Deixo que os rios secos
e as tempestades de sons ausentes
Na memória de outros
maios se inscrevam na saliva
Das palavras balbuciadas
em que digo amor em fim de tarde.
E assim administrando
amoras tardias em círculo de sol
Lábios ciosos destes gestos que se
derramam inesperados
Frutos desprendendo-se de
maduros ou chuvas
Em deserto absorvidas.
Viajo caminheiro sem
pressas recostado nas bermas
Celebrando as sombras e
as festivas giestas outonais
Sorvendo o mel das
silvas soltando revoadas
Tordos espantados que
riscam o abismo dos olhos.
E ai me perco nessa
voragem matizada de cores quentes
Nos odores persistentes
na humidade translúcida dos beijos
Na generosidade dos
seios no declive dos lábios e no cio
Das colheitas e na
sofreguidão de cestos antes das uvas-
E nas ondas que arrebatam
e na ferida aberta
E nesta lava e neste de
lume que me consome e nesta festa
Que explode em pulsão de
madrugada.
"Gracias a la Vida!"
"Gracias a la Vida!"
Manuel Veiga
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