sexta-feira, janeiro 24, 2020

Uma Legenda Apenas ...


Na galeria dos retratos, uma legenda apenas:
“Trespassam-se todas as memórias – por atacado …”
E o eco delas, nas portas fechadas
E nas paredes nuas…

Lá dentro, os restos de uma fogueira –
Ao centro – que arde ainda.

Cá fora – patético – “o anjo da História”
A afadigar-se. Tentando com os dedos
Parar o vento …


Manuel Veiga


Imagem: Paul Klee, Angelus novus (1920)


9 comentários:

José Carlos Sant Anna disse...

Caro Manuel,
Cruel essa dura realidade. Quem pudera "afadigar-se" a segurar o vento senão o anjo da história em tenso impulso para que o resto não se dissolva?
Queríamos tanto que este anjo baixasse por aqui....
Ainda bem que tamborilar a poesia ajuda a redimir alguma coisa...

Um abraço, meu caro poeta!

Margarida Pires disse...

Anjo selvagem.Na esperança de salvar o tão amado vento.
Selvaticamente lindo o seu poetizar.
Um sorriso de luz.
Megy Maia

Pedro Luso de Carvalho disse...

Vejo, amigo Manuel, que em “Uma Legenda Apenas ...” a Lira do Poeta soou bem alto, muito alto.

Um grande poema, não para uma única leitura, poema para ser lido mais de uma vez, como eu fiz.

Um bom final de semana, Poeta.
Grande abraço.

Boop disse...

Este teu poema deixa-me angustiada.
E concordo com o Pedro, precisa de várias leituras.

Elvira Carvalho disse...

Um poema intrigante. Para ler reler e meditar.
Abraço e ótimo domingo

Teresa Almeida disse...

O fulgor sossobrou quando os poetas entraram na galeria e o
vento assobiou o espanto e soltou nova melodia.

Beijos, querido poeta.

Olinda Melo disse...


"O Anjo da História" indelevelmente ligado ao "Angelus Novus", um e outro retratando aquilo a que poderíamos identificar como sendo o progresso ou progressos.
A cada evolução corresponderá o seu contrário e, assim, vamos avançando e recuando, cada vez mais convictos de que necessitaríamos tão-só que o nosso "Leviatan" nos levasse mais longe.
Mas, também nós como parte do processo, pró-activos, mostrando que o presente e, quiçá, o nosso futuro dependerão das nossas boas práticas, na qualidade de cidadãos que se prezem.

E das nossas memórias falará a História. Tomara que aprendamos como ela o suficiente para nos desenvolvermos em todas as áreas, inclusivamente na da Filosofia e Ciência Política, negócio de todos.

Caro Manuel Veiga, um Poema, uma excelente incursão na História, através da obra de Walter Benjamim, trazendo-a magistralmente até ao presente.

Abraço

Olinda

Tais Luso de Carvalho disse...

Meu amigo Manuel, esse poema levou-me tão longe, talvez nada tenha a ver, mas cada um interpreta conforme seu espírito, sua sensibilidade e suas lembranças. A poesia bate diferente em cada um, você sabe, poeta. Não consegui pensar de maneira diferente.
Reportei -me a uma tal galeria de nomes e legendas que há muitos anos lá estão nossos entes queridos, nossos amigos e gente importante no cenário da História.
Na verdade, lá estão apenas muita arte e montes de legendas que com os anos são esquecidas. De lá rumam para nossa memória, e aqui é que ficarão como doces lembranças. Em suma, meu amigo, tudo apaga-se, apenas sentimentos ficam dentro de cada um de nós onde podemos lembrar de nossa História, sorrir e por muitas vezes chorar.
Um poema pequenino, mas agigantou-se ante minhas lembranças.
Beijo, uma ótima semana.

Ana Freire disse...

Nas galerias do tempo... creio ser tão impossível, parar o vento... quanto vermo-nos livre das memórias... mas quando as perdemos... será sinal de que já deixámos de ser nós mesmos...
E o que somos sem a nossa história e sem as nossas memórias?... A repetição de um erro... e a História, tem provado isso mesmo, quando as ilações do passado são esquecidas...
Um poema extremamente denso... ainda que de uma construção admiravelmente leve...
Mais um brilhante e intrincado momento poético... que nos faz reflectir!...
Notável, como sempre! Beijinho
Ana

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...