sexta-feira, agosto 17, 2018

SEI DAS FONTES ...


Sei das fontes e das festivas águas.
E sei das lendas. E de moiras a bailar
E dos fios do luar.
E sei das noites
Cálidas.

E sei de ledas fantasias.
E de harpejos murmurados
E das folias.

E sei da minha sede
A crestar-me os lábios. E da água
Bebida pelos dedos. E sei de furtivos beijos.
E da cascata dos cabelos
Negros. Já passados.

E sei do colear das ancas.
E das ânforas.

E sei daqueles olhos. Estouvados.
A arder em chamas.Vivas.

E sei das pálpebras descidas.
E dos enleios. E dos seios. E dos dedos.
E sei dos medos –“se faz tarde”!
E sei da lua a espreitar -
Linguareira.

E sei desta subterrânea corrente.
A soltar-se em lava. E sei deste cântico.
E desta dor funda. Derradeira.
E deste deslassar dos ecos
Pelas margens da ribeira.

E sei da música do tempo
E desta memória em flor. A teimar
Alvoroçada.

Manuel Veiga

Antologia de Autores Transmontanos e Durienses"
 Edição da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
Lisboa 2018





1 comentário:

Agostinho disse...

Um hino à Vida!
Palavras expressas num regalo, os sentimentos impressos, aqui, da alma humana, desde ascestrais tempos em que rocha era rocha, chão era chão, água era água, ar era ar e todos os elementos se alimentavam de amor.
Abraço amigo.

  CADÊNCIAS ... 1. Enamoramento das palavras No interior do poema. E a subversão Do Mundo… 2. Cadências mudas. Em formação De concordâncias....