domingo, abril 25, 2021

ESCULTOR DE PAISAGENS - O TEMPO!


Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos,

Onde me revejo. E as mãos, arados.

E os punhos erguidos.

 

Sons de fábricas a martelar silêncios

Perdidas na voragem dos dias

Infecundos. E do lucro

Sem fronteiras.

 

E, no entanto, esta torrente. E esta fonte

Que desce em cascata de palavras

Verbo que se faz carne. E ferve

No peito a latejar

Rubros cravos

E bandeiras.

 

Nada é definitivo quando a rocha

Se abre ao fogo. Nem a memória

É fatuidade de um beijo e

Cantilena de amores

Em retalho…

 

Nem a Revolução um feito

Inacabado. Antes um horizonte aberto

A oferecer-se em cada tempo

Sonho sempre novo

Em cada gesto

Logrado

 

Como um poema sinfónico

Passo a passo a arder por dentro

Uma cadência sem idade.


E este amor desatado!

 

E este aguilhão e este alvoroço

E o rosto magoado deste Povo

A inscrever um tempo novo

Letra a letra

Liberdade.

 

25 Abril Sempre!

 

Manuel Veiga




15 comentários:

- R y k @ r d o - disse...

Poema ao 25 de Abril simplesmente BRILHANTE.
A sua inspiração e criatividade poética é fascinante. Talvez o poema sobre o 25 de Abril mais bonito que já li na blogosfera. Parabéns.
25 de Abril Sempre.
.
Domingo feliz … Saudação poética
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amigo Manuel, gosto muito do tema "tempo".
Esse tema foi explorado nesse belo poema com sabedoria e inspiração. Para o poeta, em geral, o tempo é o parceiro de muitas viagens, principalmente a viagem à infância, de retorno ou de outras fases importantes da vida.
Parabéns, caro amigo.
Uma boa semana,
Grande abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

Sim, é o tempo... e quantas imagens passam pela nossas cabeças como num filme! E que nunca param de surgir.
Belíssimo poema, tão inspirado, amigo Manuel.
Uma boa semana, amigo, na medida do possível.
Beijo, cuide-se.

Maria João Brito de Sousa disse...

Fabuloso poema, Manuel!

Forte abraço!

Olinda Melo disse...


Tudo neste Poema faz sentido. Palavras que nos
mostram como o tempo pode alterar a visão
das coisas e nem sempre para melhor:

"Sons de fábricas a martelar silêncios
Perdidas na voragem dos dias
Infecundos. E do lucro
Sem fronteiras".

E há "este amor desatado" e a teima em soletrar,
letra a letra a Liberdade.

Sempre a admirá-lo, Manuel Veiga.
Abraço,
Olinda

José Carlos Sant Anna disse...

Liberdade, liberdade!
Não é preciso nenhum galo para anunciar este grito!
Ou este vigoroso poema desentranhado para lembrar a quem de direito que se cumpram as promessas do passado.
Um abraço, caro poeta!

Ana Tapadas disse...

Apetecia-me responder apenas uma palavra:

Sempre!


Não fora o poema tão belo e, ao mesmo tempo, tão arguto.


Beijo

Teresa Almeida disse...

Abril continua vigoroso e febril na gana de se cumprir. Assim o dizes.

E continuas a desfraldar as bandeiras que nesse dia e ergueram. Continuas a cantar o amor, a mágoa e a liberdade. Sabemos que Abril será sempre um tempo novo que queremos abraçar.

Canta, poeta! Nunca deixes de cantar.

Um abraço e um cravo.

Abril Sempre!

Jaime Portela disse...

Uma revolução nunca está acabada, de facto.
Por isso, a luta continua... sempre...
Excelente poema.
Bom fim de semana, caro Veiga.
Abraço.

Agostinho disse...

A Liberdade é um diamante,
um tesouro, legado generoso,
herdado por mil mãos
E é obra imperfeita
Não requer deslumbramentos
Quer é coisas, palavras, alegria,
e vontade de acrescentar à utopia
faces novas a cada dia
polidas com muita poesia

Tens, aqui, um poema que mergulha na anatomia das circunstâncias da conquista. Muito bom.
Abraço.

Maria Rodrigues disse...

E neste tempo novo, que nunca o povo esqueça, a luta por tantos travada, para se conseguir com cravos a tão desejada liberdade.
Um poema sublime
Abraços

São disse...

Sim, 25 de Abril sempre!

E , verdade, a Revolução não acabou.

Te abraço, meu amigo

SOL da Esteva disse...

Poema épico!
É preciso acreditar que o tempo abrirá novos caminhos, cavará novas searas, produzirá novos frutos...


Abraço
SOL da Esteva

Graça Pires disse...

"Verbo que se faz carne. E ferve
No peito a latejar
Rubros cravos
E bandeiras."
Só me apetece transcrever o poema todo por ser tão forte, tão verdadeiro, tão belo. Obrigada, meu Amigo.
Muita saúde. Uma boa semana.
Um beijo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Um poema forte, a homenagear Abril.
Bem escrito.
Grito à liberdade.
Desejo um Feliz resto de domingo cheio de paz e saúde.
:)

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