O dia, em que um poeta foi a enterrar, entreguei-te
O espólio de meus sonhos.
Talvez recebas apenas
Minhas cãs em desalinho. Ou as cinzas pela antiga casa
E as maças emolduradas. E a sala de visitas
Deserta e o silêncio dos passos.
E o chocolate fervido e o vinho quente
A atapetar o palato
E as narinas.
Ou talvez a brusca debandada de meus olhos
Tordos acesos a riscar o ar e agora baços.
Ou o espúrio cio dos gomos.
Ou o calor íntimo das amoras
Mel silvestre a tingir as bocas
Ante o incêndio
Das salivas.
E encontrarás, estou certo, um ramo de lírios
Desbotados, acabados de colher, e o regaço
Da Mãe e a criança solitária e o fio de água
De meus olhos agora secos.
Talvez a bênção do dia e missa dos sentidos
Encontres nessa caixa de abandonos.
Ou aquele poema amarrotado
De que me faço distância e eco
A martelar nos ouvidos
Como remorso
Ou destino:
Que mais nada tenho! …
Manuel Veiga
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