Colapsam as palavras e despenham-se na voragem
Das paisagens geladas. Lonjuras que apenas os ventos
Ousam. Pressente-se o grito perdido das fragas
Em simulacro de dor.
Vã a tentativa para além do azul coalhado
E das farripas de bruma que incendeiam os vales
Como bocas sinuosas de dragões em danças guerreiras.
Ou monges brancos em penitências aladas
No milagre de todas as lembranças...
Fantasmagorias soltas debruçadas sobre as casas
Perdidas. Solidão de cabras balindo a urze
E as magras tetas. Ventres que se abrem
Nas encostas. Em presépios de abandono...
Lá no alto a íngreme penitência das dores
E de todas as promessas:
Pagãos que somos!
Guardamos o inesperado. E colhemos
No restrito núcleo de afectos o gosto
Do vinho que bebemos.
E a água que calamos.
E agitação febril dos olhos.
E dos sonhos.
E a granítica esperança tatuada
No coração dos homens.
Manuel Veiga
7 comentários:
Caro amigo
escreveste poema?
declaro-o hino!
Um poema que é um grito de vida. Gostei que o terminasses assim: "E a granítica esperança tatuada no coração dos homens." Oxalá!
Uma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.
Se venho de um poema belo e delicado em homenagem à amizade, aqui deparo-me com a realidade sem floreios, e não menos belo, forte, intenso. Verdades que brotaram. E tudo finaliza na,
E a granítica esperança tatuada
No coração dos homens.
Beijo, Manuel, uma perfeita semana!
Um alto voo poético parece inscrever-se para lá dos montes. Por isso é duro, visionário e esperançoso. É, em suma, um grande poema.
Felicito-te, caro amigo Manuel Veiga.
Forte abraço.
Somos pagãos, sim, não de forma depreciativa mas honrando o nosso passado
Ainda bem que, além da luz alta, podemos ouvir o ruído deste poema no coração do homens. Ainda que granítica, a esperança nos chama, e nos rasga como o dia faz com a noite...
Forte abraço, meu caro poeta!
Chegaste ao cume, sem dúvida, na última estrofe, depois da subida íngreme da encosta de uma serra de imagens fantásticas.
Fizeste-me lembrar Torga.
Abraço.
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