(…)
“Manuel
Veiga, neste romance em que subverte, como experiência diegética, as normas
aristotélicas, investindo nos processos brechtianos, que Barthes também
defendia, da fragmentação discursiva, anti-aristotélica, o espaço é arquétipo,
diz o autor, expressa claramente estes sinais. A par, naturalmente, de uma
contextualização autobiográfica do conflito e da vida (os amores, o medo, as
vivências, as memórias geracionais que Manuel Veiga, com hábil contenção
narrativa, introduz no corpo discursivo): uma dimensão pedagógica e pragmática;
a assunção da verdade como método estruturante do narrado, o estigma da culpa e
da responsabilidade, a determinante intervenção no discurso do
narrador/protagonista, do autor/personagem, uma dextra capacidade de ficcionar
os factos, de reflectir sobre os elementos do vivido entrelaçando-o com a
reflexão do tempo social, afectivo e histórico – e o sujeito como interlocutor
privilegiado entre o narrador omnipresente e o leitor.
(---)
Se o acto
de escrever é um processo de responsabilização – cultural, cívico e ético,
Manuel Veiga, ao tratar neste livro a língua e as palavras com o peso e a
substância simbólica que elas devem ter, e nessa busca de signos se alimenta (o
que já acontecia em Notícias da Babilónia), que da guerra, e da vida, traça
amplas similitudes entre a realidade e a ficção, entre o discurso íntimo e a
exposição pública que os conflitos, por serem do domínio do histórico, implica,
mesmo quando a palavra fica angustiantemente presa na liana, a escrita de Manuel
Veiga atinge, quase sempre, esse estágio supremo de configuração, de imanente e
visceral criação literária, acrescentado ao discurso os elementos eufóricos e
disfóricos da sinceridade: emocional, ideológica, afectiva, sexual.
Raramente
a literatura portuguesa deu a dimensão trágica, o absoluto do drama, do épico,
como nos textos em que a Guerra Colonial surge como suporte ficcional. É a
tragédia do homem só com sua consciência, com o seu conflito entre o dever, a
justiça e a dignidade – o homem e o seu estupor existencial, a sua
circunstância, em estado de inquietação e perplexidade, e esses estágios do
ser, essa essência, raramente a literatura portuguesa conseguira traduzir tão
rigorosamente.
Outro dos
elementos que Manuel Veiga introduz no discurso narrativo é o do humor, do
sarcasmo, da ironia, da capacidade de auto-análise, de desmontagem do drama
(simultaneamente individual e colectivo) através do humor; a distanciação do
objecto ficcional, a contenção do trágico.
Este novo
livro de Manuel Veiga, estes fragmentos cumulativos que atravessam as memórias
da infância, da adolescência, da descoberta do medo, do amor, do absurdo,
dão-nos um romance modelar nos seus plurais modos de dizer, de (d)escrever um
dos períodos mais sofridos, em termos sociais, históricos e políticos (mesmo
quando o sujeito está fora da história, repete o autor), da segunda metade do
século XX português. Um épico geracional que nos diz, que rigorosamente, na sua
assumida dispersão narrativa, nos reflecte e questiona.
Um livro
mais a juntar ao largo espectro canónico da literatura que expressa o conflito
Colonial, mas que transcende esse período, esse tempo mordente e ácido: abre a
outras e mais profícuas coordenadas, ao investir nos modos de abordagem
estética, do fenómeno literário”.
Abril 2018
Domingos
Lobo, escritor, poeta e crítico literário
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Nota:
"Do Amor e da Guerra" está em fase de edição. Será apresentado no final do próximo mês de Maio e estará disponível nas livrarias durante o mês de Junho.
M. V.
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Nota:
"Do Amor e da Guerra" está em fase de edição. Será apresentado no final do próximo mês de Maio e estará disponível nas livrarias durante o mês de Junho.
M. V.
13 comentários:
Muito bom este texto. Parabéns
:))
Hoje:- Ainda chove no meu caminho...
-
Bjos
Votos de uma boa noite
Caro amigo,
Este preâmbulo de Domingos Lobo é um tentador convite para desvendar os rincões d"as memórias da infância, da adolescência, da descoberta do medo, do amor, do absurdo, dão-nos um romance modelar nos seus plurais modos de dizer, de (d)escrever um dos períodos mais sofridos, em termos sociais, históricos e políticos (mesmo quando o sujeito está fora da história, repete o autor), da segunda metade do século XX português."
