quarta-feira, outubro 31, 2018

Caminheiro Sem Pressa ...


Deixo que rios secos e tempestades de sons ausentes
Na memória de outros maios se inscrevam na saliva
Das palavras balbuciadas em que digo amor em fim de tarde.
E assim administrando amoras tardias em círculo de sol dos 
Lábios ciosos destes gestos que se derramam inesperados
Frutos desprendendo-se de maduros ou chuvas
Em deserto absorvidas.

Viajo caminheiro sem pressa recostado nas bermas
Celebrando as sombras e as festivas giestas outonais
Sorvendo o mel das silvas soltando revoadas
Tordos espantados que riscam o abismo dos olhos.

E ai me perco nessa voragem matizada de cores quentes
Nos odores persistentes na humidade translúcida dos beijos
Na generosidade dos seios no declive dos lábios e no cio
Das colheitas e na sofreguidão de cestos antes das uvas.

E nas ondas que arrebatam e na ferida aberta
E nesta lava e neste de lume que me consome
E nesta festa a explodir em pulsão de madrugada...


Manuel Veiga

(Poema editado)



domingo, outubro 28, 2018

TODOS OS RIOS SÃO A MESMA SEDE...


São os deuses por vezes traiçoeiros em seu delírio
E das pátrias decidem as bandeiras
Como destino dos homens.

Em cada dor há, porém, uma tempestade
E um golpe de mãos acesas
Sem fronteiras.

Nada do que é humano respira sozinho.
E os Povos não capricham os oceanos.
E todos os rios são a mesma sede
E crestados lábios.

E todas as fomes se somam
E todas as angústias são látego colectivo.

E em cada luta há sempre um afago indefinido
E em cada muro um grito subterrâneo
Que explode em cada gesto
De dizê-lo.

Nada os deuses nos devem!
São os homens em seu rasgo demiúrgico
Quem a si próprios se inventam. Em cada dádiva
De amor rebelde. E liberdade

E quando um Povo sofre (ou se liberta)
É toda a Humanidade!…


Manuel Veiga

(Poema editado)



sexta-feira, outubro 26, 2018

FORÇA, BRASIL ...



"Do Amor e da Guerra" - O FIM





(...) “a voar no espaço celestial, em harmoniosa formação de “Ordem Unida”, um coro de magníficas vozes, dirigido pelo Prof. Filomeno, que a remissão de seus pecados e a sua enorme paciência e tolerância com um “bando de reguilas estudantes”, antecipando um “bando de reguilas alfacinhas”, capitaneados pelo “cabo da Cifra” “Bonanza”, tipógrafo da Imprensa Nacional, que cabo da cifra já não era, a pinchar clandestinamente os muros de Lisboa “Viva a Liberdade!”, assim o anteciparam os reguilas estudantes de um Liceu, algures no norte do País, a escrever no quadro negro com giz vermelho “Viva Humberto Delgado, o general sem Medo!” para pânico e desespero do Prof. Filomeno, que estudantes, imprudentes, lhe estragavam a vida, e agora, neste tempo sem tempo, a harmonizar e fundir, no mesmo amplexo divino da música de Bach, os dois grupos de reguilas, estudantes e operários, irmanados no mesmo desígnio redentor da Pátria profanada pela injustiça e pela guerra, ambas filhas do Diabo.

(…) “E, naquele tempo sem tempo, em que os sonhos residem, a bolanha acesa era, então, água negra de mil decomposições, fétida, arrastando detritos e todas as sínteses, como o caldo primordial de todos os acasos de vida, esqueletos, carapaças, jacarés apenas olhos seguindo a presa, algas venenosas, insectos, batráquios, vermes, minúsculos seres, quase invisíveis, filando-se na carne dorida de homens inocentes”.

“E sobre eles, homens inocentes, o Céu a abrir-se em esplendor de Luz e Cor, qual La Nave, de Fellini (ou seria o Uíge?) e toda a Paródia da Vida, em metamorfose, rodopiante no espaço!...”

“Acordou o narrador. Sobre a cidade, uma manhã de sol primaveril. Era um dia “claro e límpido”! Floriam cravos vermelhos no cano das espingardas!...



