domingo, abril 18, 2021

POEMA PARA LYDIA ...

 

Vem, Lydia. No breve declive da tarde

Fiquemos assim abraçados e leves... 

Que nos importa a nós o destino das barcas

Que elas partam ou fiquem?

Sempre o rio terá suas margens

E nós, com ele, permaneceremos

Ainda que as águas passem

E os dias corram…

 

Colhamos, pois, o instante

E os movimentos da brisa

E a embriaguez da espera

E a espuma verde de teus olhos

Em espelho de profundas águas

E suaves ondulações do teu corpo

A espraiarem-se em esplendor

Sobre a relva – como se fôramos

Eterna festa dos sentidos.

 

É certo que o irritante gorjeio dos pássaros

Vem perturbar este silêncio

E o ledo encantamento.

 

Mas não nos amofinemos.

Temos por nós o melro – um Príncipe negro –

De asa ao sol, a soltar seu trinado

E a subverter, desalinhado,

A ordem do cântico. E a desfazer o bando

– O que nós rimos, não foi, Lydia?

 

E apaziguados que reine então

A serenidade de teu rosto assim colhido

Como o Universo todo.

E amemo-nos recatados

Quase puros e eternos.

 

E, quando o arrepio chegar

E a Sombra vier encontrarão

Apenas dois corpos enlaçados

E nós voando, sem glória ou pena,

Sobre a Nuvem.

 

Manuel Veiga

18.04.2021

.....................................................

Nota - Lydia é uma criação literária de Ricardo Reis, cujo  "universo poético" (?) no que à Lydia importa, tenho, por vezes, o atrevimento de procurar recriar.

Perdoem-me os meus leitores/as mais exigentes e sensíveis.

15 comentários:

Janita disse...

Este é dos poemas que mais me encantaram ler, nos últimos tempos. Leve, claro e cristalino, isento de metáforas pouco entendíveis, como o são todas as metáforas.
Tão belo, suave e encantatório... Adorei!

Um abraço e os meus sinceros Parabéns ao Poeta.

" R y k @ r d o " disse...

Poema lindíssimo que me fascinou ler.
.
Feliz domingo … abraço poético.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amigo Manuel, ao ler esse seu belo poema, pus-me a pensar naquele momento inicial da criação, quando o poema está por nascer, aos poucos, ou então quando vem aos borbotões. Por último coloquei-me no seu lugar imaginando (ou sentindo) o momento em que o poema estava ultimado.
A satisfação pela criação da obra deve ter sido imensa.
Parabéns, poeta, uma boa semana.
Grande abraço.

Maria João Brito de Sousa disse...

Um abraço de mim, na minha barca, para si e Lydia, Manuel :)

Graça Pires disse...

Este poema é mesmo uma festa dos sentidos. Manuel Veiga no seu melhor sentir.
"Colhamos, pois, o instante
E os movimentos da brisa
E a embriaguez da espera
E a espuma verde de teus olhos"
Tão belo! Impossível não se nos pegar à pele.
Muita saúde, meu Amigo.
Uma boa semana.
Um beijo.

Elvira Carvalho disse...

Um belíssimo poema que me encantou ler.
Abraço, saúde e boa semana

Olinda Melo disse...


Olá, Manuel

É ponto assente, aliás, dogmático, que a Inveja é um
dos sete pecados capitais, mas eu, pobre mortal, quase que me
deixo embalar por ela:

Venturosa Lydia que tão belos versos inspira!

A verdade, caro Poeta, é que me comovo sempre com a
excelência da sua Poesia, seja qual for a dedicatória. :)

Um abraço.
Olinda

lis disse...

Que todas as Lydias possam dar 'asa ao sol e soltar o seu trinado'
Me agrada esse cântico.
Parabenizando o poeta mVeiga, deixo abraços

Ana Tapadas disse...

Ah a Lídia...que tão bem recrias! (E me habita as aulas, agora trazida por Saramago...).
Beijo

Ailime disse...

Boa tarde Manuel,
Simplesmente maravilhoso este poema.
Uma bela e inspiradíssima recriação do poema de Ricardo Reis!
A sua inspiração sempre em crescendo!
Parabéns!
Um beijinho e saúde.
Ailime

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

MV

a inspiração da Lydia de Ricardo Reis, deu mote ao Poeta para aqui nos deixar um belo poema, que gostei de ler.
boa semana com saúde.
:)

Teresa Almeida disse...

E à Lydia regressas sempre. Como se nela residisse o fascínio e o voo poético. E toda a harmonia do universo.
Não me surpreende, portanto, esse enlace "ad eternum".

Beijo, meu amigo Manuel Veiga.

Jaime Portela disse...

Um poema de excelência.
Gostei imenso, parabéns pelo talento que este poema (como sempre) revela.
Continuação de boa semana, caro amigo Veiga.
Abraço.

Tais Luso de Carvalho disse...

Chegando, lendo e relendo sublime poema, meu amigo Manuel!
Belíssimo! Aconchegante no afeto onde aparece o delicado e sentido momento.
Gostei muito!
Feliz fim de semana que está chegando!
Beijo, amigo.

"Vem, Lydia. No breve declive da tarde
Fiquemos assim abraçados e leves...
Que nos importa a nós o destino das barcas
Que elas partam ou fiquem?"

José Carlos Sant Anna disse...

Ah, meu amigo Manuel, me dá chave da tua inspiração para este enleio tão terno com a Lydia! Não se preocupe, já estou descobrindo que não devo ir adiante, pois este reino interior de onde brota “tanta transpiração” é impenetrável, mas a tua Lydia é sedutora, atordoa meus sentidos!
Um abraço, caro poeta!

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...