quarta-feira, março 11, 2020

LUZ E SOMBRA ...


Na oceânica convulsão dos deuses, onde
Eros e Tanatos se confrontam. Em Servidão.
E desiguais armas…

No absoluto magma onde Luz e Sombra
Se fundem. E se confundem.

E oníricas formas se buscam
E se desenham os sinais e se atam os fios do Todo
Inominado ainda. E o Tempo é Sobressalto
Ruído surdo de Solidão e Vácuo.

Nesse lugar em que todas as finitudes são
Luminescências e Acaso - Vida e Morte que se anunciam.
E o Desejo se franqueia e se faz Corpo.
E o Absurdo se nomeia
Como Mito.

E a Palavra se anuncia.
Obscura. Ainda.

Na luminosa Improbabilidade em que erguemos
As colunas. E as aras. E as vestes.
E, trôpegos, deciframos os nomes
E separamos as coisas.

Soletramos também o Nada. E mergulhamos
Na Tragédia. E na Euforia. E no Prazer frustre.
E decaímos. E nos idolatramos. Divinos.
Fogo e Água. Traficantes. Heróis  
E mártires.

E receptáculo dos deuses.
Por onde assoma o suor.
E a eterna Espera.

E a Mágoa.

Manuel Veiga

(Poema editado)




11 comentários:

" R y k @ r d o " disse...

A poesia escrita no seu mais profundo esplendor.
Simplesmente maravilhosa e poeticamente rica no seu contexto e conteúdo

Abraço

José Carlos Sant Anna disse...

Neste espelho côncavo se transfigura um mundo em que buscamos as amarras como se quiséssemos encontrar estrelas distantes!
Aqui o poeta atingiu a plenitude em que as palavras têm sentido num código a ser decifrado.
Um poema vigoroso, meu caro amigo Manuel!

Rosa Brava disse...

Deixo um abraço. Emudeci...

Cidália Ferreira disse...

Mais um poema fantástico! :)
-
Beijos. Boa noite!

Elvira Carvalho disse...

Por vezes ficamos sem palavras. Mudos perante a emoção do que vemos ou lemos.
Foi o que me aconteceu agora.
Abraço

Boop disse...

Este é um poema editado,
Não sei quando foi escrito
Mas HOJE faz tanto sentido.
Tenho medo nos dias que correm do "não pensamento" - inclusiver do meu.
De que vença Thanatos em mim. E que não seja capaz de catalisar a angústia e ansiedade dos outros.
Que vença Eros em mim (Ou Ágape !)

Teresa Almeida disse...

És, assim, um livro aberto, arrojo de alma em toda a sua riqueza e versatilidade.
Na tua poesia plasma-se a mágoa e a alegria - oceânicas perplexidades.

Caminhar - poeticamente - a teu lado, é um privilégio enorme.

Um apertado abraço.

Jaime Portela disse...

Não é nada fácil comentar um poema com tanta profundidade.
Parabéns pela excelência poética aqui bem expressa.
Caro Veiga, continuação de boa semana.
Abraço.

Ana Tapadas disse...

De uma invulgar e refinada beleza.

Tais Luso de Carvalho disse...

Belíssimo, único, meu amigo!
Um dos mais belos lidos aqui. Aplausos!

Soletramos também o Nada. E mergulhamos
Na Tragédia. E na Euforia. E no Prazer frustre.
E decaímos. E nos idolatramos. Divinos.
Fogo e Água. Traficantes. Heróis
E mártires.

Beijo, um bom fim de semana!

Agostinho disse...

Os olhos confrontam-se com a realidade circular do seu próprio universo.
O vai e vem dos cristais é constante,
varados pela luz e pela ausência dela. Até que adoecem.
O ritmo do Poema é alucinante e os deuses confundidos descem à condição humana.
Muito bom, MV.
Abraço.

NA ORLA DOS LÁBIOS...

  O poema desenha-se na orla dos lábios Na íntima tensão do verbo antes de explodir Itinerário de sombra rente à luz   Ou murmúrio...