Vem, Lydia. No breve declive da tarde
Fiquemos
assim abraçados e leves...
Que
nos importa a nós o destino das barcas
Que
elas partam ou fiquem?
Sempre
o rio terá suas margens
E
nós, com ele, permaneceremos
Ainda
que as águas passem
E
os dias corram…
Colhamos,
pois, o instante
E
os movimentos da brisa
E
a embriaguez da espera
E
a espuma verde de teus olhos
Em
espelho de profundas águas
E
suaves ondulações do teu corpo
A
espraiarem-se em esplendor
Sobre
a relva – como se fôramos
Eterna
festa dos sentidos.
É
certo que o irritante gorjeio dos pássaros
Vem
perturbar este silêncio
E
o ledo encantamento.
Mas
não nos amofinemos.
Temos
por nós o melro – um Príncipe negro –
De
asa ao sol, a soltar seu trinado
E
a subverter, desalinhado,
A
ordem do cântico. E a desfazer o bando
–
O que nós rimos, não foi, Lydia?
E apaziguados que reine então
A
serenidade de teu rosto assim colhido
Como
o Universo todo.
E
amemo-nos recatados
Quase
puros e eternos.
E,
quando o arrepio chegar
E
a Sombra vier encontrarão
Apenas
dois corpos enlaçados
E
nós voando, sem glória ou pena,
Sobre
a Nuvem.
Manuel
Veiga
18.04.2021
.....................................................
Nota - Lydia é uma criação literária de Ricardo Reis, cujo "universo poético" (?) no que à Lydia importa, tenho, por vezes, o atrevimento de procurar recriar.
Perdoem-me os meus leitores/as mais exigentes e sensíveis.
15 comentários:
Este é dos poemas que mais me encantaram ler, nos últimos tempos. Leve, claro e cristalino, isento de metáforas pouco entendíveis, como o são todas as metáforas.
Tão belo, suave e encantatório... Adorei!
Um abraço e os meus sinceros Parabéns ao Poeta.
Poema lindíssimo que me fascinou ler.
.
Feliz domingo … abraço poético.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Olá, amigo Manuel, ao ler esse seu belo poema, pus-me a pensar naquele momento inicial da criação, quando o poema está por nascer, aos poucos, ou então quando vem aos borbotões. Por último coloquei-me no seu lugar imaginando (ou sentindo) o momento em que o poema estava ultimado.
A satisfação pela criação da obra deve ter sido imensa.
Parabéns, poeta, uma boa semana.
Grande abraço.
Um abraço de mim, na minha barca, para si e Lydia, Manuel :)
Este poema é mesmo uma festa dos sentidos. Manuel Veiga no seu melhor sentir.
"Colhamos, pois, o instante
E os movimentos da brisa
E a embriaguez da espera
E a espuma verde de teus olhos"
Tão belo! Impossível não se nos pegar à pele.
Muita saúde, meu Amigo.
Uma boa semana.
Um beijo.
Um belíssimo poema que me encantou ler.
Abraço, saúde e boa semana
Olá, Manuel
É ponto assente, aliás, dogmático, que a Inveja é um
dos sete pecados capitais, mas eu, pobre mortal, quase que me
deixo embalar por ela:
Venturosa Lydia que tão belos versos inspira!
A verdade, caro Poeta, é que me comovo sempre com a
excelência da sua Poesia, seja qual for a dedicatória. :)
Um abraço.
Olinda
Que todas as Lydias possam dar 'asa ao sol e soltar o seu trinado'
Me agrada esse cântico.
Parabenizando o poeta mVeiga, deixo abraços
Ah a Lídia...que tão bem recrias! (E me habita as aulas, agora trazida por Saramago...).
Beijo
Boa tarde Manuel,
Simplesmente maravilhoso este poema.
Uma bela e inspiradíssima recriação do poema de Ricardo Reis!
A sua inspiração sempre em crescendo!
Parabéns!
Um beijinho e saúde.
Ailime
MV
a inspiração da Lydia de Ricardo Reis, deu mote ao Poeta para aqui nos deixar um belo poema, que gostei de ler.
boa semana com saúde.
:)
E à Lydia regressas sempre. Como se nela residisse o fascínio e o voo poético. E toda a harmonia do universo.
Não me surpreende, portanto, esse enlace "ad eternum".
Beijo, meu amigo Manuel Veiga.
Um poema de excelência.
Gostei imenso, parabéns pelo talento que este poema (como sempre) revela.
Continuação de boa semana, caro amigo Veiga.
Abraço.
Chegando, lendo e relendo sublime poema, meu amigo Manuel!
Belíssimo! Aconchegante no afeto onde aparece o delicado e sentido momento.
Gostei muito!
Feliz fim de semana que está chegando!
Beijo, amigo.
"Vem, Lydia. No breve declive da tarde
Fiquemos assim abraçados e leves...
Que nos importa a nós o destino das barcas
Que elas partam ou fiquem?"
Ah, meu amigo Manuel, me dá chave da tua inspiração para este enleio tão terno com a Lydia! Não se preocupe, já estou descobrindo que não devo ir adiante, pois este reino interior de onde brota “tanta transpiração” é impenetrável, mas a tua Lydia é sedutora, atordoa meus sentidos!
Um abraço, caro poeta!
Enviar um comentário