FIM

Este livro é, de alguma forma, fruto também
dos comentários e palavras de estímulo aqui deixados!
A todos/as a minha gratidão

Beijos e Abraços


terça-feira, outubro 23, 2018

SERENOS CORREM OS RIOS...


Serenos correm os rios e com eles
As tumultuosas águas se enternecem e se dobram
Na plácida hora. Nada neste estio
Se agita para além do sonho
E do sobressalto do sangue
Em louvor dos afluentes:
Sons que distantes
Celebram os percursos
Da memória
Incendiada…

Sou este percurso de sílabas
De um alfabeto inventado
Em que me digo nesta vertigem
E nos inaudíveis sons
Que respiro no alvoroço
Das margens…

E nesta torrente de plenas emoções
E dulcíssimas águas…


Manuel Veiga

(Poema editado)

sábado, outubro 20, 2018

De Regresso à CASA - Epílogo - Do Amor e da Guerra


 (…) e a extensa fila de almas, fora do tempo e do espaço, a agitarem-se e a protestarem o respectivo lugar na ordem de chegada, pois apenas entram no Céu aqueles que nele acreditam e o Soldado Assobio, misto de Arcanjo S. Miguel e de bobo, saído de qualquer página de Gil Vicente, sem mãos a medir, a registar e a pesar a almas e gritar “ó da barca!” e a encaminhá-las, as almas, para a barca do Céu ou para a barca do Inferno, conforme o respectivo peso, e agora neste tempo fora do tempo, o glorioso Padre Manuel, tio e padrinho de Raquel, por sua santidade nomeado Prior-mor do Reino dos Céus, a chegar à porta para serenar o chinfrim do dito Manoel Caetano. avô paterno do Alferes de Cavalaria, que alferes foi, oficial adjunto do Comandante de Companhia, por acaso de graduação militar e seu padrinho de baptismo, algures numa aldeia ignorada no norte do País, bem como o Padre Casimiro, que de padre tinha o direito de rezar missa, mas ele a rezava quando muito bem entendia, que outros afazeres e prazeres o corpo lhe pedia, unha com carne, Padre Casimiro e Manoel Caetano, que ambos se negavam a entrar no Céu sem as pipas de vinho e os presuntos que com eles traziam, pois Céu não concebiam sem boa pinga e uma boa lasca, mais a mais o Assobio descobrira na nesga do registo de almas, serem ambos putanheiros e brigões, de tal forma que o Arcanjo Assobio lhes negava a entrada no Céu, não fossem eles, brigões e putanheiros, a desfazer o equilíbrio perfeito da Santíssima Trindade, o que seria o verdadeiro Caos, com o Céu e o Inferno a confundirem-se e misturarem-se e, daí então, a alma piedosa do Padre Manuel, Prior-mor do Reino dos Céus, a garantir ao atarantado Arcanjo Assobio que conhecia aquelas almas há mais de uma Eternidade e que eram, apesar dos seus exageros, almas generosas e pias e que aquilo escrito nas laudas do registo de serem brigões e putanheiros eram calúnias levantadas pelos “talassas” do Paiva Couceiro, que nos tempos idos da “traulitada monárquica” no norte do País, apenas os dois, Padre Casimiro e Manoel Caetano, valentes e feros, à força de bordoada, correram com a secção de “talassas”, aboletados na sede do Concelho e arriaram a bandeira monárquica do edifício da Câmara Municipal e, em seu lugar, como era devido, colocaram a bandeira da República, removendo assim um inesperado obstáculo ao livre curso dos desígnios da Divina Providência, sendo de levar também a julgamento, como atenuante dos dois amigos, brigões e putanheiros, a circunstância do Padre Casimiro, com sua imensa Sabedoria das coisas do Mundo, ter salvo o jovem Aspirante a oficial miliciano, tenro ainda, em primeira recruta, que aliás exibe o nome honrado de seu avô, Manoel Caetano, das garras e da cobiça da menina Gertrudes, mais conhecida por “Papa alferes” e de sua tia Dona Miquelina, que a imensa Misericórdia e Bondade de Deus as levou para o seu Santo Regaço e fez delas as faxineiras do Céu e, assim, disse, ao atarantado Arcanjo Assobio, a alma do santo e piedoso Padre Manuel, que morreu, como bom pastor, no exercício de seu múnus sacerdotal, rodeado de suas ovelhas, que nunca lhe faltaram com a côngrua e, louvado seja Deus, nem com a assistência à missa, roído por uma ferida ruim que lhe corroeu a garganta e agora por mercê de Deus, Todo Poderoso, Prior-mor do Reino dos Céus e, assim dito, se aprestou, ainda que contrariado, o atarantado Arcanjo Assobio, que “apoucalhado” fora e agora, neste tempo sem tempo, zeloso pesador de almas, a deixar passar para a Glória dos Céus os dois amigos brigões e putanheiros, as pipas de vinho e os presuntos, sem que S. Pedro, em breve (ou propositada) soneca, tivesse dado por conta. Assim se abriram as portas do Céus, aos dois amigos, feros e brigões, mas capazes de darem a camisa, a quem, dos seus, dela precisasse e, em cortejo celeste, guiados pela alma tísica do Padre Francisco, a quem as humaníssimas dores e o amor de Raquel haviam resgatado das chamas do Inferno (…)


