terça-feira, maio 28, 2019

No Topo Mais Alto De Todos Os Topos

Bem no alto, no topo mais alto de todos os topos
Onde todas as bandeiras se desenham e os ventos
Flutuam abrindo espaço aos hinos e as espadas
São o faiscante sol das batalhas e as gloriosas
Demandas de todos os destinos e os passos dos homens
O pulsar ainda magma das cidades futuras e os mares
São o sonho líquido das montanhas e as caravelas
Um punho fechado de utopias pleno. Nevoeiro
E visionário rasgo de profecias alvoroçadas
E as pátrias são iniciático gesto e ombro de escravos
E os dias se contam por mistérios.

E a música é planície atonal
Sem topo e infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das estátuas.

E todas as coisas falam de seu destino
Na linguagem primordial dos afectos. E das recusas.
E se moldam qual partitura de uma sinfonia
Sem maestro. E as palavras e as coisas se incendeiam
No mesmo fogo. E se dizem numa geografia de territórios
Íntimos. Verso e reverso da mesma fala. Trama de luz
E sombra a desenhar o invisível fio dos tempos
E as brumas da História.

Então o poeta demiurgo embora
É sopro medianeiro. Apenas, E o poema desmaiado reflexo
Da metáfora do Mundo.

Manuel Veiga






10 comentários:

Boop disse...

"E a música é planície atonal
Sem topo e infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das estátuas."

Tão forte!
Só a poesia para dizer o indizivel!

Obrigada MV por traduzir o que se passa no coração dos homens.

Olinda Melo disse...


Eis o Poeta num dos seus voos mais altos. Acompanhá-lo nessa vertiginosa subida, em que toca nos pontos mais importantes e vulneráveis da História do Mundo, é obra, mas ao mesmo tempo um privilégio.

Beethoven, aqui, a maravilhar-nos com os seus acordes.

Um abraço, meu amigo.

Olinda

Teresa Durães disse...

Queria acreditar num destino. Não queria acreditar num destino. Reza a confusão do espírito

José Carlos Sant Anna disse...

"No topo mais de todos os topos" se sobressai essa poética que se impõe com a marca da sua estética, com seu poder de invenção sem a qual não há literatura que valha a pena. E assim vamos a cada conhecendo as perplexidades do poeta que, por sua vez, vai desafiando a linguagem...
Um forte abraço, Caro amigo!

Teresa Almeida disse...

"...E as palavras e as coisas se incendeiam
No mesmo fogo. E se dizem numa geografia de territórios Íntimos..."

Um poema a que voltarei. É que abre caminhos que gosto de percorrer. Com Bethoven, preferencialmente.

Na verdade és poeta de topo e é um prazer e um privilégio ler-te. E ser tua amiga.

Beijos, Manuel Veiga.

Manuel Veiga disse...


Pedro Luso disse...
Poeta e amigo Manuel gostei muito deste seu poema ("No Topo Mais Alto De Todos Os Topos"), e, dentre seus belos versos, destaco (aleatoriamente) os versos que encerram esse cantar:

"Então o poeta demiurgo embora
É sopro medianeiro. Apenas, E o poema desmaiado reflexo
Da metáfora do Mundo."

Uma boa quinta-feira, Manuel.
Grande abraço.
Pedro

30 maio, 2019 15:09

lis disse...

Um poema que se eleva como o alpinista para o mais elevado ponto
_'bem no alto'.
E meu desejo é que haja vento para trazer aos seus amigos todos os ecos.
Um abraço

Jaime Portela disse...

O destino está impresso em cada coisa, em cada vida. É uma espécie de código de barras ilegível... Restam as palavras para cantar a metáfora do mundo, sendo o poeta um medianeiro por excelência. Não todos os poetas, apenas alguns, como o meu amigo, os que sabem que as palavras e as coisas se incendeiam no mesmo fogo. E, então, o poeta é uma espécie de incendiário, numa trama de luz e sombra a desenhar o fio invisível dos tempos.
Excelente poema, saio daqui encantado e maravilhado.
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

"No topo mais alto de todos os topos", deixou o poeta inspiradíssimo!

E a música é planície atonal
Sem topo e infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das estátuas.

Beethoven veio emoldurar e somar tão belo poema!
Gostei da dupla!
Beijo, meu amigo!

Genny Xavier disse...

Caríssimo,
Há momentos especiais em que as palavras se casam tão perfeitamente na urdidura do verso que a poesia, em sua grandeza, cala a voz para transbordar a alma.
Que mais dizer? Apenas sentir seu âmago...
(especialmente embalado pelos acordes da música de Beethoven).

Beijo,
Genny

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