terça-feira, maio 29, 2018

Sei De Minha Sede....

Sei das fontes e das festivas águas.
E sei das lendas. E de moiras a bailar
E dos fios do luar.
E sei das noites
Cálidas.

E sei de ledas fantasias.
E de harpejos murmurados
E de folias.

E sei de minha sede
A crestar-me os lábios. E da água
Bebida pelos dedos. E sei de furtivos beijos.
E da cascata dos cabelos
Negros. Já passados.

E sei do colear das ancas.
E das ânforas.

E sei daqueles olhos. Estouvados.
A arder em chamas.Vivas.

E sei das pálpebras descidas.
E dos enleios. E dos seios. E dos dedos.
E sei dos medos –“que se faz tarde”!
E sei da lua a espreitar -
Linguareira.

E sei desta subterrânea corrente.
A soltar-se em lava. E sei deste cântico.
E desta dor funda. Derradeira.
E deste deslassar dos ecos
Pelas margens da ribeira.

E sei da música do tempo
E desta memória em flor. A teimar
Alvoroçada.

Manuel Veiga







7 comentários:

Larissa Santos disse...

Muito, muito bom:))


Hoje:- Fim de tarde, de amor contagiante .

Bjos
Votos de uma óptima Terça-Feira.

LuísM Castanheira disse...

dois grandes poemas, estes últimos.
(ah, bendita inspiração e mestria -outra vez rsrs).
uma semana óptica, meu caro amigo Manuel Veiga


Teresa Almeida disse...

"E deste deslassar dos ecos
Pelas margens da ribeira."

É a arte da escrita. É a festa da vida e de quem lhe sabe colher "a memória em flor".
Parabéns, caro amigo, por esta retemperadora "música do tempo".

Beijo, Manuel.

Julia Tigeleiro disse...

A confusao de odores, toques e olhares tornaram este momento muito belo. Eu sei que e lindo, muito lindo. Abraço.

Olinda Melo disse...


Bem. Um mundo este poema. Tudo existe nele. Simultaneamente, contido e alvoroçado. Um manancial que se nos oferece mas, também, a SEDE continua ali.
Uma emergência. Um tempo a emergir do fundo dos tempos.

Uma Antologia que, se todo o seu conteúdo se espelhar no poema que acabo de ler, será, então, uma Obra de vulto.

Abraço

Olinda

deep disse...

Muito bonito. :)

Bom fim-de-semana. Bj

Ana Freire disse...

Lindíssima, esta sede de viver... tão bem transposta em palavras!...
Mais uma magnífica inspiração, que foi um prazer apreciar e descobrir...
Beijinho
Ana

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