terça-feira, fevereiro 25, 2020

FALA MUDA ...


No território da palavra
Onde todas as confluências se espraiam
E por vezes despontam amistosas
Cores. E sedutoras paisagens.

Nesse universo de sílabas seminuas.
E transumância de afectos
Onde a língua se desata
E molda os sons
E antecipa todos
Os nomes

Palato e bocas a derramarem-se
Excessivas. E as formas em cascata
A inaugurarem o corpo. Lago ou rio
Na profusão das águas.

Nesse abismo de caudalosos ritos
E vertigens. Pauta em que te invento
Música atonal. E avidez
Do murmúrio

E todas coisas se erguem
Fala muda. E hino
Que em ti digo


Manuel Veiga

9 comentários:

R's Rue disse...

Beautiful

Boop disse...

Gosto muito das falas mudas. Não só na poesia.
Ou principalmente não na poesia.
Há alturas em que a palavra ou é excessiva ou perverte de alguma forma.
Nem tudo é dizivel.

Majo Dutra disse...

Um delicioso baile de imagens e antíteses
nesta tua eloquente fala muda...
Tudo pelo melhor, poeta amigo.
O meu abraço.
~~~

Tais Luso de Carvalho disse...


Olá, Manuel, o tema abordado no poema é objeto para boas e necessárias reflexões.
Muitas palavras devem ser muito pensadas com frequência, pois quando não mutilam, matam nossa alma, nosso espírito. É preferível as palavras quando elas saem do silêncio do olhar.
Belíssimo poema.
Beijo, meu amigo!

Olinda Melo disse...

Caro Manuel Veiga

Esse hino em música atonal fala bem da ausência de escala hierárquica,
não carecendo de tom ou som que despertem palavras, em que
as águas seguem o seu curso livremente. Uma fala secreta e silenciosa
que transborda das margens e invade a área dos murmúrios.

Belo Poema, num estilo que amamos.

Abraço, meu amigo.

Olinda

Teresa Durães disse...

Um lindo poema de amor!

Teresa Almeida disse...

A palavra é teu território, "um abismo de de caudalosos ritos e vertigens".
Poesia de uma intensidade arrebatadora.

Emoção e aplausos foi o que pude observar, de forma virtual, na CTMAD. Merecidíssimos, já o disse.

Meu abraço de grande amizade e apreço.

Ana Freire disse...

E a poesia, será mesmo o Universo e instrumento privilegiado de revelação de sentires... que a realidade dos dias, às vezes não nos deixa sequer conseguir nem idealizar... quanto mais expressar em palavras...
Mais um momento poético, por aqui, ao mais alto nível, Manuel! Parabéns!
Beijinho
Ana

José Carlos Sant Anna disse...

A um só tempo o poeta "pensa" o ato da escrita e concebe pelas "confluências" que se espraiam" "no território da palavra" o corpo desejado do poema. Cresce em silêncio. "E hino que em ti digo".
Um abraço, caro Manuel!

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...