De novo a montanha e um silêncio íntimo
Em que percorro veredas d´água. E o magma
E nesse fogo se condensam estalactites. Afectos agora
E nesse fogo se condensam estalactites. Afectos agora
Evanescentes. Essências matriciais ainda.
Fecha-se o círculo. Em
redor as brumas
E os rostos. E os
cheiros. E esta pedra
Em que trôpego
desfaleço. A febre quente.
E o suor frio. E o
grito d´alma que voa
Qual corrente. Veleiro
sem regresso
Nem destino certo...
A vida? Esquivas
corsas que de tão lestas
Se pressentem e apenas
no rasto se iluminam.
Fortuitas são as
horas. Não o caçador negro
Nem o coração da
pedra. Apenas a água
(E sal da lágrima) são
lírios e são heras.
Guardo sôfrego este
silêncio e me retiro.
O fogo é agora esta
paixão de nada: o eco de calcário
E meus dedos brasa.
Poeira e caliça.
E muros derrubados.
E esta centelha viva
que na queda
Se derrama.
Fim de tarde
Que no declinar do sol
Se incendeia.
Manuel Veiga
"Do Esplendor das Coisas Possíveis" - Poética Edições
Lisboa Abril 2016
10 comentários:
E de novo poema-cume a quebrar cerco da bruma.
Abraço fraterno
Vulcões a desenharem montanhas no magma do poema...
e a tarde cai, enquanto a matéria se renova, no
"...Esplendor das Coisas Possíveis."
Visão poética por dentro da bela Natureza.
Gostei muito.
Um forte abraço, Amigo
e uma boa semana.
Uau... que belo Manuel!
Não o conheço, estou a chegar agora, sem saber a razão de a montanha já ter por aqui aparecido... mas a imagem desse ocaso, que pode ser lido como o da própria vida, é de uma beleza muiiitooo bem construída.
Fiquei como seguidora...
Abraço!
Este teu poema além de belo, é único no teu caminhar com as palavras
numa escalada de significados, luminosidades e efervescências de um
sentir que incendeia, transportando este fogo para a construção imagética:
"De novo a Montanha":
"Fim de tarde
Que no declinar do sol
Se incendeia."
Maravilhoso reler passeando neste caminhar poético de Manuel Veiga.
Bom domingo, amigo!
Um beijo.
"Só quem sobe à montanha toca o céu. Na terra chã ninguém se transfigura", disse Miguel Torga. Foi isso, transfiguraste-te a escreveste este poema tão belo...
Um beijo, meu Amigo.
Vejo paisagens de gelo e de fogo nos contrastes do poema.
Gosto desta música entre os sons das palavras e o sentido...
Bj
Só contemplando este "fim de tarde/ que no declinar do sol / se incendeia. Este silêncio que nos é tão caro e a força das imagens neste belo poema.
Forte abraço, meu caro amigo
Eu própria me incendeio com o declínio do sol, mas a verdade é que fiquei fascinada com o modo como se despede na tua montanha.
Beijos.
Tão íntimo este amor que exaltas na perplexidade da contemplação (quase veneração) de momentos como este!
Excelso sentir. Excelsas palavras. Magnificente poema!Tocou-me como me tocam os meus montes.
Bj, Manuel :)
Enviar um comentário