domingo, outubro 04, 2020

CRESCE A FORMA E O SEIXO ...


Lisa nos dedos cresce a forma e o seixo

Como linhas libertas na geometria do sexo

Ou prolongamento das coxas reclinadas

Em espera do gesto líquido de colhê-las...

 

Acendem-se brisas sobre a relva da tarde

Nos corpos como tochas entre os gritos

Corvos brancos no círculo dos sentidos

Limiar de fusão entre o sexo e o seixo...

 

Rebolam-se cavalos no declive dos seios

Línguas como vespas ferradas como lapas

Cio estival de dias solarengos bem altivos

Enrolados como os potros sobre éguas...

 

Revolve-se o seixo e as coxas, arde o sexo

Na boca a saliva das horas maturadas

Tomba a paisagem sobre os corpos e voam

Pássaros no espasmo vulcânico dos dias...

 

Abrem-se grutas, argila líquida nas línguas

E nos dedos como linhas modeladas explode

O seixo e nas horas e nos dias gritam aves

Em côncavo percurso das ondas partilhadas...

 

Enlaçados em dolência de cigarras ora acesas

Restolho quente dos corpos desnudados

Nada corre! Suspensos arde a sombra apenas

E crepitam os dorsos no cântico da tarde...

 

 Manuel Veiga





10 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Uma publicação simplesmente bela!
-
O silêncio que deslumbra pensamentos
-
Beijos Bom Domingo.

Elvira Carvalho disse...

Um dos mais belos poemas que me foi dado ler nos últimos tempos.
Abraço saúde e bom feriado

Graça Pires disse...

Que delicadeza, esta, com que fazes um poema cheio de sensualidade, onde em corpos entre tochas como gritos, sobrevoam os pássaros e arde o sexo.
Tão belo, meu Amigo!
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

MV

um poema sensual em que os corpos falam
nas suas entrelinhas

muito belo, mesmo!

boa semana.

:)

Boop disse...

Falar do íntimo com alma e dignidade não é para todos.
Parabéns Manuel

Olinda Melo disse...


Encontrar as palavras ideais para se falar de acto que
implica a própria vida, no que ela tem de mais
intrínseco e profundo, é Arte.

Na leitura deste belo Poema verificamos que diversas
figuras de estilo encontram espaço privilegiado
no seu conteúdo, conduzindo-nos o Poeta a um epílogo
deveras glorioso.

Manuel Veiga, meu Amigo, uma surpresa renovada, sempre,
ver a forma como escreve e como visualiza com elegância
temas que, de outro modo, seriam considerados fora
de contexto.

Abraço

Olinda

Teresa Almeida disse...

Explode a natureza íntima da palavra e enrola-se e grita no boca das aves.
É um poema estival que arde pela tarde, como se fora o cântico dos cânticos.
A linguagem dos corpos é muito expressiva.

Beijo, caro amigo Manuel.

São disse...

A sensualidade transborda , mas de uma maneira tão elegante...

Gosto muito da canção escolhida

Beijinho, amigo, bom resto de semana

Emília Pinto disse...

Que dizer deste belo poema, Manuel? É sempre dificil imaginar o que ia na alma do poeta quando o construiu, mas é mais fácil dizer o que sentimos ao lê-lo, dizer o que nos parece ser o sentimento nessa hora de inspiração. Aqui vejo uma mistura de emoções humanas, vivendo o amor, praticando-o na intimidade de dois corpos que se querem e admirando a natureza, comparando talvez esses dois amores. A sensualidade posta num momento de amor bem vivido é um dos actos mais naturais que existem, é um acto do qual nasce uma vida, um fenomeno inexplicavelmente belo e que é comum a todos os seres viventes da natureza. Haverá coisa mais bela do que esta comunhão, homem e natureza? Pena que não pensemos nisso com mais seriedade! Obrigada, caro Amigo! Espero que estejas bem e que assim continues. Um beijinho
Emilua

Tais Luso de Carvalho disse...

E um belo poema com uma sensualidade mostrada com muita elegância; é a vida transbordando onde o amor floresce.
Muito lindo, e a bela música segue o ritmo!
Uma ótima semana, meu amigo!
Cuide-se!
Beijo.

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