Onde todas as
bandeiras se desenham e os ventos
Flutuam abrindo
espaço aos hinos e as espadas
São o faiscante
sol das batalhas e as gloriosas
Demandas de
todos os destinos e os passos dos homens
O pulsar ainda
magma das cidades futuras e os mares
São o sonho
líquido das montanhas e as caravelas
Um punho fechado
de utopias pleno. Nevoeiro
E visionário
rasgo de profecias alvoroçadas
E as pátrias são
iniciático gesto e ombro de escravos
E os dias se
contam por mistérios.
E a música é
planície atonal
Sem topo e
infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das
estátuas.
E todas as
coisas falam de seu destino
Na linguagem
primordial dos afectos. E das recusas.
E se moldam qual
partitura de uma sinfonia
Sem maestro. E
as palavras e as coisas se incendeiam
No mesmo fogo. E
se dizem numa geografia de territórios
Íntimos. Verso e
reverso da mesma fala. Trama de luz
E sombra a
desenhar o invisível fio dos tempos
E as brumas da
História.
Então o poeta
demiurgo embora
É sopro medianeiro. Apenas, E o poema desmaiado reflexo
Da metáfora do
Mundo.
Manuel Veiga
10 comentários:
"E a música é planície atonal
Sem topo e infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das estátuas."
Tão forte!
Só a poesia para dizer o indizivel!
Obrigada MV por traduzir o que se passa no coração dos homens.
Eis o Poeta num dos seus voos mais altos. Acompanhá-lo nessa vertiginosa subida, em que toca nos pontos mais importantes e vulneráveis da História do Mundo, é obra, mas ao mesmo tempo um privilégio.
Beethoven, aqui, a maravilhar-nos com os seus acordes.
Um abraço, meu amigo.
Olinda
Queria acreditar num destino. Não queria acreditar num destino. Reza a confusão do espírito
"No topo mais de todos os topos" se sobressai essa poética que se impõe com a marca da sua estética, com seu poder de invenção sem a qual não há literatura que valha a pena. E assim vamos a cada conhecendo as perplexidades do poeta que, por sua vez, vai desafiando a linguagem...
Um forte abraço, Caro amigo!
"...E as palavras e as coisas se incendeiam
No mesmo fogo. E se dizem numa geografia de territórios Íntimos..."
Um poema a que voltarei. É que abre caminhos que gosto de percorrer. Com Bethoven, preferencialmente.
Na verdade és poeta de topo e é um prazer e um privilégio ler-te. E ser tua amiga.
Beijos, Manuel Veiga.
Pedro Luso disse...
Poeta e amigo Manuel gostei muito deste seu poema ("No Topo Mais Alto De Todos Os Topos"), e, dentre seus belos versos, destaco (aleatoriamente) os versos que encerram esse cantar:
"Então o poeta demiurgo embora
É sopro medianeiro. Apenas, E o poema desmaiado reflexo
Da metáfora do Mundo."
Uma boa quinta-feira, Manuel.
Grande abraço.
Pedro
30 maio, 2019 15:09
Um poema que se eleva como o alpinista para o mais elevado ponto
_'bem no alto'.
E meu desejo é que haja vento para trazer aos seus amigos todos os ecos.
Um abraço
O destino está impresso em cada coisa, em cada vida. É uma espécie de código de barras ilegível... Restam as palavras para cantar a metáfora do mundo, sendo o poeta um medianeiro por excelência. Não todos os poetas, apenas alguns, como o meu amigo, os que sabem que as palavras e as coisas se incendeiam no mesmo fogo. E, então, o poeta é uma espécie de incendiário, numa trama de luz e sombra a desenhar o fio invisível dos tempos.
Excelente poema, saio daqui encantado e maravilhado.
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Abraço.
"No topo mais alto de todos os topos", deixou o poeta inspiradíssimo!
E a música é planície atonal
Sem topo e infinito silêncio maturado de mil ecos
E respiração das estátuas.
Beethoven veio emoldurar e somar tão belo poema!
Gostei da dupla!
Beijo, meu amigo!
Caríssimo,
Há momentos especiais em que as palavras se casam tão perfeitamente na urdidura do verso que a poesia, em sua grandeza, cala a voz para transbordar a alma.
Que mais dizer? Apenas sentir seu âmago...
(especialmente embalado pelos acordes da música de Beethoven).
Beijo,
Genny
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