O silêncio é um
muro branco brandido
Como lâmina de
palavras mortas
Que não ferem,
apenas prolongam
O côncavo
reflexo da luz nos olhos
Num aceno brusco
de virar rumos.
Uma luz ácida de
memórias ainda vivas
Que corrói em
ondas íntimas e se esfuma
Qual névoa de
crispada (e caprichosa) forma
Na esterilidade
de desertos inesperados.
Apenas o som
cavo de um celo
A modelar a
noite e a iluminar o espaço
E nele o teatro
de absurdas sombras
Em que o poeta
se encena mudo
E recolhe a
apoteose de fel (e mel)
A escorrer nos
lábios crestados.
Manuel Veiga
9 comentários:
paleta de sombras, luz e sons, onde o poeta encena rumos, cria olhares e nos deixa um palco de memórias.
gostei muito, caro Amigo.
Um grande abraço e um fim-de-semana
de calor humano, já que do tempo não será certamente, Manuel Veiga.
Caro Luis, meu amigo
obrigado pelo "calor humano".
o calor da amizade é sempre bem vindo!
mas devo dizer-te que o frio é estimulante.
abraço
O silêncio é uma arma poderosa, não deixa os ânimos acalorados não fere, mas por vezes dá medo exatamente por deixar indagações, dúvidas, desassossego. Sêneca dizia que os desgostos da vida ensinam a arte do silêncio.
Porém os orientais sabem usá-lo com maestria, sabem bem mais o uso dessa inteireza do que os ocidentais.
Como sempre, meu amigo, poema com profundidade.
Beijo, Manuel. Gostei muito!
Pena que os muros cresçam e no poeta inscrevam a acidez da palavra.
Olhar profundo a provocar leituras abrangentes.
Beijinho.
E quanto nos diz sobre o silêncio este poema na sua inteireza, meu caro Manuel.
E quanto bem nos faz... tanto quanto o frio.
Um forte abraço,
O silêncio é um muro branco disponível para reflectir o sons quentes que tardam.
Abraço caloroso meu irmão poeta.
Eu diria, que o silêncio é um muro branco por escrever...
Que mais dizer, de um poema tão silenciosamente puro, que qualquer som que não lhe seja intrínseco o pode macular?
Encantada por ter conhecido este espaço...
Belíssimo título e excelente descrição!
Bj
O título é belíssimo e nos sinaliza para um mergulho profundo e
silencioso, por dentro das palavras do Poeta que desnuda a dor
existencial, o teatro da vida de sombras e luzes; de música e
desertos; de mel (doce) e fel na acidez da lâmina dos gestos
que carregam "palavras mortas que não ferem", porém provocam
o avesso do que o Poeta pensa que "se encena mudo".
Não, Poeta. As tuas palavras revolucionam e escorrem no rio
da arte de expressão que tu dominas e fertilizam com a beleza
a iluminar neste espaço esta essência!...
Magnífico!!
Beijo, Amigo Manuel.
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