JOSÉ MANUEL TENGARRINHA
12 Abril
1932 – 29 Junho 2018
"Durante o
Estado Novo o aparelho repressivo policial raramente se fez sentir directa e
violentamente sobre a Seara Nova. Os
seus colaboradores eram notoriamente contra o regime, colaboravam activamente
nas campanhas políticas anti-salazaristas, por vezes eram mesmo candidatos nas
listas oposicionistas, frequentemente eram presos e sofriam duras perseguições
pessoais, mas o grupo, como tal, não era sistematicamente atingido.
Tal se
devia ao facto de, desde a sua origem, a Seara
Nova, como agrupamento, ter sido constituída por personalidades de alto
nível intelectual e incontestada estatura moral e cívica, que deram contributos
assinaláveis para a solução dos graves problemas que o País atravessou desde a
década de 1920.
A sua participação em governos da I República e as suas
propostas sectoriais e globais sobre a realidade portuguesa eram
reconhecidamente muito válidas, situando-se num plano superior ao dos duros
confrontos partidários que tornavam dificilmente governável este país. É bem
explícito o que, a esse respeito, declara no editorial do número 1, em 15 de
Outubro de 1921:
"A SEARA NOVA representa o esforço de
alguns intelectuais, alheados dos partidos políticos, mas não da vida política,
para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interesses
inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera
mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências e em
que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas
necessárias à vida nacional".
O grande
grito de alarme dá-se no número 12, de 15 de Abril de 1922, com o editorial
intitulado "Programa mínimo de
salvação pública", um dos mais esclarecidos e enérgicos protestos que
então se publicaram.
Com a
instauração do Estado Novo começa uma nova fase. Agora, o aparelho repressivo
incide especialmente sobre os conteúdos da revista. Era preciso evitar o lápis
azul da censura. Um dos artifícios foi a publicação de uma secção, na última
página, intitulada "Factos e documentos", onde eram inseridos
excertos de textos publicados na imprensa ou em livros que contivessem alusões
críticas, mais ou menos sub-reptícias, ao Estado ditatorial. Aí, os mais
visados foram os discursos do então presidente da República almirante Américo
Tomás e a obra de Camões, nomeadamente Os Lusíadas. Ao passo que não sofriam
censura os textos de um tal Vladimir Ilitch (a que não era junto
"Lenine") ou as considerações sobre a evolução do capitalismo de um
não menos desconhecido Carlos Marques (Karl Marx, este sim conhecido dos
censores).
Mas os
artifícios, por mais engenhosos, não impediam que, sobretudo desde a
instituição do S.N.I. (Fevereiro de 1944) a censura redobrasse a sua atenção
sobre os textos da Seara Nova e, já na década de 1950, fizesse cortes tão
extensos que obrigavam os redactores a improvisar rapidamente textos para
garantir a saída da revista.( ...)
José Manuel Tengarrinha
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