Contentíssimo do lado de cá por saber que acabou de sair da "forja" uma nova produção e parabenizá-lo pelo trabalho.
Fortíssimo abraço,
Pelo texto do Domingos Lobo, e que presumo tratar-se do prefácio, o teu livro merece ser lido. Por isso, vou ver se o encontro.
Parabéns por mais este livro e muito sucesso.
Bom fim de semana, caro amigo Veiga.
Um abraço.
Amigo Manuel,
Fico feliz de verificar o livro pronto, com um belíssimo
título sugestivo ao leitor e uma capa maravilhosa (acompanhei
atenta nas leituras aqui...) e uma apresentação literária de
alto nível, perfeita na grandiosidade descritiva pelo fato da
genuína grandiosidade literária, em perfeita e original arte do
livro e do autor.
Imagino o encantamento e o prazer que o escritor e crítico
literário, Domingos Lobo teve no exercício da leitura e
apreciação literária do teu livro, caro Manuel.
Muito sucesso e felicidade neste teu projeto literário
de grandeza a conquistar um patamar na literatura, meu amigo.
Bjos.
do teu livro
uma criação literária só ao alcance dos melhores. também dos maiores.
o que penso seja parte do prefácio, da autoria de domingos lobo, faz jus à qualidade dum seu par.
genuinamente, estou feliz por este anúncio e não poderia deixar de o dizer e dar-te os parabéns.
do conto 'a merência', diria o mesmo:
é extraordinário. e eu igualmente aguardo que faço parte dum novo projecto: contos.
força, saúde e vontade é o meu desejo, porque quanto a qualidade, ela está patente.
abraço.
Olá, Manuel
Temos Obra. Aliás, já existia antes de ser editada.
Penso que são os "Fragmentos" que aqui nos apresentou,
não é? Os meus Parabéns. Terei todo o gosto em folheá-la
e apreciá-la como merece.
Abraço
Olinda
Embora tenha acompanhado os teus "Fragmentos", caro amigo Manuel, não me dispenso de sentir a obra impressa. Terei, assim, um enorme prazer em estar presente numa das apresentações.
O prefácio é de elevado nível, como a qualidade literária "Do amor e da guerra" merece. Um título que considero muito sugestivo. Julgo que, pelo menos, a geração que foi tocada pela guerra colonial não lhe ficará indiferente.
Grande abraço de parabéns e votos de muito sucesso.
Nasceu mais um filho de Manuel Veiga!! Imagino a sua felicidade, meu amigo!! Livros têm espírito, têm alma, tem tudo do escritor, toda a criação.
Lembro, que ainda criança, ia nas sessões de autógrafos de meu pai, e sempre pensava, ah, como meu pai trabalhou nesse livro! Como se doou. Mas ao mesmo tempo via a sua satisfação.
Desejo a você muito sucesso, muitas alegrias com "Do amor e da Guerra"! Penso que vamos ler alguns fragmentos por aqui!
Beijo, amigo, parabéns para esse escritor poeta que muito estimo!
Caro Manuel nos dias que correm, em que a Internet vai tomando espaço em demasia, é sempre muito estimulante saber que os escritores ainda continuam publicando os seus livros. Espero que no final do mês de maio você tenha uma legião de leitores e de amigos no dia destinado aos autógrafos. Sem dúvida, amigo Manuel, o sucesso haverá de premiar sua nova obra. Minhas efusivas felicitações.
Ótimo domingo.
Grande abraço.
Pedro
Pois lá terá de ser, se não aparecer nas livrarias cá da terra, terá de vir pelo correio!...
O tipo que escreveu este texto, levou-te quanto? Faço-te o epílogo!
Abraço sem fragmentos
Pata Negra,
a encomenda do texto foi a crédito.
e vai demorar duas ou três eternidades até acertarmos as devidas contas!
mas vai dar certo!
Abraço arrochado
ainda pensei fazer o lançamento no dia 1 de Maio, que é único dia que vens a Lisboa - mas fica para o próximo
Então, Manuel, publicas outro livro e não dizes nada? Gostei de ler o texto de Domingos Lobo.
Uma boa semana.
Um beijo.
Muitos parabéns, Manuel! Votos de muito sucesso, para o novo livro!
O texto de Domingos Lobo, aguçou-me a curiosidade, sobre o mesmo!
A guerra colonial... ainda tão presente na memória de tantos... e contudo, tão pouco conhecida, das gerações pós 25 de Abril...
Livros assim fazem muita falta, para memória futura!...
Beijinho
Ana
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