quarta-feira, outubro 03, 2018

FERVOR DE LIBERDADE ...


Colapso dos barcos na dança das marés.
E de todas as armadas e todas frotas como cisco
Dos dias poluídos.

E águas límpidas e todos os oceanos. Marés-vivas
E ondas a arrebatar os céus.

E neste rasgo a cor azul será ígnea.
E os olhares serão fronte altiva no espelho das horas.
E todas as casas serão habitadas quais cabanas
Clandestinas.

E todos os poderes mesquinhos abatidos.

E então todas as flâmulas caladas se poderão erguer
E todas as bandeiras. E todas as rotas. E todos os caminhos.
E todos os atalhos. E todas as gazuas.
E todas as entradas serão achadas.

E todas as dores. E todas as mulheres paridas
E todas as mulheres perdidas.
E todos os milagres.

E todas as brigas. E todas as facas.
E todas as marcas de meu corpo. Ardidas.

E todas as esperas. E todas as demandas. E todo o anúncio.
E todos os prenúncios. Serão Palavra tatuada.
E fervor de Liberdade.


Manuel Veiga






6 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...


Manuel, esse poema de Saramago, de quem eu sempre gostei, cantado pelo ótimo Manuel Freire (que deu-me a conhecer a Pedra Filosofal, de Gedeão), é maravilhoso. Não tinha escutado por Freire, que lindo!!

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.


Beijo, meu amigo, que bela postagem.


Tais Luso de Carvalho disse...

À parte, o comentário para 'Fervor de Liberdade':

E todas as esperas. E todas as demandas. E todo o anúncio.
E todos os prenúncios. Serão Palavra tatuada.
E fervor de Liberdade.


Que força existe nesse poema!
Beijo, meu amigo.

Jaime Portela disse...

Fervor da liberdade, sempre.
Excelente poema, gostei imenso.
Caro Veiga, bom feriado e bom fim de semana.
Abraço.

Marta Vinhais disse...

Um grito forte....
Brilhante....
Beijos e abraços
Marta

Teresa Almeida disse...

Que dizer a tão ardente demanda?
É um poema inscrito no peito dos que amam a liberdade e dos que usam a palavra como gazua. Fervor esse que, em ti, não me surpreende.

Bravo, meu amigo Manuel Veiga!

Beijo.

Agostinho disse...

E que o "cisco" nos arda no olho do furacão.
Bela a tua poética.
Abraço.

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