Abrasa o sol
nesta miragem. A distância é o voo
E a canícula. E
a ave soletrando o círculo.
E o zénite...
E a violenta
brancura do azul no fio de meus olhos
Agitando a brisa
cálida...
E o esqueleto
calcificado no restolho
Abandonado.
E o cardo seco
E a poeira...
E a gotícula
lambendo a pele nua.
E os lábios
gretados. E a sede das horas
E os passos
sobre o eco...
E o arfar
solitário.
E este latir de
condenado...
Infinita esta
paisagem em que me detenho
Como planície
inventada
Ou voo
quebrado...
Estridência de
cigarra acesa
Ou secreta
cotovia em alvoroço
Adejando por
dentro.
E o milagre
Do canto
Inesperado...
Manuel Veiga
"Do Esplendor das Coisas Possíveis" - pág. 17
POÉTICA Edições - Abril 2016
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