sexta-feira, setembro 04, 2020

TOADA CRIOULA


Vem de longe teu rosto, donde

Se despenham a torrente ígnea dos vulcões

E os rios secos. E o percurso das chuvas.

E os ventos. E os silêncios.

E se desenha a carícia

Profunda dos escravos.


E em teu corpo perpassa um donaire antigo

Frémito contido que explode

Dança guerreira e bailado

De Tchaikovsky

Ou um batuque

Africano

Em noites de cio

E lua cheia.

 

Porte arisco e desassombro

Em teu caminhar altivo.

E uma demanda. Que se agita. E te habita.

Uma subtil escrita. Alvoroço das ancas

Sequiosas ânforas

A acenderem-se

Na ardência

Das coxas


E mel em teu nome

E seda na pele. E a polpa dos dedos

E sintonia dos sentidos

Verso e reverso

E antigos ritos

E mistérios...



Manuel Veiga


12 comentários:

José Carlos Sant Anna disse...

Como bem o disse Ana Tapadas, "a cada novo poema consagro-te".
Esta toada desfolha uma sensação de liberdade ainda tarda!
Um abraço, meu caro amigo!

" R y k @ r d o " disse...

Inspiração e criatividade poética que elogio e aplaudo.
Muito bonito de ler.
.
Tem há um dia feliz
Cumprimentos

SOL da Esteva disse...

O sentir crioulo inspira e recria vivências ou sonhares dos tempos.
Magnífico.
Parabéns.


Abraço
SOL

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

MV

Um poema que se lê e nos lembra muita coisa.
Uma toada de danças e estações.
Países e terra amada e desprezada.
Rios sem água
Chuvas que nao caem e depois
Os mistérios com que se vive a vida.

bom fim de semana.
:)

São disse...

Enlace perfeito entre um belo poema e uma voz extraordinária.

Beijinho, Poeta, bom fim de semana

Cidália Ferreira disse...

Gostei bastante!:)
*
Existe um sol, que me seduz ...
*
Beijos, e um excelente fim de semana. :)

Juvenal Nunes disse...

Belo poema, em que apetece bailar ao som desse gingado.
Saudações poéticas.
Juvenal Nunes

Tais Luso de Carvalho disse...

Estou notando que os poetas estão voltando à blogosfera com belas e intensas inspirações!

Vem de longe teu rosto, donde
Se despenham a torrente ígnea dos vulcões
E os rios secos. E o percurso das chuvas.
E os ventos. E os silêncios.
E se desenha a carícia
Profunda dos escravos.

Maravilhoso, Manuel!
Uma ótima semana, se possível for.
Beijo,
até mais!

Graça Pires disse...

Esta tua toada crioula, diz bem do fascínio que tens pela vida: a tua e a dos outros que são o motivo da tua inspiração. Já te disse que escreves cada vez melhor?
Uma boa semana com muita saúde, meu Amigo.
Um beijo.

Olinda Melo disse...


Que grande viagem nos proporciona, aqui, neste seu espaço, caro Manuel Veiga!

Do amor às terras transmontanas vertido no belíssimo Poema, "Em Nome Do Pai.E Louvor Da Terra...", eis-nos trazidos à terra de todos os feitiços e mistérios, ao vagido primordial da vida, donde todos saímos um dia e a que nos mantemos ligados pelo inefável legado mitocondrial.

E através de um rosto,"Eva", ousadia minha, mostra a nossa essência, a nossa propensão para o cruzamento de corpos e culturas e assim trazermos até nós um outro eu, numa síntese maravilhosa, capaz de bailar ao som de um Tchaikovsky ou de um batuque.

É a Vida que se desdobra e se cumpre.

Caro Poeta, queira aceitar um grande abraço.

Olinda

Teresa Almeida disse...

A cada vez que passo, quase perco o fôlego. Parece que recrias a vida com tudo o que ela tem de belo e entusiasmante. Como quem abre o mapa e aponta e cruza os dados. Este poema é de uma acutilância impressionante. Mesmo que toques os pontos nevrálgico do mundo e das gentes, usas tal galhardia que arrebatas quem te lê.
E na melodia que ofereces,
sente-se a febre com que escreves.

Também me apetece abraçar-te, Manuel Veiga.

Emília Pinto disse...

Das terras transmontanas passas para Africa, duas realidades diferentes, mas unidas pela mesma vida atribulada, de trabalhos árduos, encantos, desencantos, mas também por uma beleza impar e diferente. A mesma magia está presente nestas duas realidades e a alegria das suas gentes nos encanta, quer com o seu rebolado sensual quer com as cantigas ao som das concertinas, principalmente nesta época do ano, onde os cantares se misturam à satisfação de recolher os frutos em tão belos socalcos. Magia, Manuel, tão bem descrita nestes teus cantares em verso. Magnifica, como sempre, a tua escrita, em palavras sabiamente alinhadas para encanto de todos os que te leem.
Um beijinho e obrigada por este momento. SAÚDE para ti e para os teus.
Emilia

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