Manuel Veiga
“Do Amor e da Guerra” – Epílogo
Romance – edição Modocromia 



Fecha-se o ciclo em beleza!
"DO AMOR E DA GUERRA" na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro - Lisboa

No final será servido Moscatel do Douro acompanhado de Folar de Trás-os-Montes e, para aqueles/as de gostos mais "substanciais", pasteis de bacalhau e vinho tinto da região.

Seja Bem Vindo/a
Quem Vier Por  Bem! ...




quarta-feira, outubro 17, 2018

QUANDO O MOMENTO FOR ...


Quando o momento for, serás regresso.
E encontrarás a mesa posta E os melhores vinhos.
E eu serei distante. Sentado na soleira.
A dedilhar minhas contas.
E a contar os dias…

E quando vieres, reconhecerei teus passos
No alcatifado da folhagem. E na ansiedade
Imaculada do encontro alvoroçado.
E no sopro da brisa. A suspender
A agitação da tarde…

E os rios da memória serão regatos
Incendiados. E flores selvagens.
E luminescências cativas,
A saltitar nos olhos…

E serás nota tresmalhada de um piano.
E o coro melancólico das igrejas.
E o restolhar do tempo
Em prece muda. E o alvor
Das madrugadas …

E quando então chegares
Seremos a festa dos sentidos. E fogo e água
No leito perfumado
Das palavras…

Quando tu chegares!…


Manuel Veiga


CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - BRASIL - HELDER COSTA



“CARTA ABERTA
Ao Presidente Fernando Henrique Cardoso

“Sou português, dramaturgo, encenador, também director do grupo de teatro “A Barraca”, com Maria do Céu Guerra. Desde 1980 deslocamo-nos ao Brasil com vários espectáculos e trabalhamos em conjunto com a vossa classe teatral. Criaram-se laços de amizade, confiança e extrema Fraternidade.

Sentimos o Brasil como uma outra Pátria e preocupa-nos a possibilidade de esse magnífico país cair nas garras da renascida águia Imperial Nazi. A nossa experiência europeia é bem dolorosa, como todos sabem. As divisões partidárias com a teimosia persistente do dogmatismo e sectarismo, a recusa de entendimento e acordo geral, conduziram (e serão sempre o caldo cultura) de várias derrotas frente à barbárie desumana, ao analfabetismo intelectual e cívico, ao renascimento de massacres e vários Holocaustos.

Entre as guerras, alguns proeminentes intelectuais – Bertrand Russel, Romain Roland e muitos outros – tentaram levantar a bandeira da Paz contra a iminência da guerra total predatória. Esforço sério que não resultou, e até Zweig se suicidou no Brasil que ele nomeava como o país do futuro.

Como é possível não ver a nuvem negra que se espalha pelo mundo alimentada pelo vampirismo, pela falsa Ciência de verdadeiros Frankesteins que criam os monstros modernos das epidemias, das mentiras, das ilusões místicas, desarmando as vontades e o raciocínio? Não resisto a recordar a experiência portuguesa.

