Tudo
na vida é perecível, Lydia.
E
nós com ela. Repara que até o voo do milhafre
Se
entardece.
Deixemos,
pois, que a tarde tombe
E
serenos que noite seja. E o amanhã
Amanheça
sol. Ou que seja nevoeiro ou sombra.
Nem
por isso deixarei
De
sentir a suavidade de teu cabelo
Em
minha face.
Nem
de sorver o beijo
Que
guardamos. Nem os ecos.
Colhamos
o perfume, Lydia. Apenas.
E
amaciemos o fervor (e o furor)
E
não desejemos mais
Do
que a vida quer…
E
estejas onde estejas, ambos seremos
Mesmo
não sendo…
Manuel
Veiga
Nota:
Lydia é uma criação literária de Ricardo Reis
7 comentários:
"E estejas onde estejas, ambos seremos
Mesmo não sendo…"
ou como se ama o ausente!
Muito bom!
E já que aqui estou, vinda da história de Manuel Maria, tinha de ler este bela construção poética. E com muito prazer, afirmo-o.
Quem não gostaria de aproveitar da vida apenas a parte mais leve e perfumada? Perante a passagem do tempo, inexorável, reter os momentos mais belos e surpreendentes? Ah, como é lindo pensar um mundo assim.
Poema lindo, meu amigo Manuel Veiga.
Abraço
Olinda
Sim, num dado momento tudo terá um final dramático, sempre teve. Assim é a vida. É ótimo ignorarmos quando partiremos para não sei onde. Ou para o nada.
Mas como você disse, enquanto houver 'o sol após as noites', vamos tocando a vida no que ela tem de melhor a nos oferecer. Mas se pararmos para pensar no nosso futuro meu amigo Manuel... é o mesmo que morrer aos poucos. Estou sendo meio dramática (rs), mas pensei assim lendo os dois primeiros versos de seu belo poema.
Beijo, meu amigo, uma boa semana.
"Deixemos, pois, que a tarde tombe
E serenos que noite seja. E o amanhã
Amanheça sol. Ou que seja nevoeiro ou sombra."
A Lydia observa contigo tudo o que deslumbra o teu olhar e ouve os ecos e o perfume das palavras mais que perfeitas com que a invocas…
Uma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.
"E não desejemos mais
Do que a vida quer…"
A poesia caminha e aninha-se nos mais recônditos sentires. Este poema vive, assim, de ecos, de perfumes de desejos e de uma certa aceitação. Também me parece que muitos poetas escrevem a um amor que nunca existiu. Talvez sua angústia existencial encontre algum lenitivo em escrever o seu pulsar a um ideal inalcançável. Aliás o ser humano é, naturalmente, insatisfeito.
Este rasgo poético levou-me por aqui, embora saibamos que a escrita do nosso poeta Manuel Veiga é fluente, sensível, profunda e multifacetada.
Beijos, meu amigo.
A vida e os seus momentos obscuros, densos, doridos... Quem não gostaria de ter só o Sol a descrever-se na pele?
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Sei que não posso importuná-la porque esta é a tua Lydia. Mas sentia a sua falta... É tão bom vê-la nesta cumplicidade com o poeta... Fica a impressão de que as horas se prolongam com ela tão perto...
Um abraço, caro Manuel!
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