Fecundas serão as
raízes no coração dos homens
Onde a delicada
flor se incendeia
E as bocas ardem
na busca milenar
Dos dias
solares...
E da justiça. E o
gesto puro de colhê-la …
Antes, porém, ainda
o cântico da terra revolvida.
E o sangue e a dor.
E mil abris
desfeitos.
E os inflamados ventres
da fome.
E o grito das
flores decepadas pelo caule
E os dias ardidos.
E o voo quebrado das asas
E dos homens.
E todas as
estradas de Damasco
E a aridez de todos
desertos.
A vertigem dos
sons virá, porém, atroar os ares
Trombetas precursoras
da grande catástrofe
Onde se
desempenhem os deuses
E todos os heróis
de outrora
E a luz e as
trevas.
E os negrumes e as sedes de agora.
E toda a História
será vã.
E todos os
símbolos.
Fecundas serão
então as raízes.
E a Pátria dos
homens. E ardente o coração
Das trevas.
Resgatadas.
Manuel Veiga
6 comentários:
"E toda a História será vã", na verdade.
Excelente poema, parabéns pelo talento que estas palavras revelam.
Caro Veiga, um bom fim de semana.
Abraço.
Muito bom!
Saudações poéticas!
Caro Poeta
Poderia dizer que este Poema, na sua magnificência, soa a escatológico, quase a previsão do fim do mundo e da Humanidade.
Contudo, todo o seu conteúdo nos leva à apreensão da terrível realidade deste nosso mundo cada vez mais à deriva, em que sonhos e ideais são desfeitos, barrigas de fome a invadir-nos, e aqueles que tomam decisões perseguem apenas os seus interesses, encaminhando-nos para um fim nada feliz.
Mas voltemos ao primeiro e ao último grupos de versos: Depois de passarmos por todas as privações e catástrofes há ainda a esperança de que nos corações dos homens nasçam flores e que com elas povoaremos o nosso jardim, pleno de dias solares. Resgatando-nos.
Obrigada, Manuel Veiga, por mais este momento poético, em que mostra
sobejamente que uma das missões da Poesia reside na necessidade de
alertar, com arte.
Abraço
Olinda
Percorro a hecatombe em que fervilham as tuas palavras e subscrevo a frase da nossa amiga Olinda Melo " uma das missões da Poesia reside na necessidade de alertar, com arte".
Detenho-me, também, nos versos promissores que abrem e fecham o poema.
Um poema que vou guardar comigo.
Meu apertado abraço.
Que se percam as folhas... mas nunca as raízes... que nos recordam quem somos...
Um profundo e arrebatador momento poético, que adorei apreciar e descobrir, por aqui!
Beijinho
Ana
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