O seu amigo Mário Soares foi Presidente da República graças à decisão de Álvaro Cunhal, dando essa directiva de voto ao Partido Comunista. O mesmo Mário Soares nos seus últimos anos foi o grande obreiro do início pela unidade de esquerda que iria tomar o poder e tão bons resultados tem dado a Portugal.

O Brasil atravessa uma grave situação de crise e desespero. É precisamente a altura de os parceiros progressistas se entenderem para evitar a catástrofe. Para esse triunfo – em que todos acreditamos – a decisão de Fernando Henrique Cardoso apelar à unidade de voto contra Bolsonaro, o inimigo público nº 1, será um trunfo imbatível.

Assim o esperamos, Bem Haja!

Hélder Mateus da Costa
Lisboa, 16 de Outubro 2018

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 "A DEMOCRACIA CONSTRÓI-SE COM ACTOS
GRANDES E PEQUENOS ! ..."

segunda-feira, outubro 15, 2018

MADRIGAL ...




“Descalça vai para a fonte/Leonor pela verdura /
Vai formosa mas não segura”

Luís Vaz de Camões



Madrigal …

A Beleza e a Formosura
Parecem, por vezes, iguais.
Mas a Beleza não tem usura
E a Formosura a tem demais...

Por isso, se alguém te disser
Se preferes ser bela ou formosa
Responde-lhe que não és Rosa
Que tens Beleza de Mulher!...


Manuel Veiga


quinta-feira, outubro 11, 2018

Do Karma dos Apoucalhados - "Do Amor e Da Guerra"


“(...) E se bem reparares, Maria Adelaide, a tua própria sina é marcada indelevelmente pela constância dos “Apoucalhados”, ao longo dos tempos. Não carregues a contrariedade, minha querida, pois é mesmo como te falo, bem como esta narrativa, que outra coisa não pretende ser senão o embotado reflexo do espelho em frente do qual nos desnudamos, teria justificação ou sentido, nem, porventura, haveria narrativa, pois que, nela, a tua existência não seria. Bastaria, para tanto, que, algures perdido num lugar distante, não nos inóspitos cumes da Gardunha, mas noutro local mais interior ainda, onde o santo padre Manuel, tio de Raquel, a sereníssima e imperial Raquel da infância, já roído da “ferida ruim” que o haveria de levar, não tivesse ungido, com o nome João, na antiquíssima e românica pia baptismal da Igreja Matriz, um robusto infante, filho do Zé Manhas, jogador da batota e cantador de fado, sem nada de seu que não fosse sua desempenada figura e a poderosa “lábia”, casado com a senhora tua sogra, donde saíra o rebento, que teimou, a exemplo do pai, na ganância de que “haveria de casar rico” e que a ti, Maria Adelaide saiu na rifa, para descanso de teu extremoso Pai e o amaciamento de tuas “verduras” contestatárias, como jovem universitária, que fostes.

Ora todo este enredo, todos estes nós de acaso, apenas ganham sentido porque um “apoucalhado” lhes dá coerência e sentido, pois se ele não fora, se “pobre de espírito” não fosse, nunca, por todos os “nunca”, o Zé Manhas, jogador de batota e cantador de fado, por afinada que fosse sua “lábia”, jamais levaria ao altar a mãe do João e tua futura sogra e com ela o robusto património dos três irmãos órfãos, pois que, se “apoucalhado” não fosse o irmão do meio, de sexo masculino, seria dele naturalmente, pela sua condição de homem a administração da próspera casa de lavoira e não a irmã mais velha, valente senhora, mas mulher, e então o “vivaço” do senhor teu sogro, conhecido pelo Zé Manhas, se ao assédio sentimental se atrevesse, levaria uma exemplar corrida de pau, face ao atrevimento de ousar órfã, sua irmã, rica e prendada, fora do alcance e dos sonhos de um qualquer “pilha galinhas”, perdão, pilha donzelas, e tal inadmissível casamento não seria realizado e, portanto, não teria sido e, então, não existiriam, nem sogro, nem João, teu marido, meu amigo de infância, nem certamente aproximação entre nós, nem as tuas pernas descuidadas teriam oportunidade de se sentarem no tampo da minha secretária, para deslumbre e prazer meu, nem haveria a gloriosa Monica Vitti, nem Antonioni, nem o “Eclipse” no cinema Quarteto, nem beijo ardente, nem nossos corpos, nem febre de desejo e nossas vidas outras seriam e outros os fragmentos, se fragmentos houvessem, em vocação de literatura.

