecos
recolhidos. Toada de abismos
Em coleante rumo
dos passos
E profundos
rios.
Águas bravias
Em cascata de
enredos
E mistérios.
Manuel Veiga
22 comentários:
A poesia é assim: emociona pela capacidade de criar mistério, pelo que é dito nas entrelinhas e por caber na realidade de cada um de nós.
Um poema imenso!
Desejo um excelente fim de semana.
Olá, caro Veiga
Para acabar a semana, aqui deixa esta pérola, mas belas águas eróticas que, sendo bravias, despertam sentidos nos écos e trazem mistérios.
Um poema cheio. Gosto destas "devoções pagãs", que assaltam o poeta e o faz "mergulhar" em rios tão profundos (?).
(e sem se afogar...)
Um grande abraço,Amigo
Um poema que apetece caminhar. Melodia não lhe falta!
Beijinho.
Gosto muito!
Parabéns!
Bj
Muito belo poema, inscrito de paixão e amor. Ricas construções
imagéticas de confissões íntimas. A expressividade sensual ou
erótica fica mais bela quando existe elegância e o uso da linguagem
implícita apresentada excelentemente neste teu poema.
Um bom domingo na paz, meu amigo.
Um beijo.
Cristina,
bem vinda. sempre.
mas deixe que lhe diga que faço sempre o possível para que as linhas digam o mesmo que as interlinhas...
beijo
Luis, caro amigo
sei lá porque caprichosa associação de ideias o teu comentário lembra-me a celebérrima Ceia dos Cardeais, do não menos célebre Júlio Dantas (PUM!)
- " E Vossa Eminência também amou! " - tal a tua surpresa.
e o pobre Cardeal, com os olhos em alvo, batendo no peito:
- "Oh, se amei! pode lá viver-se sem ter amado um dia..."
ora aqui tens! Pim, Pam, Pum!
forte abraço
Teresa,
a melodia do poema até permite dançar.
ironia à parte, quero dizer-te quanto me é grata a tua presença amiga.
as paisagens que nos visitam são as mesmas.
beijo
Graça.
é sempre um prazer vê-la por aqui.
prezo muito a tua poesia.
beijo
Suzete,
receio bem, minha amiga, que a "paixão e o amor" as "confissões íntimas" e a "expressividade sensual ou erótica" não seja mais que a "metafórica" forma de dizer as "devoções pagãs", a que o poeta humanamente não resiste.
sendo elas (as devoções pagãs) tão discretas não merecem certamente tão expressivo comentário.
razão redobrada para agradecer as tuas magnânimas palavras
beijo
No mesmo compasso, a paixão, a reverência e a irreverência. E isto é, para mim, o amor e o sentido de amar, excelentemente colocado em verso.
E, se não fosse mistério, como explicar a atração (fatal)?
BJ, Manuel 😊
Fiquei presa nestas "Águas bravias em cascata de enredos e mistérios".
Que mais acrescentar, Amigo?
Um beijo.
Odete,
fico grato pelo teu esclarecido comentário.
dele retenho a ideia do "sentido de amar" que tão bem exprimes.
de facto, "o sentido de amar" degrada-se, hoje em dia, tantas vezes, em exacerbadas
e fugazes emoções, facilmente descartáveis.
beijo, minha amiga
Graça,
tu não precisas dizer nada.
a tua presença é eloquente. sempre.
beijo, minha Amiga
Manuel, caríssimo:
Que maravilhosa, amigo, esta sua associação de ideias.
(pim, pam, pum: a resposta a cada um).
"Pode ser fina a espada; a frase é mais ainda", dizia o velho cardeal de Montmorency.
Surpresa, sim, é (foi) a subtileza do poema na erudita escrita.
Quando formos 'velhinhos cardeais' saberemos o quanto amamos, e eu não possa dizer:
- “Foi ele, de nós três, o único que amou”.
Um abraço, Manuel e uma boa semana .
Luís, meu caro amigo
em tua florentina escrita não encontro mácula.
mas não vejas erudição onde apenas os sentidos (e os afectos) reinam.
abraço
Águas bravias... Elemento fecundante. Nela o poeta mergulha para renascer envolto em cascatas de enredos e mistérios. Dessa água procede e se alimenta a vida e se faz o poema, reinventando a palavra. Outro poema que nos aprisiona.
Forte abraço, poeta!
Poeta,
As palavras marcam os sentidos...como texturas, sabores, sons, visões...sinestesias dos afetos...
Beijo,
Genny
José Carlos, caro amigo
privilégio meu, o teu olhar de Poeta sobre o meu poema
aclarando alguns de seus "enredos e mistérios"
abraço. grato
Genny, minha amiga
é muito generosa comigo. grato
as suas palavras acrescentam. sempre.
nunca diminuem.
beijo
"A regar emoções e desalinhar a orla dos sentidos" sempre a reinventar os momentos como sefossem primeiros.
O poema respira a magnífica aventura. Em todos os sentidos.
Abraço.
Na torrente do poema desafias a cascata que te inunda os sentidos.
Abraço meu irmão poeta
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