O
descuido dos deuses é coisa grave. E grossa.
E
coisa muito feia: “Mas de tal asneira, não me vem
A
mim canseira” – diz o estouvado pardalito
A
luzir a pena. E a distender a asa
Ao
sol de Fevereiro.
Pois
se Bocage – esse safado! – por Circe
Foi
amado – (“não lamentes, ó Circe, o teu estado”)
Filha
de gente boa, que não comia carne
À
Sexta-feira e foi, no seu tempo, como se sabe
A mais frequentada "putisa" de Lisboa
Tudo
visto e ponderado, enfim, por que razão
O
pardalito não haveria de molhar o bico?
Bem
sabendo – militar que fora – o risco
Que
corria de poder ficar torriscado
Com
façanha tamanha …
Porém,
de tal horror, parece estar safo
O
pardalito aziago… E ergue-se, agora, garbo.
E
liso. E larga valente manguito
Para
a Circe e o Sadino que – salta à vista –
De Elmano não tem nada – o coitado!
E
o desabusado pardalito, impante em suas razões
A
evitar confusões e promíscuas comichões
Requer,
em fervor, aos deuses, grã favor :
Que
estes não se façam acanhados
E,
poderosos, soltem, enfim, piedoso flato
Para
deleite em que a donzela se enfeite
Ou
capriche. E proveito do artista
Convidado.
Tudo
isto com muito resguardo
Tudo
muy digno e literário …
E
muito, muito perfume, está claro…
Manuel
Veiga
9 comentários:
Poema sublime, maravilhoso de ler.
.
Saudação poética
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Não falta ironia nem humor neste seu poema. Confesso que gostei muito do pardalito...
Que se cuidem bem, meu Amigo Manuel.
Uma boa semana.
Um beijo.
Fui sorrindo de verso em verso,
e termino com uma saborosa gargalhada.
Oh sadino, tramado e traquino,
És mais Poeta e mais ladino
Do que o maior entre os maiores Poetas
Sabedores da Arte de muito falar.
Não dizendo nada,
Neste mundo muy digno, da Literatura proscrita.
De forma crua e descarada.
Parabéns, Poeta Herético - sempre firme, no seu ar de Profeta do descrédito.
Há muito que não leio nada tão perfumado, impregnado de um subtil aroma de saber inigualável.
Um abraço sincero. :)
Descendo o espirituoso poema do pardalito fui rindo e quanto mais descia, mais sorrisos dava!
Primeiro poema que leio aqui tão repleto de ironia fina, aliás, gosto imensamente!
A página hoje está divertida, olha a bagunça que esse medonho pardalito
está fazendo!! rss
Uma feliz semana, meu amigo. Cuide-se bastante.
Beijo
Muito,muito bom!!
Seu senso de humor mesclado com um sentimento puro ,inspirado tornou esse poema um deleite pra minha leitura. Parabéns!!!
Beijo terno 💋
A sátira dá-te um prazer especial, e a nós também. Não há como negar o teu enorme talento.
Beijos, poeta amigo Manuel Veiga.
Bravo!
Gostei muito de ler esse seu poema, que reflete o talento inquestionável
do Poeta, cuja obra poética tive a oportunidade de ler em parte, aqui nesse espaço.
Meus parabéns, caro amigo Manuel Veiga, um excelente final de semana, cuidando-se. (máscara e distanciamento)
Grande abraço!
MV
ironia e criatividade.
gostei bastante deste trabalho poético.
bom final de semana.
:)
O Poeta sabe da "poda" e pôs-nos
a viver um filme,
uma aventura picaresca.
A gente ri.
Ver esta coisa do saber
de escrita do sadino ladino
não chega para poetar,
não basta, requer também o viver:
subir escadas e descê-las,
sempre de corrimão na mão
para não se perder
Pardalito que não molha
o bico está morto ou foi
frito em perfume de sertã
Abraço, Amigo Manuel Veiga
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