domingo, junho 16, 2019

RITUAIS DE FOGO


No gume das palavras cálidas
E naquelas outras que se desfazem na boca
Como rubis líquidos.

E também naquelas que se negam
E eternas permanecem irredutíveis
E, na iminência do fogo, se recolhem
Ao interior do silêncio.

Nesse território de afeições
E luminescências onde as esferas são capricho
E o poeta se paramenta de vestes
Usurpadas – sacerdote ou mago! 

Eco de pederneira e combustão
De delírios. Em sua dança e obstinado aferro

E na sinfónica desordem das coisas festivas
Onde todas as auroras são apenas
Reflexo côncavo. E registo breve.

Nesse magma de impossibilidades eternas
Palato e língua na memória dos mostos
E aguilhão de ausências.

Nessa danação de Fausto
E Orfeu enclausurado...

Ergo meu cálice em cerimónia íntima
E em rituais de fogo te proclamo
Vestal e Templo.

E te digo Poema
Fogo e Sarça

E te nomeio.
E te guardo...


Manuel Veiga

6 comentários:

Genny Xavier disse...

Força das palavras, inscritas no território dos afetos e proferidas nos rituais de fogo e vinho...Que assim seja a Poesia que aquece o coração do poeta!

Que a semana que inicia seja de luz.
Beijo,
Genny

Olinda Melo disse...


Nestes "Rituais de Fogo", somos tentados a seguir o Poeta no caminho que ele vai traçando, em que alia mitologia à elegância e sagesse. Assim, enfrentaríamos de bom grado a danação de Fausto e entraríamos no navio dos argonautas, em busca do velo de ouro, sabendo que no fim desse percurso encontraríamos apaziguamento na miragem do Templo, talvez, desejado.

Abraço, Amigo Manuel Veiga.

Olinda

Graça Pires disse...

Em cerimónia íntima, no interior do silêncio, posso ver o Poeta a partilhar com os deuses o ritual do fogo… Magnífico, meu Amigo!
Uma boa semana.
Um beijo.

Larissa Santos disse...

Parabéns. Deliciei-me com este excelente poema:))

Hoje:- Quando a minha alma naufragar...

Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.

Teresa Durães disse...

Um lindo poema!

Teresa Almeida disse...

O poema é um ritual em que o poeta se enleia e vive extraordinárias experiências. Arrisca queimar-se para que o Aleluia seja.

Gostei imenso,amigo Manuel.

Beijo.

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