Para o
João Pedro,
Meu filho
Para além da linha curva
em que o olhar
Se desprende. E do azul
do sonho que por vezes
Decai em nevoeiro.
Para além do murmúrio de
água e do cântico
Em que a alma se acolhe.
Apenas
Solidão e eco.
Para além da brisa
agreste a macular
O rosto – incisão de
frio - e os dedos retesados
No bafo das coisas a
expelir escórias.
Para além de solidões
feridas. E da transumância
Dos afectos. Em que o
nada é quase tudo e o tudo
Se esboroa. Coisa de
nada – viciados ritos.
Para além de artifícios
e sinais errados a venerar
Enredos. Nesse magma de
logros em vertigem
E ilusões perdidas.
Nesse repositório de
palavras inflamadas
Emerge da vara do tempo uma voz rubra que do alto
Fende. Fio-de-prumo que
separa.
Como se joeira fora –
fina…
Manuel Veiga
16 comentários:
Gostei=)
Bjos
Noite Feliz
Meu caro,
mil desculpas, mil e uma! Sempre e há anos nos encontramos nos blogues de amigos comuns. O tempo passa e conheci-te em Mafra, no lançamento do livro da LQ! Por preguiça pura, não adiciono mais nomes no meu bettips. Preguiça porque era fácil encontrar quem me interessava ler, de um ao outro, ligados pelos nomes e alcunhas. Algumas desilusões, confesso, através dos tempos e hábitos: uns que se vão, para sempre. Apareceu o face, eu não ando muito por lá, espreito e... não dou a cara nem a palavra, a não ser a quem verdadeiramente CONHEÇO, ou falo. Perdoa o "preciosismo", os conhecimentos no tal face estão em boicote total... mas tenho todo o gosto em encontrar-te, por lá, em amigos "tão comuns". Abraços para ti e Família, que o tempo nos seja favorável nesta luta dia a dia.
Bettips
Um instigante poema amigo Manuel, um canto muito bom de se ouvir. Gostei muito.
Renovo os meus votos de um 2018 com saúde e paz, e que a poesia esteja sempre presente.
Um grande abraço.
Pedro
Bem vinda, Bettips
como sabes, diz-se no norte que "amigo(a) de meu amigo, minha amigo(a)é". estamos portanto confortáveis.
estou no FB como na vida, com minha verdadeira identidade - "Manuel Veiga" - espero assim que te dês a conhecer por lá.
Um poema muito especial, num dia igualmente precioso (penso), para marcar, diria, alinhar, a verticalidade na vida.
E a quem, melhor que a um filho, se poderia dedicar tão cautelosas, intensas, belas e sentidas palavras? Derramaste a sábia experiência na página dos anos.
Uma boa noite, para vocês, meu caro amigo MV.
Fosse a poesia, água e falaria da sua dureza. Mas também da claridade.
Fosse uma montanha, e falaria do ar puro, da urze e rosmaninnho.
Mas estou perante palavras que me parecem água na sede do amor
e montanha , pela dificuldade das escarpas e a beleza das flores, a um tempo rebeldes mas puras.
Água acarinhando a face da montanha!
Que de mais precioso?
Um poema e tanto, Manuel!
Beijo!
Para lá da ciranda da vida, com seus sucessos e desvarios, ergue-se um poema que, como habitualmente, se inflama.
E a voz rubra, fio de prumo, crivo fino, encaminha-se (a meu ver) pelo amor e pela hereditariedade.
Um beijo com muito apreço, caro amigo Manuel.
Caro amigo,
Por encontrá-las, recorro às palavras de Manuela Barroso, pois ela traduziu muito bem este querer. E tão poeticamente.
Criação redonda como se as palavras se oferecessem com real facilidade.
Muitas gotas de vinho neste poema para traduzir este amor filial. Porque numa gota de vinho há peso de anos.
Caloroso abraço, caríssimo amigo,
"Para além de solidões feridas. E da transumância
Dos afectos"
Destaco, por me parecer que é a síntese do desenvolvimento, até pela centralidade que ocupa no poema.
Pois é: "para lá de tudo", ainda que belíssimo e jactante nas palavras, está o mais perfeito amor.
O teu filho pode orgulhar-se de tal pai.
Bjo, meu amigo
Belíssimo!
Venturoso filho, gigante pai.
Um poético e maravilhoso 2018!
Bjs
Caro Manuel Veiga
O frio de prumo pela sua verticalidade traduz muito bem o sentido dos valores que devem nortear a nossa vida. E aqui, neste poema que dedica ao seu filho, notamos os altos e baixos de que a existência é composta, alertando para os momentos menos bons e mostrando a preciosidade daqueles que nos elevarão à nossa condição de seres racionais e sensíveis.
Preciosas Palavras numa bela construção poética!
Grande abraço.
Olinda
Para além de solidões feridas. E da transumância
Dos afectos. Em que o nada é quase tudo e o tudo
Se esboroa. Coisa de nada – viciados ritos.
Escreve-se tanto e tantas coisas lindas, mas aquilo que trás muita emoção, sempre fica.
Parabéns, Manuel, quando falamos de afetos o coração transborda.
Beijo, amigo.
Um excelente poema e muito belo,
uma profundidade humana como
o livro da vida, do olhar do
pai para o filho, a doação da
sabedoria nos elos dos afetos
mais sublime do caminhar
com a vida e esta preciosidade
de mãos dadas do cuidar tão
belo expressado poeticamente,
a espelhar o pai e o poeta num
único olhar, o filho! ...
Poema especial, amigo Manuel!
Beijo.
Gostei muito.
Amigo Manuel, para além dos sonhos enevoados, da brisa agreste, das solidões feridas e para além das ilusões perdidas, há o amor imaculado, que se exprime, através deste poema em que o poeta (embora dolorido)só tem olhos para o filho. Amei demais meu amigo. Muitas felicidades aos dois e beijos com muito carinho
Verticalidade... no seu melhor... de pai para filho!
Impecável, Manuel!
Beijinho
Ana
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