Por isso, Maria Adelaide, não julguemos os “apoucalhados”, nem queiramos a barca que levarão suas almas, nem menosprezemos os seus poderes (ocultos), que muito bem podem, sem nos darmos conta, determinar o destino do Mundo, quiçá do Universo. E se, outro mérito não tiverem, servirão, ao menos, os “apoucalhados” para testemunhar a fragilidade dos “acasos”, em que nossas vidas de despenham. Aliás, Maria Adelaide, o próprio “Assobio”, o “apoucalhado” ou “pobre de espírito”, que chegou à recruta militar, com três dias de atraso, como encomenda extraviada e de que temos vindo a falar, pois dele decorre o emaranhado fio que mantém à tona a narrativa, que, aliás, no tempo e no modo, lhe é absolutamente estranha e que apenas o “corpo mítico” da escrita lhe permite o (in)sustentável peso para nela figurar, irá ter, como adiante se saberá, decisivo lance na evolução deste enredo (…)”

Manuel Veiga
“Do Amor e Da Guerra – Fragmentos” (excerto)


terça-feira, outubro 09, 2018

SEARA NOVA - Outono 2018 - Nas Bancas


DESTAQUES:


. O grande assalto ao património público - Carlos Carvalhas.

. Legislação do Trabalho: novas alterações, a mesma matriz - Joaquim Dionísio

. Papiniano Carlos, nos 100 anos do seu nascimento - José António Gomes

. José Vianna da Motta e a ideia de uma música nacional - Christine Wassermann Beirão



domingo, outubro 07, 2018

Homenagem Póstuma ao Meu Amigo JOÃO VICENTE


 Granítica Esperança...

Colapsam as palavras na voragem
Das paisagens geladas. Lonjuras
Que apenas os ventos
Ousam.

Grito perdido das fragas
Em arremesso de dor. 

Tentativa de ir além do azul coalhado
E das farripas de bruma que incendeiam os vales
Penitências aladas no milagre
De todas as lembranças...

Fantasmagorias debruçadas sobre as casas
Perdidas. Solidão de cabras balindo a urze.
E as magras tetas.

Ventres que se abrem nas encostas
Em presépios de abandono.
E lá no alto a íngreme
Penitência das dores
E todas as promessas:
 - Pagãos que somos!

Guardamos o inesperado.
E colhemos no núcleo de afectos o gosto
Do vinho raro que bebemos. Confortados.
E a água que calamos.

E agitação febril dos olhos.
E dos sonhos.

Imensos na granítica esperança
Tatuada no rosto dos homens.
Verdadeiros...


Manuel Veiga
(Poema editado)



quarta-feira, outubro 03, 2018

FERVOR DE LIBERDADE ...


Colapso dos barcos na dança das marés.
E de todas as armadas e todas frotas como cisco
Dos dias poluídos.

E águas límpidas e todos os oceanos. Marés-vivas
E ondas a arrebatar os céus.

E neste rasgo a cor azul será ígnea.
E os olhares serão fronte altiva no espelho das horas.
E todas as casas serão habitadas quais cabanas
Clandestinas.

E todos os poderes mesquinhos abatidos.

E então todas as flâmulas caladas se poderão erguer
E todas as bandeiras. E todas as rotas. E todos os caminhos.
E todos os atalhos. E todas as gazuas.
E todas as entradas serão achadas.

E todas as dores. E todas as mulheres paridas
E todas as mulheres perdidas.
E todos os milagres.

E todas as brigas. E todas as facas.
E todas as marcas de meu corpo. Ardidas.

E todas as esperas. E todas as demandas. E todo o anúncio.
E todos os prenúncios. Serão Palavra tatuada.
E fervor de Liberdade.


Manuel Veiga






CELEBRAÇÃO DO TRABALHO

  Ao centro a mesa alva sonho de linho distendido como altar ou cobertura imaculada sobre a pedra e a refeição parca… e copo com...